Voo MH370: 10 anos depois, famílias ainda aguardam respostas
Tommy Walker em Bangkok
8 de março de 2024
Há dez anos, o Boeing 777 da Malaysia Airlines desaparecia no Oceano Índico. Famílias dos passageiros ainda buscam desfecho para o caso, que permanece um dos maiores mistérios da aviação mundial.
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Esse é um dos maiores mistérios da aviação mundial. Em 8 de março de 2014, um Boeing 777, o voo MH370, da Malaysia Airlines, desapareceu com 239 pessoas a bordo. O avião deixou Kuala Lumpur com destino a Pequim, mas menos de uma hora após a decolagem, o voo desapareceu do radar.
A última comunicação do avião foi feita pelo piloto Zaharie Ahmad Shah, que se despediu após deixar o espaço aéreo da Malásia.
Após anos e anos de buscas, o avião nunca foi encontrado. Um relatório de 2018 concluiu que o transponder de comunicação do avião foi desligado manualmente logo após a última comunicação do piloto. O avião abandonou a rota inicial, virando para oeste de sua trajetória de voo pretendida, sobre o norte da Malásia.
Ele foi visto pela última vez em um radar militar sobre o Estreito de Malaca, na costa sudoeste da Tailândia. Mais tarde, as autoridades malaias disseram que o avião havia sido desviado deliberadamente.
Desde então, a maior evidência física foi uma peça chamada de flaperon, um pedaço da asa, que em 2015, 16 meses após o sumiço do avião, apareceu na costa da Ilha da Reunião, no Oceano Índico, próxima de Madagascar.
Um pedaço da asa também foi encontrado na Ilha de Pemba, na costa leste da Tanzânia. Outros pedaços menores de destroços foram encontrados em Madagascar, Ilhas Maurício e África do Sul.
Apesar de três investigações oficiais e buscas extensivas no Oceano Índico usando sonares e veículos subaquáticos, o que aconteceu com o MH370 continua sendo um mistério. Em outubro de 2017, os investigadores australianos divulgaram um relatório final afirmando que foi uma "grande tragédia", fato que provocou frustração nas famílias das vítimas. Em 2018, uma busca realizada por uma empresa particular de exploração do fundo do mar dos EUA, a Ocean Infinity, também não teve sucesso nas buscas.
As famílias ainda buscam um desfecho
O governo da Malásia disse recentemente que pode iniciar uma nova busca se surgirem novas evidências do que aconteceu com o avião desaparecido. A Ocean Infinity indicou que estaria disposta a liderar uma nova busca em uma base "só receberemos, se encontrarmos algo".
Os familiares acataram bem a ideia.
K.S. Narendran disse à DW que houve "muitos momentos difíceis" desde que a sua esposa, Chandrika, embarcou no avião desaparecido.
"Eu considero bem-vinda a proposta do governo da Malásia, em termos de busca e de como pretende apoiar", disse Narendran à DW de Chennai, na Índia. Ele acrescentou que espera que o governo e a Ocean Infinity cheguem a um rápido acordo sobre uma nova busca.
Narendran publicou um livro em 2018 sobre como as famílias do MH370 estão lidando com a perda de seus entes queridos: Life After MH370: Journeying Through a Void. (em tradução literal: Vida após o MH370: Viajando no vácuo)
A maioria dos passageiros do voo MH370 era de nacionalidade chinesa e, agora, dezenas de seus parentes na China lutam por uma indenização.
As audiências judiciais em Pequim começaram em novembro de 2023. Mais de 40 familiares das vítimas reivindicam cerca de 11,2 milhões de dólares de indenização da Malaysian Airlines, da Boeing, da fabricante de motores Rolls-Royce, entre outras.
Mais de cem outros familiares das vítimas já chegaram a acordos de indenização, que variam entre 300.000 e 400.000 dólares, de acordo com relatos da mídia estatal chinesa.
O pai de Nicolette Gomes, Patrick, era supervisor da tripulação de cabine do MH370.
"Nem em nossos piores pesadelos poderíamos imaginar que isso aconteceria com alguém da família. Ainda é difícil, as lembranças do ocorrido permanecem, e ainda pensamos nele todos os dias e ele ainda está muito presente em nossas vidas", disse ela à DW da Malásia.
"Apesar de já ter se passado 10 anos, parece muito recente para nós. Fico muito emocionada quando penso no acidente. Espero que o governo cumpra sua palavra e que todos nós tenhamos um desfecho para o caso em breve", diz Nicolette Gomes.
"É claro que sabemos que há a possibilidade de não termos novas informações tão cedo, pode ser que saibamos algo novo este ano, ou no ano que vem, ou em cinco anos, mas rezamos para que a busca seja bem-sucedida. A única coisa que podemos fazer é rezar. O dia 8 de março é um dia muito triste para todos nós", acrescentou Nicolette Gomes.
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O MH370 ainda pode ser encontrado?
Jeff Wise, jornalista especialista em ciência e aviação, que produz o podcast Deep Dive:MH370 (Mergulho profundo: MH370), diz à DW que realizar uma nova busca no sul do Oceano Índico seria um "delírio".
"Não há evidência de que o avião tenha ido para o sul. Reiniciar a busca é apenas uma demonstração de que as autoridades não entenderam o que aconteceu", diz ele.
Wise estava se referindo aos dados da "Inmarsat", de uma empresa britânica de telecomunicações por satélite, que registrou sinais automatizados transmitidos de seus satélites para o MH370, o que sugere que o avião voou por várias horas antes de terminar em algum lugar ao sul do Oceano Índico.
Mas Wise, que acompanhou de perto o desaparecimento desde o início, afirma que as autoridades não analisaram os dados minuciosamente e estão baseando suas suposições em uma interpretação incompleta.
"Eles não questionaram nenhum outro aspecto do caso. Eles deram uma olhada bem superficial", acredita Wise.
Wise disse que as cracas no pedaço de destroços do MH370, encontrado na Ilha da Reunião em 2015, podem fornecer melhores pistas sobre como os destroços foram parar no mar.
Vida marinha pode ajudar nas investigações
As cracas crescem de forma diferente, dependendo do tempo em que o objeto ficou submerso e da temperatura da água.
Saber há quanto tempo uma craca está presa a um objeto e a temperatura em que ela cresceu pode fornecer pistas para restringir uma área de busca.
Um estudo publicado, em agosto de 2023, na revista científica AGU, apresentou novos métodos que podem ser usados para analisar dados de cracas para determinar caminhos de objetos a deriva no oceano e que podem ser aplicados para localizar o MH370.
"Eu gostaria que a vida marinha que cresce nesses destroços fosse observada. Precisamos pensar nesse caso de uma perspectiva diferente", acredita Wise.
O mistério do voo MH370
Já se passou mais de um ano desde que o jato da Malaysia Airlines desapareceu, abrindo uma discussão sobre a segurança da aviação global. A DW reuniu os momentos mais importantes sobre as buscas pela aeronave.
Foto: Reuters/Zinfos974/P. Bigot
Decolagem
No dia 8 de março, o voo MH370 da Malaysia Airlines com destino a Pequim decolou à 00h41 do aeroporto internacional Kuala Lumpur, na Malásia, com 239 passageiros a bordo. Após 26 minutos da decolagem, o sistema Acars, responsável por enviar informações cruciais sobre a condição da aeronave, foi desligado.
Foto: picture-alliance/dpa
Últimas palavras
Minutos após o Boeing 777 sair do espaço aéreo da Malásia e entrar no território do Vietnã, alguém da cabine do piloto disse: “Boa noite, Malaysia três, sete, zero”. A companhia aérea acredita que era o co-piloto Fariq Abdul Hamid. A aeronave voava com boas condições do tempo.
Foto: picture-alliance/dpa
Fora do radar
O avião desapareceu das telas do controle aéreo civil quando o equipamento que transmite a localização e altitude foi desligado à 1h31 da madrugada. Quando um radar militar identificou aeronave às 2h15, ela estava localizada em um ponto ao sul da ilha de Phuket no estreito de Malaca, a centenas de quilômetros fora da rota.
Foto: picture-alliance/dpa
Sete horas mais tarde
A última comunicação da aeronave com satélites, sete horas mais tarde, a localizava em algum lugar em uma das duas regiões: a primeira, ao norte que se estende da Tailândia até a fronteira do Cazaquistão e do Turcomenistão, ou ao sul, numa área que vai da Indonésia ao sul do Oceano Índico. O último sinal foi recebido às 8h11, sugerindo que o avião pode ter continuado a voar por horas.
Foto: NASA/dpa
Começa a busca
Pouco tempo após o desaparecimento, Malásia e Vietnã organizam juntos uma missão de busca. A área de procura logo foi expandida, cobrindo parte do golfo da Tailândia, entre Malásia e Vietnã. Verificou-se também que dois passageiros usavam passaportes roubados da UE, alimentando temores de um ataque terrorista. Mais tarde, a polícia descobriu que os homens eram imigrantes ilegais iranianos.
Foto: reuters
Mar de destroços
Até 12 de março, a área de busca atingiu ambos os lados da península da Malásia, o que totaliza uma área com cerca de 90 mil quilômetros quadrados. No total, 12 países participaram da operação de busca. Um satélite chinês localizou três grandes objetos flutuando no Mar do Sul da China que poderiam ser destroços da aeronave desaparecida.
Foto: picture alliance/AP Photo
"Ação deliberada"
Dois dias após, o primeiro-ministro da Malásia, Najib Razak, (à direita na foto) confirma que o avião desviou da rota planejada, com movimentos que "sustentariam a tese de uma ação deliberada por alguém do avião". Autoridades iniciaram uma investigação criminal, levantando identidades e antecedentes da tripulação e dos passageiros. As casas do comandante e do co-piloto foram revistadas.
Foto: Reuters
Nova fase das buscas
Onze dias após o incidente, o número de países envolvidos na operação de busca cresce de 14 para 26 países. Os investigadores focam em duas grandes áreas que o avião poderia ter sobrevoado. A área de busca agora já cobre 2,24 milhões de milhas náuticas quadradas.
Foto: Reuters
Procurando um motivo
Funcionários apresentaram um novo cronograma, mostrando que a última transmissão de voz do avião ocorreu antes do corte do sistema de comunicação. Foram investigadas as possibilidades de sequestro, sabotagem ou suicídio do piloto. Mas investigações sobre os passageiros não conseguem apontar motivos que indicassem motivação política ou criminosa para derrubar o avião ou sequestrá-lo.
Foto: picture-alliance/dpa
Espera dolorosa
Teorias conflitantes surgem para tentar explicar o incidente. Mas sem achar os destroços, fica difícil apurar os fatos. Isso prolongou a dolorosa espera dos familiares e amigos dos desaparecidos. No avião, havia passageiros de 14 países diferentes, a maioria vinha da China (153) e da Malásia (38).
Foto: Reuters
Parentes dos passageiros protestam
Em 24 de março, o primeiro-ministro Naib Razak anuncia que, de acordo com dados de satélites, o voo MH370 caiu ao sul do Oceano Índico. A declaração desencadeou uma tempestade de tristeza e raiva dos familiares das vítimas. Parentes irritados protestaram em frente à embaixada da Malásia em Pequim e e queixaram de falta de informações confiáveis.
Foto: Reuters
Frustração
Por vezes, as buscas davam motivos para frustração, como quando objetos dados como parte do avião eram, na verdade, só lixo. As buscas se tornaram um desperdício de tempo. Alguns objetos rastreados na água eram só redes de pescas enroscadas, bóias ou pedaços de geladeiras de isopor.
Foto: Reuters
Mistério sem solução
Em 3 de abril, quase um mês após o sumiço, as autoridades continuaram perplexas. O premier Najib Razak disse que a busca não será interrompida até que as respostas sejam encontradas, o primeiro-ministro australiano, Tony Abbott, descreveu o caso como “o mais difícil na história da humanidade”.
Foto: picture-alliance/dpa
Sinal detectado
Em 5 de abril, um navio chinês detectou um sinal pulsante no Oceano Índico. Dois dias depois, um navio australiano identifica dois sinais distintos, um de longa duração e outro que parece contínuo, como os sinais de caixas pretas de aeronaves. A equipe internacional percorre cerca de 850 quilômetros quadrados do Oceano Índico por semanas, mas não consegue encontrar evidências.
Foto: picture-alliance/dpa
Austrália move buscas mais para o sul
Em outubro, a Austrália move a área de busca mais para o sul, onde a empresa de satélite britânica Immarsat calculou o possível local da queda do avião com base em breves conexões que o avião fez com um dos satélites. A área fica ao oeste de Perth, na Austrália. O local é identificado como um dos mais prováveis para se achar o avião. Mas nada é encontrado.
Foto: atsb.gov.au
Malásia declara ocorrido como acidente
No final de janeiro de 2015, o departamento de aviação civil da Malásia declarou oficialmente que o voo foi um acidente e que todas as pessoas a bordo eram dadas como mortas. O anúncio foi feito de acordo com as regras da aviação global, que permite que as famílias dos passageiros tentem uma indenização.
Foto: Roslan Rahman/AFP/Getty Images
"Desculpa conveniente"
No entanto, alguns familiares dos passageiros do voo MH370 se recusaram a aceitar a conclusão da Malásia. Pouco depois, Sarah Bajac, cujo o parceiro Philip Wood estava na aeronave, disse à DW que isso era uma “desculpa conveniente”, argumentando que nenhuma evidência foi encontrada para apoiar a alegação das autoridades.
Foto: privat
Novas regras de aviação
No esforço para melhorar a segurança dos voos após o desaparecimento do MH370, a Organização de Aviação Civil Internacional propôs recentemente uma nova medida que exige a confirmação da posição de aeronaves comerciais a cada 15 minutos. Essa orientação é a primeira etapa de uma proposta que visa assegurar que os aviões possam ser rastreados com rapidez.
Foto: Getty Images
Busca complicada
As equipes de busca encontraram muitos desafios. Alguns deles associados com a área de busca. O afastamento e o tamanho da área exigiram que todos os aspectos da operação fossem planejados e executados meticulosamente. Em comparação com outros acidentes aéreos, a operação de busca do MH 370 foi a mais cara da história.
Foto: cc-by/ATSB/Photo by Chris Beerens/RAN
Nova pista
Mais de um ano após o desaparecimento do voo, investigadores se dirigiram à Ilha da Reunião, no Oceano Índico, para determinar se o destroço de um avião levado até as margens é parte do Boeing 777-200 da Malaysia Airlines. O destroço de aproximadamente dois metros de comprimento, que parece ser parte de uma asa, foi encontrado em Saint-André, na costa leste da ilha.