Votação da AfD preocupa comunidade judaica na Alemanha
2 de setembro de 2024
Conselho Central dos Judeus no país diz que sociedade livre e tolerante está em risco. "Não é mais possível falar em voto de protesto", diz presidente da Comunidade Judaica de Munique.
Num artigo de opinião publicado pelo tabloide alemão Bild nesta segunda-feira (02/09), Schuster comparou os resultados da sigla, classificada por autoridades como extremista de direita em ambos os estados, a um soco numa luta de boxe: "A Alemanha está cambaleando. Será que podemos nos recuperar desse golpe?"
Schuster também expressou preocupação por cada vez mais pessoas estarem votando na AfD por convicção política e não como forma de protesto.
No caso da Aliança Sahra Wagenknecht (BSW), que em sua primeira eleição já entrou em ambos os parlamentos estaduais, ele salientou que ainda não se sabe muito sobre a sigla. "Mas, a partir do que sabemos sobre esse novo partido e seus líderes, não dá para deduzirmos muita coisa boa."
"Nossa sociedade livre não pode sucumbir, especialmente se levarmos em conta [a ameaça do] terrorismo islâmico", enfatizou o presidente do Conselho Central dos Judeus. "Precisamos de verdades cruas – honestidade e sinceridade – e não pseudo-respostas populistas de partidos radicais."
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Afastamento da cultura política alemã
A presidente da Comunidade Judaica de Munique e da Alta Baviera, Charlotte Knobloch, também disse ver de forma crítica o resultado do pleito. Ela disse existir um afastamento da cultura política tradicional do país e que a Alemanha corre o risco de se tornar um outro país.
Ninguém mais pode falar sobre voto de protesto "ou procurar outras desculpas", alertou Knobloch, ex-presidente do Conselho Central, sobre a expressiva votação da AfD. "Os numerosos eleitores tomaram sua decisão conscientemente." Para ela, não apenas as minorias devem agora se perguntar o que esses desdobramentos significam para cada indivíduo.
Knobloch tinha 6 anos quando viu as sinagogas de Munique em chamas e assistiu, impotente, a dois oficiais nazistas levarem embora um amigo de seu pai, em 9 de novembro de 1938, na Noite dos Cristais.
Sobreviventes do Holocausto, por sua vez, descreveram os resultados da AfD nas urnas como "profundamente deprimentes". Para o vice-presidente do Comitê Internacional de Auschwitz, Christoph Heubner, o resultado mina a confiança na Alemanha que eles haviam recuperado.
Ele acrescentou que, até agora, era inimaginável que "justamente neste país tantas pessoas confiassem num partido que é mais do que só pintado de marrom [alusão à cor adotada pelos nazistas] e é marginalizado até mesmo por outros partidos de extrema direita na Europa por sua relação com o passado". Heubner conclamou a maioria a defender a democracia.
Na Saxônia, a AfD obteve 30,6% dos votos e ficou logo atrás da CDU (31,9%), de acordo com os resultados oficiais da eleição estadual. A BSW, por sua vez, recebeu 11,8%. Já na Turíngia, a AfD venceu claramente a eleição estadual, com 32,8%, à frente da CDU, que teve 23,6% dos votos, e da BSW, com 15,8%.
ip/as (EPD, DPA, KNA)
Os principais partidos alemães
São eles: Partido Social-Democrata (SPD), União Democrata Cristã (CDU), União Social Cristã (CSU), Partido Liberal Democrático (FDP), Alternativa para a Alemanha (AfD), Verdes, Esquerda e Aliança Sahra Wagenknecht (BSW)
Foto: picture-alliance/dpa
União Democrata Cristã (CDU)
Fundada em 1945, a CDU se considera "popular de centro". Seus governos predominaram na política alemã do pós-guerra. O partido soma em sua história cinco chanceleres federais, entre eles Helmut Kohl, que governou por 16 anos e conduziu o país à reunificação em 1990, e Angela Merkel, a primeira mulher a assumir o cargo, em 2005.
Foto: picture-alliance/dpa/A. Dedert
Partido Social-Democrata da Alemanha (SPD)
Integrante da Internacional Socialista, o SPD é uma reconstituição da legenda homônima fundada em 1869 e identificada com as classes trabalhadoras. Na Primeira Guerra, ele se dividiu em dois partidos, ambos proibidos em 1933 pelo regime nazista. Recriado após a Segunda Guerra, o SPD já elegeu quatro chanceleres federais: Willy Brandt, Helmut Schmidt, Gerhard Schröder e Olaf Scholz.
Foto: Thomas Banneyer/dpa/picture alliance
União Social Cristã (CSU)
Igualmente fundada em 1945, a CSU só existe na Baviera, onde a CDU não conta com diretório local. Os dois partidos são considerados irmãos. A CSU tem como objetivo um Estado democrático e com responsabilidade social, fundamentado na visão cristã do mundo e da humanidade. Desde 1949, forma no Bundestag uma bancada única com a CDU.
Foto: Peter Kneffel/dpa/picture alliance
Aliança 90 / Os Verdes (Partido Verde)
O partido Os Verdes surgiu em 1980, após três anos participando de eleições como chapa avulsa, defendendo questões ambientais e a paz. Em 1983, conseguiu formar uma bancada no Bundestag. Oito anos depois, o movimento Aliança 90 se fundiu com ele. Em 1998 participou com o SPD pela primeira vez do governo federal.
Foto: Christophe Gateau/dpa/picture alliance
Partido Liberal Democrático (FDP)
O Partido Liberal Democrático (FDP, na sigla em alemão) foi criado em 1948, inspirado na tradição do liberalismo e valorizando a "filosofia da liberdade e o movimento pelos direitos individuais". O partido é tradicionalmente um membro minoritário de coalizões de governo federais
Foto: Hannes P Albert/dpa/picture alliance
A Esquerda (Die Linke)
Die Linke (A Esquerda, em alemão) surgiu da fusão, em 2007, de duas agremiações esquerdistas: o Partido do Socialismo Democrático (PDS), sucessor do Partido Socialista Unitário (SED) da extinta Alemanha Oriental, e o Alternativa Eleitoral por Trabalho e Justiça Social (WASG, criado em 2005, aglutinando dissidentes do SPD e sindicalistas).
Foto: DW/I. Sheiko
Alternativa para a Alemanha (AfD)
Fundada em 2013, inicialmente como uma sigla eurocética de tendência liberal, a AfD rapidamente passou a pender para a ultradireita, especialmente após a crise dos refugiados de 2015-2016. Com posições radicalmente anti-imigração, membros que se destacam por falas incendiárias, a legenda tem vários diretórios classificados oficialmente como "extremistas" pelas autoridades
Foto: Martin Schutt/dpa/picture alliance
Aliança Sahra Wagenknecht (BSW)
A Aliança Sahra Wagenknecht (BSW) é um partido fundado em janeiro de 2024 pela mulher que lhe dá o nome, uma ex-parlamentar do partido Die Linke (A Esquerda) que defende uma mistura de política econômica de esquerda e retórica social de direita. Nas suas primeiras eleições, o partido tomou boa parte do espaço que era ocupada pela Esquerda.
Foto: Anja Koch/DW
Os pequenos
Há numerosos partidos menores na Alemanha, como Os Republicanos (REP) e o Heimat (Pátria), ambos de extrema direita, ou o Partido Marxista-Leninista (MLPD), de extrema esquerda. Outros defendem causas específicas, como o Partido dos Aposentados, o das mulheres, dos não eleitores, ou de proteção dos animais. E mesmo o Violetas, que reivindica uma política espiritualista.