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Weintraub anuncia saída do Ministério da Educação

18 de junho de 2020

Em vídeo ao lado de Bolsonaro, ministro diz que assumirá a direção de um banco. Alvo de inquéritos, ele deixa o governo após desgaste político com STF e 14 meses de polêmicas. Nome de seu substituto não foi informado.

O presidente Jair Bolsonaro e o ministro da Educação, Abraham Weintraub
Passagem de Weintraub pelo MEC durou pouco mais de 14 meses e foi envolta em polêmicasFoto: picture-alliance/dpa/M. Sena

O ministro da Educação, Abraham Weintraub, anunciou nesta quinta-feira (18/06) sua saída do governo. Em vídeo publicado nas redes sociais ao lado do presidente Jair Bolsonaro, ele disse que começará o processo de transição imediatamente e deixará o cargo nos próximos dias.

O nome do novo ministro da Educação não foi informado. Weintraub também não deixou claro se seu substituto assumirá a pasta de forma interina ou definitiva.

Ele também não se prolongou sobre os motivos de sua saída, mas afirmou que deixa o governo para assumir a direção do Banco Mundial. Segundo o ministro, a decisão foi "referendada" por Bolsonaro, a quem chamou de "o melhor presidente do Brasil".

"Nesse momento não quero discutir os motivos da minha saída, não cabe. O importante é dizer que eu recebi o convite para ser diretor de um banco. Eu já fui diretor de um banco no passado, volto no mesmo cargo, porém no Banco Mundial", disse.

Sem dar muitos detalhes, Weintraub também mencionou que, com essa decisão, ele e sua família "poderão ter a segurança que, hoje, me deixa muito preocupado". Ao assumir o cargo no Banco Mundial, ele deve se mudar para Washington, nos Estados Unidos. 

"Estou fechando um ciclo, presidente, e começando outro. E é claro que eu sigo apoiando o senhor, presidente Bolsonaro, como eu fiz nos últimos três anos", afirmou. "Agradeço a honra que foi participar do seu governo e desejo toda a sorte e sucesso que o senhor merece nesse desafio gigante que é tentar salvar o Brasil."

Bolsonaro, por sua vez, declarou em seguida que este é um "momento difícil". "Todos os meus compromissos de campanha continuam de pé, e busco implementá-los da melhor maneira possível. Confiança você não compra, você adquire", declarou.

"Todos que estão nos ouvindo agora são maiores de idade e sabem o que o Brasil está passando. E o momento é de confiança. Jamais deixaremos de lutar por liberdade. Eu faço o que o povo quiser", concluiu o presidente.

No fim do vídeo, Weintraub pede um abraço a Bolsonaro, e os dois se abraçam, sem máscaras, num momento em que autoridades de saúde e especialistas pedem para que o contato físico seja evitado como medida de contenção à covid-19.

A ida de Weintraub ao Banco Mundial depende da aprovação dos oitos países que são representados pelo Brasil na instituição: Colômbia, Equador, República Dominicana, Panamá, Haiti, Suriname, Trinidad e Tobago e Filipinas.

Desgaste político

A passagem de Weintraub pelo MEC durou pouco mais de 14 meses e foi envolta em polêmicas. Ele assumiu o cargo em abril de 2019, por indicação da ala ideológica do governo, após a queda de Ricardo Vélez Rodríguez, e acumulou tensões com outros Poderes e grupos da sociedade – da diplomacia chinesa à comunidade judaica.

Mais recentemente, ele se envolveu em um desgaste com os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), agravado por uma fala do ministro durante uma reunião com Bolsonaro em 22 de abril, em que ele chama os juízes de "vagabundos" que deveriam ser colocados "na cadeia".

"A gente está perdendo a luta pela liberdade. É isso que o povo está gritando. Não está gritando para ter mais Estado, para ter mais projetos. [...] O povo está querendo ver o que me trouxe até aqui. Eu, por mim, botava esses vagabundos todos na cadeia. Começando no STF", declarou à época.

A tensão ficou insustentável após Weintraub comparecer a um ato pró-Bolsonaro em Brasília no último domingo, com pautas antidemocráticas e inconstitucionais. A manifestantes, ele voltou a usar o termo "vagabundos", referindo-se à fala dele no encontro ministerial.

No dia seguinte, em entrevista à Band News, Bolsonaro afirmou que o ministro não foi "muito prudente" ao ter participado do protesto, nem deu "um bom recado". "Como tudo o que acontece cai no meu colo, é um problema que estamos tentando solucionar com o senhor Abraham Weintraub", disse o presidente na segunda-feira.

As declarações de Weintraub incomodaram o STF, que passou a cobrar a demissão do ministro nos bastidores, segundo revelou o jornal Folha de S. Paulo. Também a ala política do governo, incluindo militares, pressionava pela troca no comando da pasta. Do outro lado, a permanência de Weintraub era defendida sobretudo pelos filhos de Bolsonaro.

As falas do ministro da Educação contra ministros do STF o levaram a ser citado no chamado inquérito das fake news, que tramita no Supremo e apura a divulgação de notícias falsas, ofensas e ameaças contra integrantes da Corte e seus familiares.

Tensões com a China

Weintraub é alvo de outro inquérito aberto pelo STF, dessa vez envolvendo o crime de racismo, após ele ter zombado do sotaque de asiáticos que falam português.

Uma mensagem publicada no Twitter no início de abril reproduzia uma capa do gibi Turma da Mônica, com legenda fazendo referência ao modo de falar do personagem Cebolinha, que troca o R pelo L nas palavras. No texto, Weintraub também sugeria que a China é culpada pela covid-19 e que está usando a pandemia para "dominar o mundo".

Weintraub: "Não quero discutir os motivos da minha saída".

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A China chegou a reagir à publicação de Weintraub. Em comunicado publicado no Twitter, a embaixada do país asiático no Brasil acusou o ministro de fazer "declarações difamatórias contra a China" com conteúdo "fortemente racista".

"Deliberadamente elaboradas, tais declarações são completamente absurdas e desprezíveis, têm cunho fortemente racista e objetivos indizíveis, tendo causado influências negativas no desenvolvimento saudável das relações bilaterais China-Brasil", dizia a nota. "O lado chinês manifesta forte indignação e repúdio a esse tipo de atitude."

Mesmo depois da crise diplomática, Weintraub demonstrou que não pretendia recuar do curso de colisão com as autoridades da nação asiática, que é a maior parceira comercial do Brasil. Após a reação chinesa, ele voltou a fazer acusações, afirmando, sem provas, que Pequim escondeu informações sobre a pandemia para depois vender equipamentos médicos ao resto do mundo.

O ministro também disse na ocasião que só pretendia pedir desculpas se os chineses vendessem mil respiradores para sua pasta a preço de custo, além de negar que tenha sido preconceituoso. "Tenho um monte de amigos chineses", disse.

Repúdio da comunidade judaica

Weintraub criou desafetos também na comunidade judaica. Em maio, entidades judaicas reagiram com repúdio a postagens no Twitter do ministro da Educação, que comparou uma operação da Polícia Federal à Noite dos Cristais e ao nazismo.

Em sua conta no Twitter, que tem mais de 800 mil seguidores, ele escreveu: "Hoje foi o dia da infâmia, vergonha nacional, e será lembrado como a Noite dos Cristais brasileira. Profanaram nossos lares e estão nos sufocando. Sabem o que a grande imprensa oligarca/socialista dirá? Sieg Heil!"

A expressão "Sieg Heil" em alemão significa "salve a vitória" e era usada durante o período nazista pelos simpatizantes do regime. A Noite dos Cristais, de 9 para 10 de novembro de 1938, marcou o início do Holocausto, que causou a morte de seis milhões de judeus na Europa até o final da Segunda Guerra. Naquela data, sinagogas, estabelecimentos comerciais e residências de judeus foram invadidos, seus pertences foram destruídos e dezenas de judeus foram mortos.

Em seu tuíte, Weintraub se referia a uma operação da Polícia Federal que cumpriu, em 27 de maio, 29 mandados de busca e apreensão no âmbito do inquérito das fake news. A ação mirou aliados de Bolsonaro, entre eles o ex-deputado e presidente do PTB Roberto Jefferson. 

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