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Voto pelo correio pode decidir eleição alemã

Jefferson Chase fc
6 de setembro de 2017

A cada eleição na Alemanha aumenta número de pessoas que deixam de ir às urnas e decidem votar antes, e partidos já miram esses eleitores com estratégias específicas.

Eleitores alemães podem pedir para votar por carta antes do dia das eleições
Eleitores alemães podem pedir para votar por carta antes do dia das eleiçõesFoto: picture-alliance/dpa/F. Kraufmann

Cada vez mais eleitores na Alemanha estão evitando ir às urnas no dia da eleição e optando por enviar antecipadamente seus votos pelos correio. Na eleição passada, em 2013, 24,3% fizeram isso, e esse número deverá subir ainda mais em 2017, diz a analista Cristina Tillmann, da Fundação Bertelsmann.

"A votação por carta chegou para ficar", comenta. "Ela se transformou numa alternativa real para os eleitores, e não é mais uma exceção, mesmo que seja legalmente definida como uma. Os partidos e quem trabalha na eleição precisam contar com um quarto ou até mesmo 30% dos eleitores votando mais cedo por carta."

Leia a cobertura completa sobre a eleição na Alemanha em 2017

Essa tendência reflete o fato de que menos pessoas vivem dentro da estrutura tradicional de trabalho, de segunda à sexta-feira e de 9h às 17h. "Mais pessoas trabalham aos domingos ou estão ocupadas de outras maneiras em suas vidas profissionais ou privadas", explica Marc Debus, cientista político da Universidade de Mannheim.

Mas, se um número crescente de pessoas vota mais cedo, muitos outros continuam definindo seus votos mais tarde, na fase pré-eleitoral. "Cada vez mais cidadãos não pertencem mais a subculturas sociais tradicionais com conexões com partidos políticos específicos", diz Debus. "Mais e mais eleitores são independentes em termos de partidos políticos e também decidem seus votos mais tarde."

Mas a votação antecipada é muito mais do que apenas o reflexo de mudanças na sociedade alemã: ela tem o potencial de mudar o resultado de eleições. E isso é algo que não escapou aos políticos.

"Ir às urnas não é mais um ritual valorizado"

Não há nenhuma dúvida que a União Democrata Cristã (CDU) e a União Social Cristã (CSU) estão levando a sério os eleitores que votam por carta. Pela primeira vez na história, os conservadores fizeram uma campanha específica para os eleitores que votam pelo correio, incluindo 400 mil pacotes de material de campanha e um vídeo na internet. Isso, combinado com uma campanha de porta em porta, é o ponto central da estratégia da CDU. "Ir às urnas não é mais um ritual valorizado", argumentou o secretário-geral do partido, Peter Tauber.

O Partido Liberal Democrático (FDP) também está colocando ênfase nos eleitores que votam por carta – e por uma boa razão. Na eleição passada, em 2013, o FDP teve um desempenho 40% melhor entre os eleitores que enviaram seus votos por carta do que entre os que foram depositar o voto na urna. "Especialmente nas últimas semanas, nós tentamos atingir as pessoas diretamente e dizer 'aproveite a oportunidade e envie seu voto pelo correio'", diz Felix Droste, porta-voz do FDP. "É fácil e simples."

Quem vota antecipadamente deve solicitar a cédula eleitoral às autoridades, marcar seus votos e enviar a cédula de volta pelo correio ou entregá-la pessoalmente no posto da autoridade eleitoral.

Vantagens e algumas críticas

No entanto, apesar da conveniência e da atual popularidade, a votação por correio é controversa e foi historicamente vista com ceticismo na Alemanha. A possibilidade foi introduzida em 1957 e, antes de 2008, quando o processo foi simplificado, aqueles que desejavam fazer uso dela tinham que pedir permissão e explicar por que não poderiam comparecer às urnas.

Críticos dizem que a votação antecipada é contrária ao propósito das campanhas eleitorais, que é informar o eleitor sobre os candidatos. Quem envia seu voto antecipadamente pelo correio pode não dispor de todas as informações relevantes, argumentam. "Se algo importante acontecer pouco antes do dia da eleição, como um ataque terrorista ou um escândalo envolvendo o principal candidato, os eleitores que já depositaram seus votos não poderão mais mudar de ideia", diz Debus.

Mas o Partido Social-Democrata (SPD) – que está atrás dos conservadores nas pesquisas eleitorais e depende dos eleitores ainda indecisos – não se mostra preocupado. "É pequeno o risco de um grande número de eleitores que votaram por carta mudarem de opinião nas últimas semanas", afirma Philipp Geiger, porta-voz do SPD.

Os defensores do voto por carta dizem que a modalidade é mais inclusiva e beneficia pessoas com necessidades especiais, que têm mais dificuldades de comparecer às urnas. Em Berlim, por exemplo, mais de 30% das seções eleitorais não oferecem acesso livre para portadores de necessidades especiais.

Para Tillmann, a grande vantagem do voto antecipado é que ele aumenta a participação dos eleitores. Como exemplo, ela menciona o referendo no qual milhares de pessoas enviaram seus votos pelo correio para rejeitar a candidatura de Berlim aos Jogos Olímpicos.

Em maio, nas eleições regionais na Renânia do Norte-Vestfália, o maior estado alemão, a participação dos eleitores registrou um aumento, em grande parte, devido aos votos enviados via correio. Os conservadores e o FDP obtiveram uma maioria apertada no Parlamento estadual, e o partido populista Alternativa para a Alemanha (AfD) teve um desempenho pior que o esperado. Muitos especialistas acreditam que isso aconteceu porque muitas pessoas se sentiram estimuladas a votar – por causa da situação política e pela facilidade de votar pelo correio.

Pequenas margens podem decidir

Merkel e os conservadores devem ficar na frente na eleição de setembro, mas pequenas margens podem definir coalizões e, portanto, quem vai estar no poder. Uma das possibilidades é uma coalizão entre os conservadores e o FDP, que na eleição passada ficou fora do Parlamento.

Se apenas os votos enviados pelo correio tivessem sido contados em 2013, o FDP teria claramente superado a cláusula de barreira de 5% para entrar no Parlamento. No cômputo geral, os liberais tiveram 4,8% dos votos. Este ano, o FDP está correndo atrás de cada voto e fez até mesmo uma campanha direcionada aos eleitores na ilha espanhola de Maiorca, que é tão popular entre turistas alemães que, em tom de brincadeira, é chamada de "o 17º estado da República Federal da Alemanha".

Pesquisas eleitorais colocam os conservadores e o FDP muito perto de obterem, juntos, a maioria parlamentar necessária para formar o próximo governo. Ou seja, não é nada improvável que alguns poucos milhares de votos possam fazer a diferença. E talvez eles já tenham sido enviados por carta.

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