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Walmart começa a usar robôs

31 de maio de 2019

Gigante do varejo americana quer incluir máquinas nas atividades diárias, como controle de estoques e limpeza. Sindicatos se preocupam com o fechamento de vagas.

Prateleira de produtos do supermercado recebe feixe de luz de um robô que tem mais ou menos o tamanho da estante.
Um dos robôs testados inspeciona prateleiras e aponta produtos que estão em lugares erradosFoto: Walmart Inc.

A rede de supermercados americana Walmart é uma das primeiras empresas a se aventurar no mercado de varejo automatizado. Há algumas semanas, ela testa diferentes modelos de robôs projetados para ajudar os funcionários. Durante o horário normal de funcionamento, os assistentes silenciosos passam pelos corredores, examinam as prateleiras, limpam o chão e informam se algum item está no lugar errado.

"Não se trata de um mundo de fantasia, mas de economizar tempo e dinheiro para os clientes da vida real", justifica Elizabeth Walker, gerente de marca da Walmart. Quando a gigante varejista anunciou, no início de abril, que no futuro vai incluir robôs em suas operações, Walker considerou o início de uma amizade. "Todo herói precisa de um ajudante", diz. "A forma correta de suporte ajuda nossos funcionários a terem sucesso no trabalho".

Os ajudantes automatizados são a mais nova arma da Walmart para sobreviver a varejistas online, como Amazon e Alibaba. A gigante do varejo opera 11 mil lojas em todo o mundo, quase metade delas nos Estados Unidos. Noventa por cento dos americanos vivem a menos de dez quilômetros de uma loja Walmart - uma vantagem para suportar a concorrência da internet. No entanto, o crescente número de compradores online e os custos operacionais das lojas físicas (que tem em média 17 mil quadrados) forçam a Walmart a empreender uma revolução automatizada.

A empresa investiu US$ 2 bilhões no ano passado nos EUA para tornar a operação mais eficiente. Grande parte do dinheiro foi para a automação, o que deve otimizar os processos nas lojas. Atualmente, são 4 mil robôs distribuídas nas filiais americanas. Eles trabalham duas vezes mais rápido do que os colegas humanos - em alguns casos até mais rápido do que isso. Inventários, por exemplo, que os humanos demoram cerca de duas semanas para concluir, são feitos em apenas duas horas e meia pelas máquinas. Funcionários de limpeza, por sua vez, são necessários apenas para locais de difícil acesso.

Agora, em vez de oito funcionários, é preciso apenas quatro para receber o frete. A Walmart argumenta que isso é bom, pois alivia os empregados de um trabalho chato e monótono. "O passo para o futuro é, acima de tudo, um passo em direção a funcionários mais felizes", diz Walker.

Para sindicatos como a União Internacional dos Trabalhadores da Indústria Alimentar e Comercial (UFCW), essa justificativa não convence. No passado, as organizações de trabalhadores já criticaram as práticas trabalhistas da gigante varejista, que frequentemente ganha manchetes pelos baixos salários, tratamento questionável com faltas por doença e aumento do número de trabalhadores em meio período. "Não se deixe enganar", alertou a associação dos trabalhadores em dezembro. "A Walmart não pretende tornar os funcionários ou os clientes mais felizes", acrescentou.

A UFCW calcula que até 5 mil vagas de emprego podem ser eliminadas por meio da automação na Walmart. O crescente número de funcionários em meio período significa que eles precisam trabalhar cada vez mais, diz Andrea Dehlendorf, codiretora da Organização Unidos pelo Respeito (OUR) na Walmart. "Nem uma única pessoa com quem conversei diz que o trabalho é mais fácil agora."

O diretor-financeiro da empresa nos Estados Unidos, Michael Dastugue, não faz segredo quanto ao fechamento de vagas. "À medida que evoluímos, certamente algumas tarefas e empregos desaparecem", disse ele em uma conferência em março. Assim, os funcionários poderiam ser alocados para outras tarefas. "Todos nós precisamos ser mais flexíveis e aprender a lidar com mudanças".

No entanto, muitos trabalhadores temem perder o emprego, porque nem todos são tão flexíveis quanto a Walmart gostaria. Os mais afetados são os empregados de setores com baixos salários, onde a automação tem um impacto particularmente forte. Segundo a UFCW, cerca de 3,4 milhões de pessoas trabalham, apenas nos EUA, como caixas – área em que as vagas estão diminuindo cada vez, devido às máquinas em que o próprio cliente pode scannear suas compras.

A UFCW argumenta que treinamento e educação são maneiras de se diferenciar dos robôs, mas que nem todo mundo tem talento para fazer um trabalho exigente ou para traçar uma carreira no Vale do Silício.

Apesar de tudo, especialistas como a Sterling Hawkins consideram o movimento da Walmart um passo importante em direção ao futuro. "Estamos experimentando o momento mais emocionante no varejo nos últimos 100 anos", diz Hawkins, cofundador do Centro para o Avanço do Varejo e da Tecnologia. Ao contrário dos setores de logística e produção, no varejo, a automação só agora dispõe de inteligência artificial e robótica adequadas para o uso diário. "A tecnologia está finalmente em um ponto em que compensa técnica e economicamente para a empresa", explica.

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