Voz das mulheres precisa ser mais ouvida nos debates sobre o clima
20 de novembro de 2012Quando o ciclone Sidr varreu a costa de Bangladesh, em 2007, mais de 3 mil pessoas morreram – a maioria delas, mulheres. Isso não aconteceu por acaso, afirma Sharmind Neelormi, da Universidade Jahangirnagar, em Savar, que investiga os impactos da mudança climática na população do país.
Segundo a especialista, as mulheres nas áreas remotas de Bangladesh foram as últimas a saber da aproximação do ciclone porque costumam viver excluídas da vida pública.
Além disso, elas não costumam usar os abrigos anticiclone. Isso porque eles têm apenas um banheiro de uso coletivo e, como aponta Neelormi, essa situação causa constrangimentos às mulheres. "Se os abrigos fossem construídos de outra maneira, milhares de mulheres poderiam ter sobrevivido", afirma Neelormi.
Mulheres são mais afetadas
Neelormi atua junto a órgãos governamentais para tentar mudar a maneira como os abrigos contra ciclones são construídos. Para ela, o "aspecto feminino" não têm sido levado em consideração nos debates sobre as mudanças climáticas. Negociações climáticas e estratégias de mitigação têm dado pouca atenção às necessidades específicas das mulheres, afirma.
Um estudo feito em 2009 pelo Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA) apontou que, nos países em desenvolvimento, as mulheres sentem os efeitos das mudanças climáticas com muito mais intensidade que os homens. Isso porque elas trabalham com maior frequência na agricultura e, por isso, são diretamente afetadas por eventos climáticos que interferem na produção de alimentos.
Mas este é apenas um dos problemas levantados pelo estudo. Mulheres em países em desenvolvimento têm menos oportunidades de gerar sua própria renda. Elas são mais ligadas à família e têm menos mobilidade. Isso também, conforme o estudo, contribui para aumentar sua vulnerabilidade a desastres naturais.
Habilidades e conhecimentos femininos
Os ambientalistas alertam, no entanto, que as mulheres não devem ser vistas apenas como vítimas das questões ambientais. "Quando se trata de adaptação às mudanças climáticas, as mulheres são atores importantes", afirma Angie Daze, do escritório canadense da entidade humanitária Care.
Segundo ela, as mulheres são mais inovadoras no uso dos recursos naturais. "Temos de encorajá-la a usar ainda mais seus conhecimentos e habilidades", enfatiza Daze. A organização que ela representa atua principalmente em Gana e se especializou em projetos de adaptação às mudanças climáticas com foco nas mulheres. Em Gana, a Care trabalha para que as vozes femininas sejam mais ouvidas.
Iniciativas similares existem em vários lugares. Por exemplo no Barefoot College, na Índia, onde mulheres de comunidades agrícolas são treinadas para instalar unidades de produção de energia solar e, com isso, garantir a própria renda.
No Malawi, uma companhia irlandesa ajudar a treinar mulheres de áreas rurais para construir e vender fogões que consomem menos energia. O uso desses fogões reduz as emissões de fumaça nociva à saúde. Além disso, o menor consumo de lenha ajuda a evitar o desmatamento.
Mulheres não têm poder de decisão
Apesar de esforços isolados, fica claro que as mulheres ainda não desempenham um papel central na definição de políticas climáticas. A ativista Gotelind Alber, da organização Women for Climate Justice, diz que as maiores barreiras são a falta de consciência sobre o problema e desigualdades estruturais entre homens e mulheres.
"Quando se trata de planos e decisões sobre as questões climáticas, as mulheres estão mal representadas em todos os níveis", afirma Alber. Ela diz ainda que a questão da igualdade de direitos não é considerada nos debates sobre o clima.
O governo de Bangladesh deu sinais de que está mudando. A estratégia nacional para as mudanças do clima e o plano de ação proposto pelo governo determinam que o aspecto feminino deve ser levado em consideração em qualquer planejamento de adaptação às mudanças climáticas. Para Neelormi, esse é um exemplo de integração das mulheres e, "definitivamente, um grande passo adiante".
Autora: Sonia Phalnikar (ie)
Revisão: Alexandre Schossler