Volkswagen é denunciada no Brasil por crimes da ditadura
23 de setembro de 2015
Sindicatos e Comissão da Verdade pedem ao Ministério Público abertura de inquérito sobre atividades da montadora alemã durante o regime militar. Acusação é de que 12 ex-funcionários foram torturados em fábrica.
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Uma série de sindicatos e a Comissão Nacional da Verdade (CNV) entraram com um pedido de abertura de inquérito civil contra a montadora alemã Volkswagen, sob a acusação de violação dos direitos humanos dentro de suas fábricas em São Bernardo do Campo durante a ditadura militar (1964-1985).
A representação protocolada no Ministério Público Federal (MPF) averiguará a responsabilidade da empresa alemã sobre casos relatados de perseguições e torturas que, segundo a denúncia, "configuram crimes contra a humanidade".
A ação judicial, ajuizada na terça-feira (22/09), se baseia em documentos e relatos colhidos pela CNV e afirma que 12 ex-funcionários foram presos e torturados dentro das dependências da Volkswagen, localizadas em São Bernardo do Campo, uma cidade satélite de São Paulo.
Segundo a advogada Rose Cardoso, outros trabalhadores foram demitidos ou colocados em listas negras utilizadas pelos militares. Ela faz do grupo de advogados que coordenou o trabalho de investigação da Comissão Nacional da Verdade, criada em 2012 pela presidente Dilma Rousseff para investigar crimes durante a época da ditadura militar no Brasil.
Em dezembro, um relatório final da Comissão Nacional da Verdade afirmou que subsidiárias alemãs, incluindo a Volkswagen, colaboraram com o regime militar no Brasil por volta de 1972. O relatório revelou a existência de um aparato repressivo militar-empresarial, na qual as firmas monitoravam funcionários, repassando informações e fazendo denúncias ao Departamento de Ordem Política e Social (Dops).
Além disso, indicou empresas que contribuíram moral e financeiramente com o golpe de 1964 e com a Operação Bandeirante (Oban), um aparelho de repressão montado pelo Exército. Várias empresas nacionais e multinacionais são citadas no relatório. Entre as alemãs estão a Volkswagen, Mercedes-Benz e Siemens. As três foram apontadas por contribuir com recursos à Oban.
O documento, no entanto, apresentou com mais detalhes a participação da Volkswagen e sua contribuição com o regime militar: "Sobre a Volkswagen do Brasil, existe ainda uma profusão de documentos que comprovam a cooperação da empresa com órgãos policiais de segurança do Dops."
"A Volkswagen não foi a única empresa envolvida, mas teve um papel de gestão em São Paulo e, até mesmo, coordenou outras companhias", disse Sebastião Neto, do Fórum de Trabalhadores por Verdade, Justiça e Reparação. "Eles me levaram algemado para o departamento de recursos humanos e lá começaram a me torturar", afirmou Lúcio Bellentani, um militante comunista e ex-funcionário da Volkswagen.
A ação judicial contra a montadora alemã ocorre em meio a um escândalo global envolvendo a Volkswagen, que admitiu ter manipulado testes de emissões de poluentes em seus carros no mercado americano.
PV/afp/kna/ots
Exilados durante a ditadura militar
A repressão durante os 21 anos da ditadura no Brasil levou uma série de artistas e líderes políticos a deixar o país em busca de segurança e liberdade. Muitos só retornariam após a Lei da Anistia, promulgada em 1979.
Foto: picture-alliance/AP
Caetano Veloso
Após ter uma série de suas composições censuradas pelo regime militar, em dezembro de 1968 Caetano foi preso com o parceiro Gilberto Gil. Ambos foram acusados de terem desrespeitado o hino nacional e a bandeira do Brasil. Os dois músicos foram soltos apenas em fevereiro do ano seguinte. Depois de liberados da prisão, Caetano e Gil fizeram um show de despedida, em julho de 1969...
Foto: picture alliance
Gilberto Gil
Logo após a apresentação, os dois partiram para o exílio na Inglaterra, acompanhados de suas mulheres. Os dois casais se estabeleceram em Londres, no bairro de Chelsea, e a cidade serviu de inspiração para uma série de composições. A dupla retornaria ao Brasil apenas em 1972.
Foto: picture-alliance/dpa
Chico Buarque
Detido no fim de 1968, o músico foi interrogado sobre suas atividades pessoais e artísticas, consideradas "subversivas" pelo governo da ditadura. Em janeiro de 1969, depois de obter autorização dos militares, Chico seguiu rumo à França para uma apresentação em Cannes. Em seguida, iria para o exílio na Itália, onde passou a viver com a família em Roma.
Foto: picture-alliance/dpa
Ferreira Gullar
Militante do Partido Comunista Brasileiro, o poeta foi preso logo após a assinatura do Ato Institucional nº 5, de dezembro de 1968. Atuando na clandestinidade desde então, somente em 1971 é que Gullar deixou o país. Durante os anos de exílio, passou por Moscou, na Rússia; Santiago, no Chile; Lima, no Peru; e Buenos Aires, na Argentina. Seu retorno ao Brasil aconteceu somente em março de 1977.
Foto: José Olympio Editora/Cristina Lacerda
Fernando Henrique Cardoso
Ameaçado de prisão pelo regime logo após o golpe, Fernando Henrique foi para o Chile com a mulher, Ruth Cardoso. O casal ficou neste país até 1967 e depois seguiu para a França. Um ano mais tarde, FHC retornou ao Brasil para disputar a cátedra de Ciência Política na Universidade de São Paulo (USP). Com a instituição do AI-5, porém, foi aposentado compulsoriamente. Presidiu o Brasil de 1995 a 2002.
Foto: picture-alliance/dpa
Oscar Niemeyer
Membro do Partido Comunista Brasileiro desde 1945, o arquiteto foi perseguido pelo governo após o golpe. Impedido de trabalhar no Brasil, em 1967 seguiu para a França, onde se instalou em Paris, e recebeu autorização de Charles De Gaulle para exercer sua profissão no país. Reconhecido e valorizado no exterior, Niemeyer só voltou para o Brasil no início da década de 1980.
Foto: AP
Glauber Rocha
O aumento da repressão durante a ditadura fez com que o cineasta partisse para o exílio em 1971. Durante a temporada fora do Brasil – que duraria cinco anos –, Rocha passou por diversos países da América Latina, Europa e nos EUA. Executou uma série de projetos no período em que ficou no exterior e retornou ao Brasil apenas em 1976.
Foto: Filmmuseum Düsseldorf
Fernando Gabeira
No final dos anos 1960, o jornalista e ex-deputado ingressou na luta armada contra a ditadura militar, tendo participado do sequestro do embaixador americano Charles Elbrick. Foi preso e, depois de ser libertado, partiu para o exílio. Durante este tempo, passou por Chile, Suécia e Itália. Ficou dez anos fora do Brasil. Retornou com a anistia, no fim de 1979.
Foto: Getty Images
Augusto Boal
A entrada em vigor do AI-5 fez com que o dramaturgo deixasse o país com o Teatro Arena, em uma excursão de um ano, entre 1969 e 1970, por EUA, México, Argentina e Peru. Quando voltou ao Brasil, foi preso e torturado e decidiu seguir para a Argentina. Boal passaria ainda por uma série de outros países antes de voltar ao Brasil, em 1984.
Foto: CC-BY-SA-Thehero
Leonel Brizola
Após tentar organizar – sem sucesso – uma resistência ao golpe, o deputado deixou o Brasil ainda em 1964 para viver no Uruguai. Depois do país latino-americano, ele ainda passou pelos EUA e por Portugal. Seu retorno ao Brasil só aconteceria mais de dez anos depois: Brizola só voltou em 1979, após a anistia.