Volkswagen estuda reparação por colaborar com a ditadura
2 de novembro de 2015
Segundo ação apresentada ao MPF , montadora alemã teria colaborado com ditadura militar brasileira na repressão à oposição. Dirigente da empresa afirma que memorial e pedido de desculpas oficial são possibilidades.
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O Grupo Volkswagen quer assumir a responsabilidade por uma possível colaboração com a ditadura militar no Brasil. "Trata-se de lidar com a injustiça que aconteceu naquela época", disse Manfred Grieger, diretor do departamento de Comunicação Histórica do conglomerado, à agência de notícias alemã DPA nesta segunda-feira (02/11).
Grieger participou de encontro na sede do Ministério Público Federal (MPF) no último dia 14 de outubro. Segundo reportagem do Estado de São Paulo deste domingo, o dirigente da Volkswagen afirmou por e-mail que a montadora alemã busca um acordo com o MPF, o qual baseia sua ação em investigações conduzidas pela Comissão Nacional da Verdade (CNV).
Grieger diz que o encontro foi o início de uma discussão sobre um acordo. "Uma ideia é talvez desenvolver um conceito de memorial em conjunto com outras instituições brasileiras, como sindicatos, e colocá-lo em prática", declarou ao Estado de São Paulo.
Em setembro deste ano, uma série de sindicatos e a CNV entraram no MPF com um pedido de abertura de inquérito civil contra a Volkswagen, sob a acusação de violação dos direitos humanos dentro de suas fábricas em São Bernardo do Campo entre 1964 e 1985.
Com base em documentos e relatos colhidos pela CNV, a ação judicial afirma que 12 ex-funcionários foram presos e torturados dentre das dependências da Volks na cidade paulista. A representação protocolada no MPF averigua a responsabilidade da empresa alemã.
O Estado de São Paulo afirma que a Volkswagen é a "primeira empresa a negociar uma reparação judicialmente por ter financiado ou participado ativamente da repressão à oposição política e ao movimento operário durante a ditadura militar no Brasil". No entanto, Grieger desmentiu à DPA uma oferta de negociações sobre reparações.
Segundo o diretor, ainda não houve avanço sobre uma reparação coletiva pedida por alguns, porque ainda não está claro como ela poderia ser configurada. Grieger afirma que ainda são necessárias mais conversas com as vítimas e que um pedido de desculpas oficial da Volkswagen também está sendo cogitado. O representante da montadora afirmou que novas conversas estão previstas para o início de 2016.
Grieger reúne desde 2004 informações e documentos sobre as acusações de apoio da empresa à ditadura militar no Brasil. Além do diretor e de Pedro Antônio de Oliveira Machado, procurador regional dos Direitos do Cidadão do MPF, sindicalistas, pesquisadores e algumas das vítimas participaram da reunião na sede do MPF em outubro.
A Volkswagen atua no Brasil desde 1953 e emprega hoje cerca de 20 mil pessoas no país.
LPF/dpa/afp/ots
Dez coisas que você talvez não saiba sobre a VW
Abalada por recente escândalo de manipulação de emissões, Volkswagen reúne uma série de fatos curiosos em sua trajetória – de Adolf Hitler ao Fusca e aos lucros bilionários.
Foto: picture-alliance/dpa/I. Wagner
Carro popular
Você sabia que Volkswagen (carro popular, em alemão) foi uma ideia de Adolf Hitler, desenvolvida por Ferdinand Porsche, fundador da marca homônima? Em 1938, Hitler chegou a construir uma cidade inteira para abrigar a fábrica e seus trabalhadores nas proximidades de Fallersleben, no estado da Baixa Saxônia. Em 1945, a cidade recebeu o nome de Wolfsburg, onde até hoje se situa a sede da Volks.
Foto: DW/J. Dumalaon
Sucesso mundial
Conhecido na Alemanha como "Käfer" (besouro), o Fusca liderou durante muito tempo a lista dos carros mais vendidos no século 20. Antes de a produção ter sido encerrada em 2003, mais de 21,5 milhões de Fuscas foram vendidos no mundo todo.
Foto: DW/E. Schuhmann
As muitas faces da Volks
A empresa percorreu um longo caminho desde a década de 1930. Atualmente, o Grupo Volkswagen engloba 12 marcas. Os carros da Audi, Bentley, Lamborghini, Porsche e Skoda estão entre as mais comercializadas, respondendo por 37% das vendas de 2014.
Foto: Audi AG
Domínio de mercado
Hoje, a Volkswagen realmente faz jus ao nome "carro popular". Mais de um em cada três carros vendidos na Alemanha é do Grupo Volks, com a montadora detendo uma parcela de 36% do mercado alemão.
Foto: picture-alliance/dpa
Um em cada dez
Mundialmente, mais de 10% de todos os carros vendidos no ano passado levava o símbolo de uma das marcas do Grupo Volkswagen. A companhia vendeu mais de 10,2 milhões de veículos em 2014. Por volta de 70% desse total foi comercializado fora da Alemanha.
Foto: picture-alliance/dpa/Z. Junxiang
EUA: mercado difícil
O cobiçado mercado americano tem mostrado ser uma "pedra no sapato" da montadora alemã. Apenas 6% dos carros produzidos mundialmente pela companhia, por volta de 600 mil, foram vendidos nos EUA no ano passado. Apesar de investimentos imensos, a parcela da Volks nesse disputado mercado gira em torno de 2%, muito atrás de concorrentes como GM, Ford e Toyota.
Foto: picture-alliance/dpa
Primeira posição em jogo?
Em julho, a Volks ultrapassou a Toyota como a maior vendedora de carros do mundo. A montadora alemã também lidera o ranking das montadoras em termos de receitas. Em 2014, a companhia registrou um volume de vendas de 202,5 bilhões de euros. Descontados os impostos, o lucro foi de 11,1 bilhões de euros. Mas, depois do escândalo de emissões, analista alertam para o risco de perda da "pole position".
Foto: picture-alliance/dpa
Empregador global
Até 31 de dezembro de 2014, o grupo empregava aproximadamente 600 mil trabalhadores, tornando-se assim um dos maiores empregadores em todo o mundo. Desses, mais de um terço, cerca de 270 mil empregados, trabalha na Alemanha.
Foto: picture alliance/dpa
Maior indústria alemã
A indústria automobilística é o maior setor da economia alemã, sendo impulsionada pelas chamadas "três grandes": Daimler, BMW e Volks. A indústria emprega cerca de 800 mil trabalhadores, quase 2% da força de trabalho alemã.
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Sucesso de exportação
A receita total da indústria automotiva alemã chegou a quase 370 bilhões de euros no ano passado. O setor respondeu por quase um quinto das exportações do país e cerca de 3% do Produto Interno Bruto (PIB) da Alemanha.