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História refeita

27 de julho de 2009

Trabalho de recuperação dos documentos do Arquivo Histórico de Colônia é intenso e envolve tanto especialistas como voluntários sem conhecimento técnico.

Documentos retirados dos escombros do prédioFoto: DW

O Arquivo Histórico de Colônia era um dos acervos documentais mais importantes da Alemanha: seu conteúdo ocupava 30 quilômetros de estantes, que cresciam a uma média de 300 metros por ano. São séculos de história impressos em papel, grande parte deles hoje reduzidos a pedaços não identificáveis.

Em 3 de março de 2009, o edifício que abrigava o arquivo veio abaixo – é provável que obras numa linha de metrô tenham provocado o desmoronamento, que levou outros dois imóveis consigo. Duas pessoas morreram. Atas, editais com a assinatura de Napoleão, livros antigos, mapas, planos, cartazes e parte do legado de intelectuais célebres como Heinrich Böll, Jacques Offenbach, Karl Marx e Friedrich Engels foram sepultados sob os escombros.

Trabalho exige cuidado e dedicaçãoFoto: DW

Primeiros cuidados

Desde então uma equipe trabalha para resgatar todos os documentos possíveis. No assim chamado Centro de Primeiros Socorros, tudo o que é encontrado recebe um tratamento inicial: limpeza, secagem e, na medida do possível, catalogação.

Nos períodos de atividade máxima trabalham no local aproximadamente 120 pessoas. A maioria são voluntários e nem sempre se trata de pessoal qualificado: muito são cidadãos comuns com vontade de ajudar.

"Agradecemos qualquer tipo de apoio. Tire um dia de férias, um final de semana ou mais tempo para contribuir com a conservação de nossos documentos", apela Bettina Schmidt Czaia, diretora do Arquivo Municipal.

No Centro de Primeiros Socorros, cada ajudante recebe uma caixa cheia de papéis e um pincel para remover o pó. Se o voluntário é capaz de identificar a procedência ou o tipo de documento que tem nas mãos, faz a primeira seleção. Tudo o que é inclassificável por não-especialistas passa para o pacote seguinte.

Pedaços são selecionados e separados em caixasFoto: DW


História em pedaços

Mas nem todos os documentos foram recolhidos em pedaços. Oitenta paletes repletas de papéis em bom estado enchem uma das salas do Centro de Primeiros Socorros. Úmidos, sujos, amassados ou dobrados, mas inteiros. Em vez de ajudantes, quem se encarrega de cuidar desses documentos são os restauradores de papel.

Mais de 100 mil mapas e planos e cerca de 50 mil cartazes de tamanho grande faziam parte do acervo Arquivo Municipal de Colônia.

A equipe de restauradores do Centro de Primeiros Socorros é composta por 30 a 50 pessoas, dependendo do momento. Especialistas de todo o mundo já passaram pelo local, muitos são de Colônia e região – e a maioria é voluntária.

Reno e umidade

Colônia é uma cidade dividida em duas partes pelo Reno. O rio é o orgulho da cidade e uma de suas belezas, mas também é o motivo pelo qual existe água a poucos metros do subsolo. Muitos dos documentos resgatados estavam molhados.

A primeira secagem acontece na rua Saverin, onde estava localizado o arquivo. O conteúdo só chega ao Centro de Primeiros Socorros quando está quase seco. O centro conta com quatro salas equipadas com desumidificadores industriais. Lá os documentos ficam em carrinhos parecidos com os de supermercado até que fiquem definitivamente secos.

Voluntários e experts ajudam na recuperaçãoFoto: DW


O vazio na rua Severin

"Quando se está aqui, nesse buraco gigantesco em que o arquivo se transformou, nas primeiras noites trabalhando ao lado dos bombeiros e com as equipes de resgate, não dá para verificar se o que cai na sua mão é um documento importante ou não. Pode ser uma preciosidade ou uma ata qualquer que parece o mesmo. Nesses momentos, trata-se de salvar tudo o que seja possível, e o mais rápido possível", conta a restauradora Imke Henningsen.

Depois dos turnos iniciais de emergência, Henningsen abandonou a rua Severin, lugar do acidente, para trabalhar no Centro de Primeiros Socorros. "Eu também tenho lido essas porcentagens que aparecem na imprensa que falam que já foram resgatados 70%, 80% ou 85% do acervo documental. Mas o certo é que ninguém sabe precisar o quanto conseguimos salvar. Ninguém sabe o quanto está debaixo dos escombros", disse.

O trabalho de manuseio dos documentos de formatos maiores é feito em equipe: eles são sempre transportados por duas pessoas. É preciso muito cuidado para não dobrá-los, não parti-los, para não provocar mais danos além dos que já sofreram.

Onze mil toneladas de escombros foram retirados até agora pelos bombeiros do local de desabamento do arquivo. Os documentos chegam ao Centro de Primeiros Socorros cobertos por um pó muito alcalino, que deve ser retirado de imediato para não provocar danos. No centro não são aplicados procedimentos altamente técnicos: um pincel de pêlo de cabra basta para a limpeza a seco do papel.

Os documentos delicados e os pergaminhos são envoltos por um papel de seda e ficam armazenados provisoriamente em caixas especiais. Os selos de cera extremamente frágeis que aparecem em muitos pergaminhos são conservados em sacos especiais que lhes garantam proteção.

Documentos ficam em carrinhos até estarem secosFoto: DW


Trabalho voluntário

Ter muito cuidado é a primeira premissa na hora de realizar este trabalho, diz a restauradora de papéis Johanna Friesmarkiewicz, que trabalha para a Biblioteca Nacional de Estocolmo. Ela e outros três companheiros colaboram como voluntários no arquivo. "Viemos para ajudar, mas também estamos aprendendo muito", conta.

"Estamos muito contentes de estar aqui. A organização é magnífica e o trabalho é muito interessante, nos alegramos por poder dar uma mão", diz a restauradora sueca.

"Este é um exemplo claro", diz Anne Pelikan, enquanto contempla algumas plantas arquitetônicas, referindo-se ao estado dos documentos que chegam ao Centro de Primeiros Socorros. "Veja, estão dobrados, cheios de pedrinhas, de areia... este aqui tem um corte... mas outros se encontram em bom estado. É um exemplo claro dos danos imprevisíveis que esses acidentes ocasionam."

Pelikan trabalhou durante anos na conservação de papéis na Biblioteca Nacional de Boston, nos Estados Unidos. Hoje ela é professora e, quando soube do acidente, se apresentou como voluntária para os trabalhos de restauração. Ela lamenta poder ficar somente três semanas – seus alunos a esperam. "Estou muito contente por estar aqui", conta.

Caixas numeradas são armazenadas até que documentos sejam restauradosFoto: DW

De volta às estantes

Uma vez limpos e secos, os documentos são guardados em caixas. Cada uma delas recebe um número e seu conteúdo fica registrado num banco de dados digital. Colocados sobre paletes, os pacotes são embalados e enviados a diferentes pontos do país.

Atualmente, existem 40 estações de armazenamento: bibliotecas e arquivos que vão de Colônia a Hamburgo e que dedicaram espaço a esse acervo. Lá permanecerão até que os restauradores os abram e comecem os definitivos trabalhos de reconstituição.

Autora: Luna Bolívar Manaut
Revisão: Alexandre Schossler

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