VW assume controle da Porsche mais cedo que previsto
5 de julho de 2012Após meses de bloqueio, a montadora alemã Volkswagen vai assumir o controle da Porsche já em 1° de agosto próximo, ou seja, dois anos antes do previsto, os 50,1% que faltavam para que a empresa de Wolfsburg assumisse o controle completo da fabricante de carros esportivos Porsche, anunciou a direção das duas empresas na noite desta quarta-feira (04/07).
"A extraordinária marca Porsche é agora parte integrante do Grupo Volkswagen. Isso é bom para a Volkswagen, para a Porsche e para toda a indústria da Alemanha", disse o presidente da VW, Martin Winterkorn, acrescendo que "através da fusão de suas operações comerciais, VW e Porsche se tornarão ainda mais fortes – tanto no aspecto financeiro quanto estratégico."
A VW espera economizar 700 milhões de euros anuais através da aquisição definitiva da Porsche. "Agora esses efeitos sinergéticos virão à tona mais cedo", disse Winterkorn nesta quinta-feira em Wolfsburg. Na manhã desta quinta-feira, o índice da Bolsa de Valores de Frankfurt (DAX) apontou um aumento de quase 6% para a cotação das ações da VW e de 2,6% da Porsche.
Truque fiscal
Segundo o analista Arndt Ellinghorst, do Grupo Credit Suisse, a Volks estaria adquirindo a Porsche por 11 bilhões de euros, enquanto a avaliação de mercado da empresa de Stuttgart seria de 21 bilhões de euros.
Pelo negócio a ser fechado até 1° de agosto, a VW pagará – livre de impostos – 4,46 bilhões de euros e adquirirá mais uma ação da Porsche. As empresas aproveitaram uma brecha na legislação tributária, evitando pagar ao fisco alemão 1,5 bilhão de euros.
A Volkswagen assume também 2,5 bilhões de euros em dívidas da empresa de carros esportivos. O cerne do negócio está no fato de a compra da segunda metade restante da Porsche, que em princípio seria passível de tributação, ser declarada pela VW – de forma expressamente legal – como uma reestruturação. Isso é isento de impostos.
Críticas ao negócio
O ponto delicado da questão é que, normalmente, não há transferência de dinheiro em um negócio como esse. Geralmente há uma troca de ações. A compra da metade da Porsche deveria, então, ser paga em ações da VW. Mas agora há uma movimentação de somente uma ação e da soma bilionária rumo a Stuttgart. Essa opção de negócio é considerada extrema, mas permitida, por isso recebe críticas.
No entanto, nesta quinta-feira em Wolfsburg, o diretor-financeiro da VW, Hans Dieter Pötsch, apressou-se em afirmar que o Estado também lucrará com o negócio. "Os impostos contabilizam bem mais de 100 milhões de euros. Estes são impostos relacionados à transação", assinalou Pötsch. Quanto à crítica sobre impostos que deixariam de ser pagos, Pötsch afirmou: "Os números relativos ao não-pagamento de impostos em valores bilionários não têm qualquer fundamento".
A Volks e a Porsche já montam juntas os modelos Cayenne e Panamera. Também o planejado Porsche Macan tem tecnologia Volkswagen.
Segundo Ferdinand Dudenhöffer,especialista em indústria automobilística da Universidade de Essen, com a incorporação, a Volks dominará 40% do mercado mundial no segmento premium, pois a empresa já detém as marcas Audi e Bugatti. A Porsche será a 12ª marca a ser representada pela Volks, que atende todos os tipos de segmentos, desde motos a caminhões. Além das marcas já citadas, são administradas pela VW a Seat, Skoda, Bentley, Lamborghini, Scania, Man, Ducati, e ainda os segmentos Volks automóveis e Volks utilitários.
VW como salvação
Após uma luta de poder com a Porsche, já em 2009 a VW havia assumido a metade da montadora de Stuttgart, por cerca de 3,9 bilhões de euros. Há quatro anos, a holding Porsche SE (PSE) havia tentado, sem sucesso, assumir o controle da VW. No final, a Porsche acumulou 11,4 bilhões de euros em dívidas e a VW se tornou a última salvação.
Basicamente, a Porsche SE administra a fortuna das famílias Piech e Porsche. De acordo com informações próprias, com o dinheiro da venda, a holding pretende, a princípio, saldar dívidas no montante de 2 bilhões de euros. O restante deverá empregado em participações com foco na indústria automotiva.
CA/dapd/afp/dpa/rtr
Revisão: Roselaine Wandscheer