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Zeitgeist: A China e a diplomacia do panda

6 de julho de 2017

Desde os anos 1950, chineses usam pandas para reforçar laços com outros países, inicialmente como presente e, nas últimas décadas, apenas por empréstimo. Simpatia dos animais garante sucesso da iniciativa.

Xi Jinping e Angela Merkel no zoológico de Berlim
Xi Jinping e Angela Merkel ao lado de um "simpático diplomata" chinês no zoológico de BerlimFoto: Reuters/A. Schmidt

A diplomacia do panda é o nome que se dá ao uso que a República Popular da China faz desse animal no âmbito da política externa, presenteando-o – ou, mais recentemente, emprestando-o – a outros países num gesto de cortesia diplomática.

Pandas são vistos como um símbolo de paz e inocência e atraem a atenção no mundo todo, mas o único habitat natural deles são regiões montanhosas do centro da China. Assim, eles são também um símbolo do país, onde são tratados como um tesouro nacional.

Além disso, são raros: o último censo, de 2015, contabilizou 1.864 animais vivendo livres. Há cerca de 300 vivendo em cativeiro, a maioria em zoológicos chineses, mas alguns também no exterior.

Pois, desde os anos 1950, os pandas passaram a ser usados pelos chineses como um presente diplomático. Entre 1958 e 1982, a China deu 23 desses ursos para nove países, incluindo dois para a Alemanha. O presente era visto como um gesto de reconhecimento e amizade.

O termo diplomacia do panda, porém, passou a ser mais conhecido depois de 1972, quando o então presidente dos Estados Unidos, Richard Nixon, ganhou dois animais de Mao Tsé-Tung durante sua histórica visita à China.

Expostos no zoológico de Washington, os ursos atraíram milhões de visitantes, e sua cessão foi vista pelos chineses como um lance bem-sucedido para melhorar a imagem do país no exterior.

Mas, depois que os pandas se tornaram animais ameaçados de extinção, pressões de ambientalistas fizeram com que a China revisse seu gesto de simplesmente presenteá-los. Eles passaram a ser emprestados por dez anos, a um custo de 1 milhão de dólares por ano por animal. Se eles se reproduzirem, cada filhote custa mais 400 mil dólares por ano. E todos são propriedade da China.

Que eles tenham um preço não significa, porém, que qualquer país que disponha desse dinheiro possa ter um panda. A China apenas empresta seus ursos para países selecionados, com quais mantém fortes relações econômicas ou políticas.

Após a Alemanha receber dois novos pandas em julho de 2017, a chanceler federal alemã, Angela Merkel, afirmou que os ursos são "diplomatas muito simpáticos". Tais palavras tem um significado mais amplo do que se pode pensar num primeiro momento. Pois, assim como as nações chamam de volta seus diplomatas quando cortam relações, a China pode levar de volta seus pandas se estiver insatisfeita com algum gesto do país agraciado com a presença deles.

Em 2009, por exemplo, os chineses não renovaram o empréstimo de um panda nascido no zoológico de Washington, e especialistas suspeitam que o motivo tenha sido uma venda de armas dos Estados Unidos para Taiwan.

Em 2014, a China atrasou o envio de dois pandas para a Malásia depois da tragédia com o voo MH370, que transportava muitos chineses. Aparentemente, o governo em Pequim estava irritado com as investigações conduzidas pela Malásia.

Outro gesto curioso aconteceu em 2005, quando o governo de Taiwan recusou a oferta de dois pandas feita durante a visita de um líder opositor à China, temendo que o gesto fosse entendido como sendo de propaganda pró-reunificação.

Em 2008, já com um novo governo, Taiwan acabou aceitando o presente. Pouco depois da oferta inicial, os pandas foram batizados pelos chineses num programa de televisão: eles foram chamados Tuan Tuan e Yuan Yuan. Tuanyuan significa reunião em mandarim.

A coluna Zeitgeist oferece informações de fundo com o objetivo de contextualizar temas da atualidade, permitindo ao leitor uma compreensão mais aprofundada das notícias que ele recebe no dia a dia.

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