Pacifismo é forte na sociedade japonesa e ancorado em conjunto de leis que renuncia explicitamente à guerra. Mas constantes ameaças vindas da Coreia do Norte estão dando fôlego àqueles que querem mudar isso.
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O pacifismo é um componente essencial da sociedade japonesa desde o fim da Segunda Guerra Mundial, que terminou em 2 de setembro de 1945 com a capitulação do Japão, após o lançamento das bombas atômicas sobre Hiroshima e Nagasaki.
Único povo a experimentar os horrores das armas nucleares, os japoneses têm, desde então, uma atitude de rejeição em relação à guerra e ao uso da força militar.
Essa atitude encontra eco na Constituição do país, frequentemente qualificada de pacifista, e que, no seu artigo nono, renuncia explicitamente à guerra, "para sempre", e afirma que "forças áreas, marítimas e terrestres, como também qualquer outro potencial de guerra, nunca serão mantidos".
Assim, os militares japoneses, apropriadamente conhecidos como Forças de Autodefesa, têm, como função mais importante, a assistência em tragédias, como no terremoto seguido de tsunami em março de 2011.
Mas pedidos para mudar a Constituição, que foi escrita e imposta pelos americanos em 1946, têm se tornado mais frequentes no últimos anos e ganharam ainda mais força com as recentes ameaças da Coreia do Norte. Muitos japoneses acreditam que a carta magna está defasada e não reflete as atuais circunstâncias geopolíticas.
Entre aqueles que defendem alterar a Constituição está o primeiro-ministro Shinzo Abe, um conservador nacionalista. Em 2015, ele conseguiu aprovar no Parlamento leis que ampliam as funções dos militares japoneses, permitindo, por exemplo, que eles possam ajudar tropas de países aliados que estiverem sob ataque.
A controversa legislação levou a protestos de larga escala no Japão, com centenas de milhares de pessoas nas ruas, algo raro no país.
Agora, os apoiadores da reforma da Constituição se sentem fortalecidos pelas ameaças cada vez mais frequentes vindas da Coreia do Norte e já falam em novas mudanças. O ministro da Defesa, Itsunori Onodera, disse que a capacidade de ataque do país precisa ser ampliada.
E a imprensa japonesa noticiou que Abe pretende acelerar planos para reformar a Constituição, apresentando ainda este ano uma série de propostas ao Parlamento. Antes se falava em alterar o artigo nono até 2020.
Uma alteração na Constituição, em vigor desde 3 de maio de 1947, necessita de uma maioria de dois terços no Parlamento e de aprovação por referendo popular.
A coluna Zeitgeist oferece informações de fundo com o objetivo de contextualizar temas da atualidade, permitindo ao leitor uma compreensão mais aprofundada das notícias que ele recebe no dia a dia.
Os ataques nucleares a Hiroshima e Nagasaki
Ataques às duas cidades japonesas em 1945 são os únicos casos de emprego de armas atômicas numa guerra.
Foto: Kazuhiro Nogi/AFP/Getty Images
O primeiro ataque
Em 6 de agosto de 1945, o avião Enola Gay lançou, sobre Hiroshima, a primeira bomba nuclear da história. A bomba carregava o inocente apelido de "Little Boy". A cidade tinha então 350 mil habitantes. Um em cada cinco morreu em questão de segundos. Hiroshima foi praticamente varrida do mapa.
Foto: Three Lions/Getty Images
O Enola Gay
O ataque a Hiroshima estava planejado para acontecer em 1 de agosto de 1945, mas teve que ser adiado devido a um tufão. Cinco dias depois, o Enola Gay partiu com 13 tripulantes a bordo. A tripulação só ficou sabendo durante o voo que lançariam uma bomba atômica.
Foto: gemeinfrei
O segundo ataque
Três dias depois do ataque a Hiroshima, os americanos lançaram uma segunda bomba, sobre Nagasaki. A cidade de Kokura era o alvo original do ataque, mas o tempo nublado fez com que os americanos mudassem seus planos. A bomba apelidada de "Fat Man" tinha uma potência de 22 mil toneladas de TNT. Estima-se que 70 mil pessoas morreram até dezembro de 1945.
Foto: Courtesy of the National Archives/Newsmakers
Alvo estratégico
Em 1945, Nagasaki era sede da Mitsubishi, então fábrica de armas responsável por desenvolver os torpedos usados no ataque a Pearl Harbor. No entanto, apenas alguns soldados japoneses estavam baseados na cidade. A má visibilidade não possibilitou um ataque direto contra os estaleiros da fábrica.
Foto: picture-alliance/dpa
As vítimas
Durante meses após os ataques, dezenas de milhares de pessoas morreram por causa dos efeitos das explosões. Somente em Hiroshima, até o fim de 1945, 60 mil pessoas morreram por conta da radiação, de queimaduras e outros ferimentos graves. Em cinco anos, o número estimado de vítimas dos dois bombardeios atômicos é de 230 mil pessoas.
Foto: Keystone/Getty Images
Terror no fim da guerra
Depois de Hiroshima e Nagasaki, muitos japoneses temeram um terceiro ataque, a Tóquio. O Japão declarou então sua rendição, pondo fim à Segunda Guerra também na Ásia. O então presidente americano, Harry Truman, ordenou os bombardeios. Ele estava convencido de que essa era a única maneira de acabar com a guerra rapidamente. Para muitos historiadores, no entanto, os ataques foram crimes de guerra.
Foto: AP
A reconstrução
Devastada, Hiroshima foi reconstruída do zero. Apenas uma ilha, no rio Ota, foi mantida e se tornou o Parque Memorial da Paz. Hoje, há uma série de memoriais: o Museu Memorial da Paz de Hiroshima; a Estátua das Crianças da Bomba Atômica; as Ruínas da Indústria e Comércio; e a Chama da Paz, que vai permanecer acesa até a última bomba atômica do planeta ser destruída.
Foto: Keystone/Getty Images
Contra o esquecimento
Desde 1955, o Museu da Bomba Atômica e o Parque da Paz de Nagasaki prestam homenagem às vítimas dos ataques. No Japão, a reverência às vítimas desempenha um grande papel na cultura e na identidade nacional. Hiroshima e Nagasaki se tornaram símbolos mundiais dos horrores das armas nucleares.
Foto: Getty Images
Dia para relembrar
Desde os ataques de agosto de 1945, as pessoas em todo o mundo lembram as vítimas dos bombardeios atômicos. Em Hiroshima, acontece anualmente um memorial. Sobreviventes, familiares, cidadãos e políticos se reúnem para um minuto de silêncio. Muitos japoneses estão engajados contra o desarmamento nuclear.