Will Smith é banido da cerimônia do Oscar por 10 anos
8 de abril de 2022
Decisão é represália ao tapa que o ator deu no comediante Chris Rock durante a 94º edição da premiação. Will Smith, no entanto, continuará elegível a receber estatuetas.
Will Smith recebeu o Oscar de melhor ator por "Rei Ricardo"Foto: Chris Pizzello/Invision/AP/picture alliance
Anúncio
A academia de cinema de Hollywood decidiu nesta sexta-feira (08/04) banir o ator americano Will Smith de comparecer a cerimônias do Oscar ou qualquer evento da entidade por 10 anos, depois que o vencedor do prêmio de melhor ator deu um tapa no apresentador Chris Rock em meio à cerimônia de premiação, 12 dias atrás.
A decisão ocorre uma semana depois de o ator ter apresentado sua demissão da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas devido ao incidente na 94ª cerimônia do Oscar.
Numa carta aberta divulgada após a reunião da Academia, o presidente da entidade, David Rubin, e a executiva-chefe, Dawn Hudson, consideraram "inaceitável" o comportamento de Will Smith.
"O 94º Oscar foi concebido para ser uma celebração dos muitos indivíduos em nossa comunidade que fizeram um trabalho incrível no ano passado", afirmaram. "No entanto, esses momentos foram ofuscados pelo comportamento inaceitável e prejudicial que vimos o Sr. Smith exibir no palco".
Eles também admitiram que não lidaram com a situação de forma adequada durante o evento que ocorreu em 27 de março.
"Lamentamos. Esta foi uma oportunidade para darmos um exemplo para os nossos convidados, espetadores e a nossa família da Academia em todo o mundo, e ficamos aquém, incapacitados para o inédito", diz o texto.
Em um comunicado após a decisão desta sexta-feira, Smith disse que "aceita e respeita a decisão da Academia".
Will Smith se revoltou com piada sobre sua esposa e deu tapa em Chris RockFoto: Chris Pizzello/Invision/AP/picture alliance
O que aconteceu na cerimônia
A polêmica começou quando Rock tomou como alvo verbal a esposa do ator, Jada Pinkett Smith. "Jada, eu te amo. G.I. Jane 2, mal posso esperar para ver, está certo?", disse. A referência era ao filme intitulado no Brasil Até o limite da honra, em que Demi Moore raspou a cabeça para representar uma candidata a SEAL da Marinha americana.
Em resposta, Will Smith foi até o palco e golpeou no rosto o apresentador, que comentou, surpreso: "Oh... uau... uau... Will Smith acabou de me arrebentar", enquanto o público ria, pensado tratar-se de algo encenado. O agressor retornou a seu assento e gritou que ele deixasse sua esposa em paz.
Rock replicou que fora só "uma piada de G.I. Jane", ao que Smith rebateu: "Não põe o nome da minha mulher na tua p**** de boca". Nesse ínterim, o clima era de constrangimento, pois os espectadores da premiação haviam compreendido que não era um número ensaiado. O agredido concluiu: "Ok. Esta foi a maior noite na história da televisão".
Em 2018, Pinkett Smith revelou que sofre de alopecia, doença que causa perda dos pelos corporais. Desde então tem discutido com frequência, no Instagram e outras plataformas, os desafios que a condição lhe acarreta. Na cerimônia do Oscar, ela estava com a cabeça raspada. Não ficou claro se Rock sabia da condição de saúde da esposa de Will Smith.
Menos de uma hora depois, Smith fez um discurso emocioando no palco ao receber o prêmio de melhor ator por seu papel em Rei Ricardo, filme no qual interpreta o pai das estrelas do tênis Serena e Venus Williams. Após a cerimônia, ele foi visto dançando na festa anual pós-Oscar da Vanity Fair.
Jada Pinkett Smith sofre de alopecia e compareceu ao evento com a cabeça raspadaFoto: Evan Agostini/Invision/AP/picture alliance
Desculpas de Will Smith
No dia seguinte ao evento, Will Smith pediu publicamente desculpas a Chris Rock, admitindo que passou dos limites e que o seu comportamento foi "inaceitável e indesculpável".
"A violência em todas as suas formas é venenosa e destrutiva. Meu comportamento no Oscar na noite passada foi inaceitável e imperdoável", escreveu Will Smith no Instagram no dia seguinte à premiação. "Piadas às minhas custas fazem parte do trabalho, mas uma piada sobre a condição médica de Jada foi demais para eu suportar e reagi emocionalmente." "Eu gostaria de pedir desculpas publicamente a você, Chris. Eu passei dos limites e estava errado. Estou envergonhado, e minhas ações não foram indicativas do homem que eu quero ser", prosseguiu.
Anúncio
Punição branda e tardia
Dana Harris-Bridson, editora-chefe da publicação de entretenimento online IndieWire, disse que a proibição imposta a Smith pela Academia foi "muito pouco" e veio "muito tarde". Para ela, o grupo deveria ter removido o ator da cerimônia no Dolby Theatre.
Após o fato, a academia teve poucas opções, principalmente porque Smith renunciou antes que sua participação na Academia pudesse ser revogada, disse ela.
O próximo filme de Smith, o thriller de ação Emancipation, sobre um homem que escapa da escravidão, está programado para ser lançado ainda este ano. Nenhuma atualização sobre o filme da Apple TV+ foi dada desde o incidente na cerimônia do Oscar.
le (Lusa, Reuters)
A história do Brasil no Oscar
O Brasil levou a primeira estatueta por Melhor Filme Internacional. O país já teve diversas obras indicadas ao prêmio. Veja a trajetória de brasileiros na premiação.
Foto: Capital Pictures/IMAGO
"Orfeu negro"
Em 1960, "Orfeu negro", uma coprodução entre Brasil, França e Itália, ganhou a estatueta de melhor filme estrangeiro. Por representar a França, os louros ficaram com os europeus. Mas durante 65 anos foi o único filme de língua portuguesa a ganhar um Oscar.
Candidatos a melhor filme estrangeiro
Vencedor da Palma de Ouro em Cannes, "O pagador de promessas", de Anselmo Duarte, garantiu a primeira indicação para o Brasil, em 1962. Em 1995, a história de dois casais de imigrantes italianos vivendo sob o mesmo teto rendeu uma indicação a "O quatrilho", de Fabio Barreto. Dois anos depois, seu irmão, Bruno Barreto (foto), foi indicado na mesma categoria, por "O que é isso companheiro?".
Foto: picture-alliance/dpa
Melhor filme
Esnobado na categoria de filme estrangeiro, "O beijo da mulher aranha" (1985), coprodução com os EUA, foi o primeiro longa latino-americano indicado como melhor filme. A amizade entre um preso político (Raul Julia) e um homem homossexual (Will Hurt) em um presídio brasileiro também rendeu indicações de melhor roteiro adaptado e diretor (Hector Babenco). Hurt venceu como melhor ator.
Foto: 2015 ICRA LLC
"Central do Brasil"
Depois de levar o Urso de Ouro na Berlinale, "Central do Brasil", de Walter Salles, partiu para uma triunfante carreira internacional. Indicado ao Oscar de melhor filme estrangeiro em 1999, o drama sobre a amizade de um menino abandonado e uma mulher desiludida de meia-idade levou também a indicação inédita de melhor atriz para Fernanda Montenegro. Mas nenhum dos dois prêmios foi para o Brasil.
Foto: picture-alliance/dpa/Buena_vista
Melhor curta-metragem
Brasileiros ainda emplacaram duas indicações em melhor curta-metragem. Diretor de sucessos como "A era do gelo 2", o carioca Carlos Saldanha (foto) foi indicado, em 2002, pela animação americana "Gone nutty". "Uma história de futebol" também levou Paulo Machline aos finalistas do prêmio, em 2001. O curta recria passagens da infância de Pelé e de Zuza, seu companheiro de pelada na cidade de Bauru.
Foto: Charley Gallay/Getty Images
Melhor direção
Apesar do sucesso comercial no exterior, "Cidade de Deus" foi esnobado ao prêmio de filme estrangeiro em 2004. Mas o frenético retrato do crescimento do crime organizado na favela carioca teve indicações a melhor roteiro adaptado, melhor edição e melhor fotografia. Fernando Meirelles também foi indicado como melhor diretor, mas quem levou a estatueta foi Peter Jackson, por "O Senhor dos Anéis".
Foto: imago/United Archives
Melhor canção original
O primeiro brasileiro indicado ao Oscar foi o compositor Ary Barroso (foto), autor de "Aquarela do Brasil". Ele foi um dos finalistas ao prêmio pela canção "Rio de Janeiro", do filme "Brasil", em 1945 — uma produção americana. Mais de meio século depois, em 2012, Carlinhos Brown e Sergio Mendes voltaram a representar o país na categoria com "Real in Rio", parte da trilha sonora da animação "Rio".
Foto: Brasilianisches Nationalarchiv - Arquivo Nacional
Os pré-selecionados
Por anos, a seleção de inscritos na disputa pelo Oscar coube a uma comissão do Ministério da Cultura. Desde 1954, com "O cangaceiro", de Lima Barreto, foram mais de 45 títulos, mas só quatro ficaram entre os finalistas. Em 2014, "Hoje eu quero voltar sozinho" (foto), de Daniel Ribeiro, não conseguiu uma indicação. Desde 2021, a seleção passou a ser feita pela Academia Brasileira de Cinema.
Foto: D. Ribeiro
Melhor documentário
"O Sal da Terra", de Wim Wenders e Juliano Salgado, disputou o Oscar de melhor documentário em 2015. O filme retrata a história do fotógrafo brasileiro Sebastião Salgado, pai de Juliano. O Brasil havia concorrido antes na categoria, em 2011, por "Lixo Extraordinário", que conta a história de um projeto social no aterro do Jardim Gramacho, no Rio de Janeiro. Os filmes não foram premiados.
Foto: Wim Wenders/NFP*
Candidato em 2020
"Democracia em vertigem", da diretora Petra Costa, concorreu à estatueta de melhor documentário em 2020, mas perdeu o prêmio para "Indústria americana". O filme brasileiro, incluído na lista dos melhores do ano do "New York Times", aborda a ascensão e queda do PT e a polarização entre esquerda e direita no país. Foi a última produção brasileira a ser finalista do Oscar antes de 2025.
Foto: Netlix/Divulgação
"Ainda Estou Aqui" conquista Oscar de melhor filme internacional
"Ainda Estou Aqui" já tinha feito história ao ser indicado para três categorias do Oscar. Em 2025, conquistou a estatueta de melhor filme internacional. O filme de Walter Salles, sobre a ditadura, foi é a primeira produção totalmente brasileira a disputar o prêmio de melhor filme. Anora, de Sean Baker, venceu nas categorias de Melhor Filme e Melhor Atriz, pelas quais o Brasil também concorria.