Montadora alemã afasta diretor Thomas Steg após acusações de que companhia patrocinou testes nos quais macacos foram expostos a emissões de poluentes de motores a diesel.
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A montadora alemã Volkswagen afastou nesta terça-feira (30/01) do cargo seu lobista-chefe, Thomas Steg, após ter sido divulgado que a empresa patrocinou a realização de testes nos quais macacos e humanos foram expostos a emissões de poluentes de motores a diesel.
A Volkswagen afirmou que a direção da empresa "aceitou o pedido de licença temporária" de Steg e o retirou de suas funções "até que o ocorrido seja totalmente esclarecido".
"O senhor Steg declarou que assume toda a responsabilidade, e eu respeito isso", afirmou o presidente da Volkswagen, Matthias Müller, segundo o comunicado da empresa.
Müller disse que estão sendo investigados "detalhadamente" os trabalhos realizados pela Associação Europeia de Pesquisa em Meio Ambiente e Saúde no Setor de Transportes (EUGT) – grupo lobista financiado por Volkswagen, BMW e Daimler – para "adotar todas as consequências necessárias".
Na noite de segunda-feira, durante uma recepção com empresários, ele considerou que os testes foram "repugnantes e antiéticos".
Segundo o jornal The New York Times, a EUGT – extinta em 2017 – encomendou em 2014 uma pesquisa nos Estados Unidos na qual macacos, trancados numa sala, inalaram dióxido de nitrogênio (NO2) emitido por um VW Beetle ao longo de quatro horas para verificar os efeitos sobre o sistema respiratório e a circulação sanguínea.
Segundo o jornal alemão Stuttgarter Zeitung, teste semelhante foi realizado com 25 cobaias humanas em Aachen, na Alemanha, em 2013 e 2014. Ao longo de quatro semanas, 19 homens e seis mulheres – todos jovens e saudáveis – foram expostos a diferentes concentrações de dióxido de nitrogênio (NO2) uma vez por semana, por três horas.
Steg declarou nesta terça-feira que os testes em que macacos foram expostos a emissões de diesel para tentar demonstrar que o combustível não é tão nocivo para a saúde não deveriam ter acontecido.
Em entrevista ao jornal alemão Bild, ele relatou que foi informado por e-mail que a EUGT pretendia fazer experiências com humanos. "Respondi que, naturalmente, não podia admitir isso", disse Steg, que afirmou que esse estudo "então não foi realizado".
O gerente acrescentou que, depois de os testes com humanos terem sido rejeitados, em junho de 2013 a EUG decidiu realizar o estudo com macacos e, segundo ele, foram respeitados os padrões científicos internacionais. Steg considerou, no entanto, que "sob a perspectiva atual, o estudo não deveria ter sido executado, mesmo que em diferentes condições".
Ele afirmou que a Volkswagen vai renunciar completamente a experimentos com animais e que a empresa vai localizar os macacos usados no teste para ver como eles estão.
Em relação aos testes feitos com humanos em Aachen, Steg afirmou ao Bild que os voluntários foram expostos a níveis muito menores do que os encontrados em muitos escritórios e que nenhum deles sofreu qualquer dano à saúde.
Steg já trabalhou para o governo alemão, de 2002 a 2009, tendo sido vice-porta-voz dos chanceleres Gerhard Schröder e Angela Merkel. O cargo dele será temporariamente ocupado pelo diretor Jens Hanefeld.
AS/efe/afp/rtr/dpa
Dez coisas que você talvez não saiba sobre a VW
Abalada por recente escândalo de manipulação de emissões, Volkswagen reúne uma série de fatos curiosos em sua trajetória – de Adolf Hitler ao Fusca e aos lucros bilionários.
Foto: picture-alliance/dpa/I. Wagner
Carro popular
Você sabia que Volkswagen (carro popular, em alemão) foi uma ideia de Adolf Hitler, desenvolvida por Ferdinand Porsche, fundador da marca homônima? Em 1938, Hitler chegou a construir uma cidade inteira para abrigar a fábrica e seus trabalhadores nas proximidades de Fallersleben, no estado da Baixa Saxônia. Em 1945, a cidade recebeu o nome de Wolfsburg, onde até hoje se situa a sede da Volks.
Foto: DW/J. Dumalaon
Sucesso mundial
Conhecido na Alemanha como "Käfer" (besouro), o Fusca liderou durante muito tempo a lista dos carros mais vendidos no século 20. Antes de a produção ter sido encerrada em 2003, mais de 21,5 milhões de Fuscas foram vendidos no mundo todo.
Foto: DW/E. Schuhmann
As muitas faces da Volks
A empresa percorreu um longo caminho desde a década de 1930. Atualmente, o Grupo Volkswagen engloba 12 marcas. Os carros da Audi, Bentley, Lamborghini, Porsche e Skoda estão entre as mais comercializadas, respondendo por 37% das vendas de 2014.
Foto: Audi AG
Domínio de mercado
Hoje, a Volkswagen realmente faz jus ao nome "carro popular". Mais de um em cada três carros vendidos na Alemanha é do Grupo Volks, com a montadora detendo uma parcela de 36% do mercado alemão.
Foto: picture-alliance/dpa
Um em cada dez
Mundialmente, mais de 10% de todos os carros vendidos no ano passado levava o símbolo de uma das marcas do Grupo Volkswagen. A companhia vendeu mais de 10,2 milhões de veículos em 2014. Por volta de 70% desse total foi comercializado fora da Alemanha.
Foto: picture-alliance/dpa/Z. Junxiang
EUA: mercado difícil
O cobiçado mercado americano tem mostrado ser uma "pedra no sapato" da montadora alemã. Apenas 6% dos carros produzidos mundialmente pela companhia, por volta de 600 mil, foram vendidos nos EUA no ano passado. Apesar de investimentos imensos, a parcela da Volks nesse disputado mercado gira em torno de 2%, muito atrás de concorrentes como GM, Ford e Toyota.
Foto: picture-alliance/dpa
Primeira posição em jogo?
Em julho, a Volks ultrapassou a Toyota como a maior vendedora de carros do mundo. A montadora alemã também lidera o ranking das montadoras em termos de receitas. Em 2014, a companhia registrou um volume de vendas de 202,5 bilhões de euros. Descontados os impostos, o lucro foi de 11,1 bilhões de euros. Mas, depois do escândalo de emissões, analista alertam para o risco de perda da "pole position".
Foto: picture-alliance/dpa
Empregador global
Até 31 de dezembro de 2014, o grupo empregava aproximadamente 600 mil trabalhadores, tornando-se assim um dos maiores empregadores em todo o mundo. Desses, mais de um terço, cerca de 270 mil empregados, trabalha na Alemanha.
Foto: picture alliance/dpa
Maior indústria alemã
A indústria automobilística é o maior setor da economia alemã, sendo impulsionada pelas chamadas "três grandes": Daimler, BMW e Volks. A indústria emprega cerca de 800 mil trabalhadores, quase 2% da força de trabalho alemã.
Foto: picture-alliance/dpa/B. Weißbrod
Sucesso de exportação
A receita total da indústria automotiva alemã chegou a quase 370 bilhões de euros no ano passado. O setor respondeu por quase um quinto das exportações do país e cerca de 3% do Produto Interno Bruto (PIB) da Alemanha.