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Vostok 2022: os amigos da Rússia mostram suas armas

Andreas Noll
31 de agosto de 2022

Apesar de ostentar apenas um sexto do contingente de 2018, manobra "Leste 2022" se destaca por presença de países parceiros de Moscou. Mais do que um grande show militar, trata-se de uma mensagem para o Ocidente.

Tropas em formação em área descampada, bandeiras nacionais enfileiradas
Exercícios militares na região de Primorsky já estão em cursoFoto: Russian Defence Ministry/REUTERS

Após semanas de preparativos, Moscou deu o sinal de partida para a manobra Vostok 2022 (Leste 2022): até 5 de setembro, Aeronáutica e tropas de paraquedistas, entre outros, demonstrarão sua prontidão ao combate em 13 locais de exercício na Rússia. Os treinamentos transcorrem na Sibéria, Extremo Oriente e nos mares de Okhotsk e do Japão.

Embora o governo não tenha divulgado o número exato dos participantes, a manobra deverá contar com mais de 50 mil soldados, 140 aeronaves e 60 navios de guerra. Portanto será bem menor do que o Vostok 2018, quando reuniu 300 mil soldados, um recorde desde o fim da Guerra Fria.

Um dos fatores que mais despertam atenção internacional desta vez é participação anunciada de diversas nações parceiras. A mensagem destinada ao Ocidente é clara: a Rússia segue tendo aliados fortes e estreitos, e é capaz de uma grande manobra, mesmo com tantos militares mobilizados para a Ucrânia.

China: de rivais a parceiras

A China é a parceira mais poderosa no Vostok 2022, tendo enviado milhares de soldados, enfatizando assim sua solidariedade com a Rússia, como fizera quatro anos atrás. Embora considerados por muito tempo concorrentes estratégicos, os chineses foram integrados em todos os níveis da manobra. Nos anos anteriores, Moscou apostara sobretudo em aliados que haviam estado sob seu controle direto durante a época soviética.

Pequim não viu na agressão russa contra a Ucrânia um motivo para cancelar sua participação no exercício ao longo de sua fronteira norte. Pelo contrário: "A meta é aprofundar a cooperação prática e amistosa com exércitos de Estados participantes, aumentar o nível de colaboração estratégica e fortalecer a capacidade de reagir a diferentes ameaças à segurança", comentou o Ministério da Defesa da China. As primeiras tropas nacionais já chegaram à região de Primorsky, no extremo leste da Rússia.

Não se trata da primeira manobra conjunta das duas potências – as quais, ainda pouco antes da invasão russa da Ucrânia, em 24 de fevereiro, haviam se comprometido a uma "amizade sem limites": em maio, seus bombardeiros já treinavam juntos na zona do Japão e Coreia do Sul. Apesar disso, até agora Pequim tem se retraído em mandar soldados ou equipamentos militares pesados em apoio à Rússia na Ucrânia.

Participantes de Vostok 2022 acentuam caráter de cooperação multinacionalFoto: Russian Defence Ministry/REUTERS

Índia: em ambos os lados do muro

Assim como a China, a Índia também tem evitado condenar Moscou pela invasão da Ucrânia. Déli busca um caminho do meio: por um lado, fornece assistência humanitária para o país sob agressão russa; por outro mantém a cooperação estreita com Moscou. Um exemplo é que segue comprando em grande volume o petróleo russo, rejeitado pelo Ocidente.

No tocante à cooperação militar, o governo indiano busca contato com ambos os lados. Recentemente, unidades especiais americanas treinaram com unidades indianas na fronteira da China. Paralelamente especula-se sobre a intenção da Índia de comprar da Rússia um bombardeiro hipersônico de longo alcance.

Há semanas a mídia indiana noticia que o país pretende participar do Vostok 2022, embora com um contingente modesto, de no máximo 75 militares. Também aqui não se trata de uma estreia: em 2021 a Índia enviou um destacamento para a manobra Zapad, no oeste russo.

Belarus: apoio discreto contra Ucrânia

No começo deste ano, Belarus serviu como área de mobilização das tropas russas para a ofensiva ao território ucraniano. Na versão de Moscou, na época os mais de 100 mil soldados haviam simplesmente se reunido para uma manobra militar conjunta. Por outro lado, até agora o ditador belarusso, Alexander Lukashenko, evitou interferir na guerra com seus próprios soldados.

Comparada com essa mobilização em massa no oeste, a participação de Belarus no Vostok é antes simbólica: pouco mais de 250 soldados de uma brigada mecanizada da força-tarefa ocidental, informa o Ministério da Defesa em Minsk.

Tadjiquistão e Mongólia: equilíbrio entre Moscou e Pequim

Não é surpresa a participação do Tadjiquistão e da Mongólia no Vostok 2022. Ambos mantêm cooperação militar estreita com a Rússia, além de serem economicamente dependentes dela.

A presença chinesa também pode contribuir para essa decisão, já que tradicionalmente a política externa mongol persegue a meta de manter relações boas e equilibradas com suas únicas vizinhas, Rússia e China. Além desse aspecto simbólico, é possível que o Tadjiquistão e a Mongólia estejam interessados em ver a tecnologia militar russa em ação.

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