Wisconsin tem duas mortes em protesto antirracismo
26 de agosto de 2020
Polícia busca homem que teria feito disparos durante ato em Kenosha. Nova onda de manifestações contra a brutalidade policial teve início após o afro-americano Jacob Blake ter sido baleado à queima-roupa por agentes.
Anúncio
A polícia da cidade americana de Kenosha, em Wisconsin, afirmou nesta quarta-feira (26/08) que ao menos duas pessoas morreram baleadas e uma ficou ferida durante um protesto antirracismo na madrugada anterior. Policiais teriam respondido a relatos de tiros com várias vítimas pouco antes da meia-noite.
A nova série de protestos antirracistas começou depois da divulgação de um vídeo mostrando o afro-americano Jacob Blake sendo baleado várias vezes à queima-roupa durante uma ação policial em Kenosha. O incidente ocorreu no domingo passado, e por três noites seguidas manifestantes saíram às ruas da cidade.
Blake, de 29 anos, estava tentando entrar em seu veículo, onde estavam seus três filhos, quando foi baleado. No vídeo, é possível ouvir o som de sete tiros.
O mais recente caso de violência policial contra um homem negro também gerou protestos em outras cidades dos Estados Unidos, incluindo Nova York e Minneapolis, como parte do movimento Black Lives Matter.
A maioria dos protestos transcorreu pacificamente, embora alguns manifestantes já tenham incendiado carros e edifícios nas noites de domingo e segunda-feira em Kenosha.
"Os tiros [no ato de terça-feira] resultaram em duas mortes e uma terceira vítima baleada, que foi levada ao hospital com ferimentos graves, mas que não representam ameaça à sua vida", comunicou nesta quarta-feira o departamento de polícia local no Twitter, acrescentando que a investigação sobre o incidente na madrugada anterior está "em andamento".
O xerife David Beth afirmou que a polícia estava procurando um homem armado que teria feito os disparos, de acordo com o jornal The New York Times. Ao jornal Milwaukee Journal Sentinel, Beth disse que pessoas armadas estavam patrulhando as ruas da cidade nas últimas noites, mas ele não sabia se o atirador estava entre elas. "São uma milícia", disse o xerife.
Um vídeo de celular postado na internet com parte do incidente mostra o que parece ser um homem branco com um rifle semiautomático correndo na rua, enquanto várias pessoas e alguns policiais o seguem. Alguém na multidão pergunta: "O que ele fez?'', e outra pessoa responde que o homem atirou em alguém.
Testemunhas afirmaram ter visto um pessoa descrita como "tipo de milícia" disparando contra a cabeça de um manifestante.
Uma breve história do Black Lives Matter
02:19
Ainda no vídeo, o homem com a arma tropeça e cai e, ao ser abordado por pessoas na multidão, dispara três ou quatro tiros ainda sentado, atingindo pelo menos duas pessoas.
Quando a multidão se dispersa, o atirador se levanta e continua andando pela rua, enquanto os carros da polícia chegam. O homem levanta as mãos e caminha em direção às viaturas, com alguém na multidão gritando para a polícia que o homem tinha acabado de atirar em alguém.
"Milagre"
Durante entrevista na terça-feira, Ben Crump, advogado da família de Jacob Blake, disse que o rapaz foi baleado várias vezes pela polícia no domingo, e que será "preciso um milagre'' para que ele volte a andar novamente. Ele pediu que o policial que disparou seja preso e que os outros envolvidos percam seus empregos.
A polícia de Kenosha disse pouco sobre o que aconteceu no domingo, exceto que eles estavam respondendo a um chamado sobre briga doméstica.
"Ele atirou sete vezes no meu filho. Sete vezes!", disse o pai de Blake. A mãe da vítima, Julia Jackson, convocou protestos pacíficos. "Se Jacob soubesse que tipo de violência e destruição está acontecendo, ele ficaria muito infeliz", disse. A família disse que ele ficou paralisado da cintura para baixo – as balas atingiram sua coluna, estômago, fígado e braço.
Milhares se manifestaram nos Estados Unidos e até no Canadá contra o maltrato sistêmico de negros pela polícia, redundando em confrontações violentas. Trump contribuiu para acirrar os ânimos.
Foto: picture-alliance/AP Photo/J. Cortez
"Não consigo respirar"
Protestos tensos contra décadas de brutalidade policial perante cidadãos negros se alastraram rapidamente de Minneapolis a outras localidades dos Estados Unidos. As manifestações começaram na cidade do centro-oeste após a morte do afro-americano George Floyd, de 46 anos: em 25/05/2020, um policial o algemou e pressionou o joelho em seu pescoço até ele parar de respirar.
Foto: picture-alliance/newscom/C. Sipkin
De pacífico a violento
No sábado, os protestos foram basicamente pacíficos, mas se tornaram violentos com o avançar da noite. Em Washington, a Guarda Nacional foi mobilizada diante da Casa Branca. Tiroteios no centro de Indianápolis deixaram pelo menos um morto: segundo a polícia, não havia agentes envolvidos. Policiais ficaram feridos em Filadélfia. Em Nova York, dois veículos da polícia avançaram contra uma multidão.
Foto: picture-alliance/ZUMA/J. Mallin
Saques e destruição
Em Los Angeles, manifestantes enfrentaram com brados de "Black Lives Matter!" (Vidas negras importam) os agentes da lei armados de cassetetes e revólveres com balas de borracha. Na cidade, assim como em Atlanta, Nova York, Chicago e Minneapolis, os protestos se transformaram em revoltas de massa, com saques e destruição de estabelecimentos comercias.
Foto: picture-alliance/AP Photo/C. Pizello
Provocador de Estado
O então presidente Donald Trump ameaçou enviar militares para abafar os protestos: "Minha administração vai parar a violência de massa, e de uma vez só", anunciou, acirrando as tensões nos EUA. Apesar de ele ter culpado supostos grupos de extrema esquerda pelas agitações, o governador de Minnesota, Tim Walz, citou diversos relatos de que supremacistas brancos estariam incitando o conflito.
Foto: picture-alliance/ZUMA/K. Birmingham
Mídia na mira da polícia
Diversos jornalistas que cobriam os protestos foram atacados por policiais. Na sexta-feira (29/05), o correspondente da CNN Omar Jimenez e sua equipe foram presos em Minneapolis. A polícia local também atirou na direção de Stefan Simons, da DW, quando ele se preparava para transmitir ao vivo, na noite de sábado. Outros repórteres foram alvejados com projéteis ou detidos quando estavam no ar.
Foto: Getty Images/S. Olson
Além das fronteiras
As manifestações chegaram até o Canadá: no sábado milhares marcharam pelas ruas de Vancouver e Toronto. Nesta cidade, os participantes também lembraram a morte da afro-canadense Regis Korchinski-Paquet, de 29 anos, na quarta-feira (27/05), caída da varanda de seu apartamento no 24º andar, onde se encontrava só com policiais.
Foto: picture-alliance/NurPhoto/A. Shivaani
#GeorgeFloyd
Milhares também desfilaram diante da embaixada dos Estados Unidos em Berlim, manifestando indignação contra o homicídio de Floyd e o racismo sistêmico.
Foto: picture-alliance/AP Photo/M:.Schreiber
Casa Branca cercada
A Força Nacional fez um cordão de isolamento, no domingo, para proteger a Casa Branca. O presidente Trump chegou a ser levado para um bunker na sede do Executivo, que foi alvo de manifestações por dias.
Foto: Reuters/J. Ernst
Soldados em Washington
Após Trump anunciar o uso de soldados para conter as manifestações, o Pentágono deslocou cerca de 1.600 militares para a área de Washington para apoiar as forças de segurança da capital caso seja necessário, diante dos protestos que marcaram uma semana da morte de Floyd. Na Alemanha, o ministro do Exterior, Heiko Maas, criticou a ameaça de Trump de usar militares armados contra os manifestantes.
Foto: Getty Images/AFP/W. McNamee
Recado de Obama
No dia em que a procuradoria endureceu as acusações contras os quatro policias envolvidos na ação, o ex-presidente dos EUA Barack Obama disse que protestos refletem "mudança de mentalidade" no país e incentivou os jovens a continuar realizando as manifestações. "Espero que (os jovens) sintam esperança, ao mesmo tempo que estão indignados, porque eles têm o poder de mudar as coisas", afirmou.
Foto: Reuters/J. Skipper
Funeral reúne centenas em Minneapolis
Centenas participaram de uma cerimônia fúnebre em homenagem a George Floyd em 04/06. Elas ficaram em silêncio por 8 minutos e 46 segundos, tempo em que Floyd ficou com o pescoço prensado pelo joelho de um policial. "É hora de nos levantarmos em nome de Floyd e dizer: tirem o seu joelho dos nossos pescoços", afirmou o reverendo e ativista pelos direitos civis Al Sharpton (foto) durante o funeral.