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"Vou sentir falta do pragmatismo e do humor britânico"

Max Hofmann av
1 de fevereiro de 2020

Encarar os fatos e se concentrar numa eventual futura parceria: em entrevista exclusiva à DW, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, fala da relação de Bruxelas e Londres pós-Brexit.

Presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen
"Nossa posição de partida é forte", acredita Ursula von der LeyenFoto: DW/B. Riegert

Desde 1º de dezembro de 2019, Ursula von der Leyen ocupa o cargo de presidente da Comissão Europeia. Nesta sexta-feira (31/01), dia em que se oficializa a saída do Reino Unido da União Europeia, em entrevista exclusiva à DW, a política democrata-cristã alemã de 61 anos e ex-ministra da Defesa fala sobre sua relação com os britânicos e o futuro do bloco europeu sem um de seus membros mais tradicionais.

Deutsche Welle: Houve muitas lágrimas esta semana em Bruxelas, antes do Brexit. Como se sente? Está triste?

Ursula von der Leyen: É um dia muito emocional, como costuma acontecer quando um membro da família decide se ir. É triste. Tenho muitos amigos no Reino Unido, estudei um ano na London School of Economics, tenho parentes lá, alguns dos meus filhos estudaram lá. Então, há um monte de laços. Um dia emocional!

O que vai lhe fazer mais falta em relação ao Reino Unido?

Vou sentir falta do pragmatismo: ele era muito útil, eles sempre foram muito pé-no-chão. Vou sentir falta do maravilhoso senso de humor britânico. Mas assim são as coisas. De um dia para o outro, vamos nos relacionar com nossos amigos britânicos como com um país terceiro.

Há quem afirme que a parte mais difícil do Brexit vem agora, ou seja, a negociação das novas relações entre Bruxelas e Londres. É essa sua opinião?

Vão ser negociações duras, justas e rápidas. Procede que, como o Reino Unido passa a ser um país terceiro, precisamos agora descobrir quão próximos eles querem permanecer do Mercado Comum Europeu: quanto mais próximos, mais precisarão se ater às regras comuns dele. A escolha é mais ou menos deles: se quiserem ficar bem longe, o acesso ao Mercado Comum vai ser difícil. Ou vai ser o contrário.

O primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, diz que não vai de forma alguma prolongar a fase de transição. Quer dizer: se até o fim de 2020 não houver um acordo, vamos ter um "Brexit duro". Essa jogada é inteligente?

É a decisão dele...

... sim, mas é inteligente?

Se for isso que vai acontecer no fim do ano, estamos preparados, pois as questões mais difíceis estão definidas para nós no acordo de saída: direitos civis, questões financeiras e o problema na ilha irlandesa. Isso está fechado, estamos satisfeitos. Agora estamos numa posição de partida forte para as negociações. Se no fim do ano houver um Brexit duro, vai ser duro. Afinal, o Reino Unido exporta a metade de suas mercadorias para a UE.

Johnson se meteu num beco sem saída? Como política, a senhora teria agido assim?

Não preciso dar a ele nenhum conselho sobre o que fazer. Em meados do ano, nós, enquanto Comissão Europeia, vamos ver onde estamos, e aí decidimos. Mas, mesmo que tenhamos um Brexit duro no fim do ano, as negociações ainda podem continuar.

Von der Leyen: "Para mim, é importante dizer: somos amigos dos britânicos, queremos manter uma parceria no futuro"Foto: DW/B. Riegert

A senhora vai tentar agora fechar um tratado de livre-comércio com o Reino Unido. Pode-se dizer, definitivamente, que um ano não basta para isso?

Não se trata só do tratado de livre-comércio, são pelo menos dez ou onze diferentes temas, por exemplo, segurança. Há um monte de coisas a negociar. Vamos trabalhar sem parar, e aí ver até onde chegamos.

Mas, em condições normais, uma coisa assim nunca foi negociada em tão pouco tempo?

Originalmente eu disse que precisávamos de mais tempo, mas para algo assim se precisa dos dois lados. Estamos bastante curiosos, pois, como disse, temos uma boa posição de partida.

Sob as circunstâncias atuais – Johnson não quer prorrogação, a pressão de tempo é grande – a senhora diria que um Brexit duro é inevitável?

Veja bem, vamos primeiro começar com as negociações. Vamos examinar o mandato britânico de negociação, vamos receber o nosso próprio mandato. Não acho que seria inteligente fazer agora previsões para o fim do ano. Eu lhe enumerei as nossas opções, mas vamos primeiro começar.

Qual é sua meta principal nessas negociações?

Minha principal meta é fechar uma parceira boa, justa e o mais estreita possível com nossos amigos britânicos. Temos muitos interesses comuns. A questão é proteger o mercado interno, e ter as mesmas regras do jogo com nossos amigos britânicos.

Sei que a senhora não tem uma bola de cristal, mas vou tentar mesmo assim: acredita que em dez anos o Reino Unido vá querer voltar para a UE?

Sempre digo aos meus filhos: essa é uma tarefa para vocês. Está claro que o povo britânico é que tem de decidir. Para mim, no momento é importante dizer: somos amigos, queremos manter uma parceria no futuro. Há tantos pontos em comum, como a mudança climática ou a digitalização, em que trabalhamos no mesmo sentido e devemos colaborar intensamente. Vamos ver também o lado positivo e tirar o melhor da situação.

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