Volta da França completa 100 anos entre escândalos e histórias divertidas
29 de junho de 2013"Participar durante três semanas da Volta da França sem se dopar não é saudável", afirmou Stefan Schumacher há poucos dias perante a Justiça. O ciclista profissional alemão é acusado de fraude. Já há bastante tempo, a tradicional Volta da França não consegue se livrar da sombra do doping.
Pouco antes da largada da centésima edição, o jornal esportivo francês L'Équipe informou que o ex-campeão mundial de contra-relógio Laurent Jalabert, que goza de grande popularidade em seu país, foi testado positivamente para o hormônio EPO no Tour de France de 1998. Na ocasião, depois do escândalo de doping envolvendo a equipe Festina, a competição estava prestes a ser cancelada.
Desde a estreia do Tour de France, em 1903, três campeões na classificação geral perderam seus títulos por doping: o norte-americano Floyd Landis em 2006, o espanhol Alberto Contador em 2010 e, recentemente, Lance Armstrong dos EUA, que perdeu todos os sete títulos entre 1999 e 2005. Nesta semana, em entrevista ao jornal francês Le Monde, Lance Armstrong afirmou que "vencer a Volta da França sem se dopar é impossível".
Comprimidos explosivos
No entanto, a história do doping não é recente no Tour de France. Já em 1924, o vencedor do ano anterior, o francês Henri Pélissier, anunciava que os ciclistas ingeriam "coisa perigosa" para aliviar o sofrimento do Tour: cocaína, clorofórmio e comprimidos denominados de "dinamite". No entanto, passaram-se mais de 40 anos até o primeiro controle oficial de doping na Volta da França.
Como consequência da ação surpresa, os ciclistas entraram em greve em 1966. Eles só continuaram a prova após o diretor do Tour ter assegurado que tais controles surpresas não iriam mais se repetir. Em 1967, o britânico Tom Simpson desmaiou na lendária subida do Monte Ventoux, morrendo pouco tempo depois. O ex-campeão mundial estava completamente dopado com anfetamina – e também com álcool.
Na direção errada
Já o primeiro vencedor do Tour, o francês Maurice Garin, recorria frequentemente à garrafa de vinho tinto na estreia da prova em 1903. Em 1950, Abdel-Kader Zaaf também demonstrou ser bom de copo. Após ter curado a bebedeira à sombra de uma árvore, o argelino subiu na bicicleta e tomou a direção errada, de volta ao ponto de largada.
Devido a histórias como essa, os entusiastas do ciclismo adoram o Tour de France. O francês Eugène Christophe é lembrado até hoje, mas como azarento. Após ter ultrapassado o Passo de Tourmalet na primeira posição, em 1913, a forquilha da roda dianteira quebrou na descida. Christophe carregou sua bicicleta por 14 quilômetros até o ferreiro de um vilarejo, onde ele mesmo consertou o dano. Mesmo assim, ele sofreu penalidade por ter recebido ajuda alheia: um menino do vilarejo havia operado o fole de ferreiro.
Primeira caravana de publicidade
Um redator do jornal esportivo L'Auto teve a ideia da Volta da França. A partir de 1903, a prova de ciclismo entusiasmou os fãs e garantiu recordes de tiragem para o jornal. O editor-chefe Henri Desgrange, que também havia sido um ciclista de sucesso, chefiou até 1936 não somente o sucesso esportivo da prova.
Em 1930, Desgrange enviou uma caravana publicitária antes dos ciclistas para divulgar os patrocinadores do Tour. Hoje, o orçamento da Volta da França é estimado em cerca de 100 milhões de euros. A Volta da França é considerada o terceiro maior evento esportivo do mundo, depois dos Jogos Olímpicos e da Copa do Mundo.
Pegando o trem
A prova de ciclismo ganhou a denominação "Tour das Dores" já em seus primeiros dias. Em 1903, com 467 quilômetros de extensão, a primeira etapa de Paris até Lyon era duas vezes mais longa do que a média diária percorrida atualmente pelos ciclistas. Os ciclistas também pedalavam à noite.
Em 1911, os participantes foram enviados pela primeira vez para as montanhas, passando pelos passos dos Pirineus, que na época ainda eram de cascalho. Desde então também existe o "vagão da vassoura" (La voiture balai), que "resgata" todos os ciclistas que não conseguiram superar os rigores do Tour.
O primeiro escândalo da Volta da França aconteceu já em sua segunda edição, em 1904: ciclistas foram desclassificados, porque foram puxados por automóveis ou porque viajaram de trem durante a noite. Hoje, tais delitos da Volta da França parecem quase dignos de perdão se comparados com as fraudes que os escândalos de doping revelaram desde 1998.