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Festival de Berlim

16 de fevereiro de 2010

Assistir a mais de 20 filmes em dez dias. Essa é a maratona que Werner Herzog vai ter que cumprir neste ano no Festival de Cinema de Berlim. O diretor alemão é presidente do júri da 60ª edição do evento.

Herzog vive nos EUA, onde raramente vai ao cinemaFoto: DW-TV

Normalmente ele assiste de dois a três filmes por ano. Com esta declaração, Werner Herzog surpreendeu recentemente seus admiradores, e isso logo depois que o Festival de Cinema de Berlim anunciou que Herzog seria o presidente do júri da competição. Alguém que raramente vai ao cinema como presidente do júri? Será que isso vai dar certo? E por que Herzog praticamente não vai ao cinema? Provavelmente porque não tem tempo.

Na América, em casa

Werner Herzog vive hoje em Los Angeles. E é extremamente produtivo, faz um filme atrás do outro. Há poucos anos ninguém imaginaria que ele, um bávaro de carteirinha, conseguiria filmar em Hollywood. Até porque seus colegas famosos e poliglotas, representantes do Novo Cinema Alemão, Wim Wenders e Volker Schlöndorff, já finalizaram há algum tempo suas etapas de vida nos EUA e retornaram à terra natal.

Herzog, entretanto, está apenas galgando mais um degrau em uma carreira surpreendente, filmando na América com grande orçamento e verdadeiras estrelas, como Christian Bale e Nicolas Cage. Mas esse diretor nascido em 1942 em Munique e criado no interior da Baviera sempre foi um homem de surpresas.

Com Klaus Kinski, Herzog fez sucessos de bilheteriaFoto: AP

Seus primeiros filmes, no fim da década de 60, introduziram um tom completamente novo em um cinema alemão que acabava de despertar de um sono profundo, proporcionando um olhar sobre a província alemã que, ao mesmo tempo, acolhia o mundo inteiro.

Em seguida, Herzog se uniu cinco vezes a seu ator favorito, Klaus Kinski, para realizar projetos cinematográficos insanos, no sentido literal da palavra, da Alemanha à América do Sul.

Sobre o filme Fitzcarraldo foram produzidos livros e documentários, as filmagens acabaram sendo pelo menos tão interessantes quanto o filme em si. E seu filme experimental sobre vampiros, Nosferatu, de 1979, se tornou um dos maiores sucessos do Novo Cinema Alemão.

Documentários e óperas

Pouco depois, porém, Werner Herzog se despediu mais uma vez do grande cinema, como se, com a morte de Kinski, tivesse perdido seu grande contraponto. Nos anos seguintes, Herzog fez principalmente documentários que, aliás, nada tinham de convencional. Montou óperas, de Wagner ao Dr. Fausto de Busoni, obras alemãs, temas alemães.

'Vício Frenético', com Nicolas Cage, foi destaque do Festival de VenezaFoto: image.net



E nos últimos anos ele realmente conseguiu se estabelecer nos EUA. O fato de isso ser pouco divulgado na Alemanha não é culpa do diretor, nem de seus filmes, que, em parte, nem chegaram aos cinemas.

"Nunca perdi a Alemanha de vista. Mas, não sei por quê, a Alemanha me perdeu de vista", se queixou Herzog certa vez, sem esconder como se sente apegado a seu país. "Deixei meu país e agora vivo em Los Angeles. E faço filmes na Antártida, América do Sul, nos Estados Unidos. Mas nunca abandonei a minha cultura".

Carreira americana

Em O Sobrevivente (Rescue Dawn, 2006), ele contou a história verídica de um soldado americano descendente de alemães, aprisionado durante a Guerra do Vietnã. E depois, há dois filmes bastante interessantes: Vício Frenético (Bad Lieutenant: Port of Call New Orleans, 2009) e My Son, My Son, What have Ye Done (2009), ambos exibidos no Festival de Veneza. Um retrata um policial corrupto e viciado em drogas, o outro narra uma drástica tragédia familiar.

Quem já pôde assistir a Werner Herzog em um festival de cinema, que já o entrevistou, sabe que esse cineasta também tem o dom da palavra. O interlocutor deve estar sempre preparado para se surpreender com suas respostas.

Herzog gosta de contrariar expectativas, ir contra verdades universais e odeia receber rótulos, mesmo o de um “aventureiro do cinema”. Por isso, os espectadores da Berlinale devem se preparar para surpresas quando, em 20 de fevereiro, o júri presidido por Werner Herzog anunciar os ganhadores dos troféus do festival.

Autor: Jochen Kürten (md)
Revisão: Simone Lopes

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