Zabel assume trono do ciclismo alemão
10 de julho de 2002Rei morto, rei posto. Para alívio dos promotores do ciclismo alemão, o vazio e a frustração deixados pela ausência e pelo doping de Jan Ullrich nos fãs do esporte parecem fadados a uma vida curtíssima. Ao vestir na terça-feira a camisa amarela da Volta da França, após assumir a liderança da classificação geral após a terceira etapa, Erik Zabel mostrou ter tudo para manter os espectadores de seu país ligados na mais importante competição do ciclismo de estrada do mundo.
Segundo atleta mais querido do público alemão em 2001, Ullrich não participa do Tour de France devido a uma insistente lesão no joelho. A renúncia forçada à competição o deprimiu tanto que acabou tomando anfetamina numa discoteca, em maio, na véspera de um exame antidoping de surpresa. O caso chegou ao conhecimento público três dias antes do início da Volta da França, abalando a equipe Deutsche Telekom e a torcida nacional.
Uma semana depois, Zabel desfez o estado de choque. Com seu segundo lugar na terceira etapa, o berlinense reativou as esperanças de todos e trouxe um pouco do que comemorar à diretoria da Deutsche Telekom, atualmente sob fogo cerrado da imprensa e dos acionistas, devido à contínua desvalorização de suas ações. Hoje, os papéis da companhia telefônica valem menos do que em 1996, quando começou o processo de privatização da empresa, que ainda tem o Estado como principal acionista (43%).
Currículo de vitórias
- Zabel está longe, porém, de ser uma novidade no cenário esportivo. Ele é o líder do ranking mundial de ciclismo. Desde 1994, o berlinense corre a Volta da França, já tendo vencido 11 etapas e acostumado o público a vê-lo com a camisa verde, que identifica o líder entre os sprinters da competição. Nos últimos seis anos, o berlinense levou o título da especialidade para sua casa em Unna. Porém, a camisa amarela, que identifica o líder da classificação, não é inédita em sua carreira. Já em 1998, ele sentiu o prazer de trajá-la, mesmo que tenha sido por um dia. Além disto, Zabel faturou, em 2000, a Copa do Mundo de ciclismo de estrada.Aos 32 anos, este ciclista vinha tendo, no entanto, sua bem sucedida carreira na equipe ofuscada pelo brilho de Jan Ullrich. Sem este, Zabel assumiu o posto de capitão da Deutsche Telekom e tem o palco livre para brilhar como nunca. Todavia o novo papel traz consigo o peso da expectativa em torno de seu desempenho. Ele reconhece que a nova responsabilidade interfere em seu rendimento.
Melhor manter o estilo
- "Percebi que é duplamente mais difícil atingir uma meta quando se a quer muito", diz o berlinense, que conquistou a liderança da Volta da França com "um dia de atraso" e sem ter vencido nenhuma das três primeiras etapas. No domingo, em Luxemburgo, ficou em segundo. Depois, precisava de novo segundo lugar na chegada a Saarbrücken, na Alemanha.Na ânsia de ganhar a etapa, gastou seu fôlego, entrou na reta final em segundo e não resistiu ao ataque do espanhol Oscar Freire, que passou feito um foguete rumo à vitória, jogando o alemão para terceiro nos metros finais. No caminho para Reims, o capitão da Deutsche Telekom concentrou-se mais, obteve a necessária segunda posição e assumiu a camisa amarela,.
"Conclui que não posso alterar meu estilo de corrida. Tenho de tentar mantê-lo tal como fui bem sucedido", analisa Zabel, mostrando ter aprendido uma lição na véspera.
Ciclismo de pai para filho
- Lições esportivas ele recebe praticamente desde o berço. Zabel nasceu a 7 de julho de 1970 no bairro berlinense de Prenzlauer Berg, no lado oriental da então metrópole dividida. Seu pai, Detlev, integrava a seleção nacional da República Democrática Alemã (RDA). Isto ajudou a abrir-lhe as portas do TSC Berlin, um dos grandes centros de formação de ciclistas do outrora regime comunista. De pedalada em pedalada, chegou à equipe de juniores da Alemanha Oriental.Veio então a reunificação alemã e, em 1991, Zabel transferiu-se para o clube Olympia de Dortmund. Não demorou por lá. Já no ano seguinte assinava um contrato como sprinter profissional com a Deutsche Telekom. Especialistas em velocidade, os sprinters atingem até 70 km/h. Muitas vezes, têm de enfiar suas bicicletas em lacunas mínimas entre os concorrentes para conseguir ultrapassá-los. Para serem bem sucedidos, não lhes basta energia, mas também inteligência, esperteza, sangue frio e ousadia. Qualidades que não faltam a Zabel.
"Erik está sempre lá na frente. Os demais sprinters apenas em alguns dias. Esta é a diferença. Estou otimista de que sua 12ª vitória numa etapa da Volta da França ainda virá este ano", aposta Walter Godefroot, diretor da equipe Deutsche Telekom.