Ilha se vê como uma nação soberana e democrática, mas governo comunista em Pequim a considera uma província rebelde que deve ser impedida à força de buscar a independência. Confira na coluna desta semana.
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A questão taiwanesa é um dos temas mais delicados na República Popular da China, que considera a ilha de Taiwan (ou Formosa) como parte do seu território, na forma de uma província dissidente. Se a ilha tentar sua independência, deve ser impedida à força, na interpretação chinesa.
Já o governo de Taiwan, ou oficialmente República da China, vê-se como um estado soberano, com constituição, forças armadas, moeda e eleições democráticas. A capital é Taipé. Na prática, Taiwan é separado da China desde 1949, quando o aparato governamental do partido Kuomintang fugiu para a ilha, vindo do território continental chinês, que havia sido tomado pelos comunistas liderados por Mao Tse-tung.
No âmbito internacional, os dois governos se viram durante muito tempos como representantes únicos da nação chinesa e consideraram o outro lado como ilegítimo. Até os anos 1970, a maioria dos países alinhados aos Estados Unidos considerava a República da China (Taiwan) como a única China, enquanto que o bloco comunista dava esse status à República Popular da China.
No Conselho de Segurança da ONU, por exemplo, a cadeira reservada à China era ocupada pelo governo da República da China, ou Taiwan. Só em 1971 as Nações Unidas mudaram de posição, passando a reconhecer a República Popular da China como representante da nação chinesa.
Já os Estados Unidos, de longe o principal aliado de Taiwan, trocaram o reconhecimento diplomático de Taiwan para a China em 1979, num processo de aproximação com Pequim. Desde então, os EUA não reconhecem diplomaticamente Taiwan e nenhum presidente americano jamais ligou para um líder taiwanês. Ainda assim, os americanos mantiveram a parceria com Taiwan, a quem fornecem armas, e se declaram comprometidos com a segurança da ilha.
Apesar de, formalmente, os dois lados ainda se verem como representantes de toda a China, há diferentes interpretações do que seria essa uma China. A República Popular da China, por exemplo, considera que há apenas uma China, composta do território continental e de Taiwan. A eleição de Ma Ying-jeou em Taiwan, em 2008, também ajudou a aproximar os países.
Desde os anos 1980, os dois lados também se aproximaram movidos por interesses comerciais. A China é hoje o maior parceiro comercial de Taiwan. Já a ilha é um dos principais investidores na República Popular.
Histórico
Em 1895, a dinastia Qing cedeu Taiwan ao Japão, depois da derrota na Primeira Guerra Sino-Japonesa. Com a derrota do Japão na Segunda Guerra Mundial, os Aliados devolveram Taiwan à China, que era então governada por Chiang Kai-shek e se chamava oficialmente República da China.
Só que, nos anos seguintes, as forças de Chiang Kai-shek foram sendo sistematicamente derrotadas pelos comunistas liderados por Mao Tse-tung. Como resultado, Chiang e seu aparato governamental, formado pelo partido Kuomintang, fugiram para a ilha de Taiwan em 1949.
O que era uma ditadura tornou-se ao poucos uma democracia, num processo liderado pelo filho de Chiang Kai-shek, Chiang Ching-kuo. Assim, em 2000 foi eleito o primeiro presidente não ligado ao Kuomintang, Chen Shui-ban.
A coluna Zeitgeist oferece informações de fundo com o objetivo de contextualizar temas da atualidade, permitindo ao leitor uma compreensão mais aprofundada das notícias que ele recebe no dia a dia.
Guerra da Coreia, 70 anos depois
Combates na península coreana duraram mais de três anos. De um lado, o sul, apoiado pela ONU. Do outro, o norte, reforçado por China e URSS. Guerra acabou em 1953, com milhões de mortos e a divisão das Coreias cimentada.
Foto: AP
Fronteira da Guerra Fria
Em 27 de julho de 1950, as tropas da comunista Coreia do Norte atravessam o Paralelo 38, iniciando uma verdadeira campanha de ocupação. Em poucos dias, praticamente todo o país estava sob seu controle. É o início de uma guerra que durará 37 meses, custando 4,5 milhões de vidas humanas, segundo certas estimativas.
Foto: AFP/Getty Images
Antecedentes
Depois de ser ocupada pelo Japão de 1910 a 1945, a Coreia estava dividida desde o fim da Segunda Guerra Mundial. O território acima do 38º paralelo norte ficou sob controle soviético, o do sul, na mão dos EUA. Em agosto de 1948, Seul proclama a República da Coreia. Em reação, o general Kim Il-sung cria no norte a República Popular Democrática da Coreia, em 9 de setembro do mesmo ano.
Foto: picture-alliance / akg-images
Reforço da ONU
Seguindo o avanço dos norte-coreanos sobre o Paralelo 38, a partir de julho de 1950 as Nações Unidas decidem dar apoio militar à Coreia do Sul, por pressão dos EUA. São enviados para a península 40 mil soldados de mais de 20 países, entre os quais 36 mil norte-americanos. A sorte parece ter virado: logo os Aliados conseguem ocupar quase todo o país.
Foto: AFP/Getty Images
Codinome Operação Chromite
Em 15 de setembro de 1950, tropas ocidentais sob o comando do general Douglas MacArthur desembarcam perto da cidade portuária de Incheon, no sudoeste, capturando uma base central de suporte do Norte. Pouco depois, Seul está novamente na mão dos Aliados, que em outubro também ocupam Pyongyang. O fim da guerra parece próximo. Mas aí a China envia tropas de apoio aos norte-coreanos.
Foto: picture alliance/AP Photo
Ajuda de Mao
Em meados de outubro iniciava-se a intervenção chinesa. De início, a ajuda parte apenas de unidades de pequeno porte. No final do mês ocorre a primeira mobilização em grande escala na Coreia do Norte do "exército de voluntários" de Mao. Em 5 de dezembro, Pyongyang – única capital comunista ocupada por tropas ocidentais durante a Guerra Fria – está novamente nas mãos de norte-coreanos e chineses.
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Pró e contra a bomba atômica
Em janeiro de 1951 começa uma grande ofensiva da Coreia do Norte, com apoio chinês. Cerca de 400 mil chineses e 100 mil norte-coreanos forçam as tropas aliadas a recuar fortemente. Em abril, o general MacArthur é destituído de seu posto, depois que o presidente Harry Truman lhe ordenara usar bombas atômicas contra a China. Seu sucessor é o general Matthew B. Ridgway.
Foto: picture-alliance/dpa
Guerra de exaustão
Em meados de 1951, mais ou menos na altura da linha de demarcação que separava o Norte e o Sul antes da guerra, as forças oponentes chegam a um impasse. A partir daí, começa uma encarniçada guerra de exaustão, que durará até o fim das operações de combate, dois anos mais tarde – embora as negociações de paz já tivessem sido iniciadas em julho de 1951.
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Batalha de ideologias
O conflito entre as Coreias é considerado a primeira "guerra por procuração" entre o Ocidente capitalista e o Oriente comunista. A maior parte dos soldados lutando nas tropas da ONU vinha dos Estados Unidos. No lado oposto, os norte-coreanos contaram com o reforço de centenas de milhares de chineses e russos.
Foto: AFP/Getty Images
Coreia do Norte em ruínas
Desde o início, foi uma guerra de ataques aéreos e bombardeios. Durante os três anos de combates, as forças aéreas das Nações Unidas realizaram mais de 1 milhão de operações. Ao todo, os americanos lançaram cerca de 450 mil toneladas de bombas, inclusive de napalm, sobre a Coreia do Norte. A destruição foi extensa: ao fim da guerra, quase todas grandes cidades estavam arrasadas.
Foto: AFP/Getty Images
Estimativas conflitantes
Quando, em 1953, as tropas aliadas se retiram da península coreana, o saldo é de milhões de mortos. Os dados sobre o número de soldados caídos são conflitantes. Calcula-se que morreram cerca de meio milhão de militares coreanos, assim como 400 mil chineses. Os Aliados registram 40 mil vítimas, 90% delas americanos.
Foto: Keystone/Getty Images
Troca de prisioneiros
Ainda durante os combates, de meados de maio a início de abril de 1953, ocorreu a primeira troca de presos entre os dois lados. Até o fim do ano, mais detentos seriam repatriados. A ONU devolveu mais de 75 mil norte-coreanos e quase 6.700 chineses. O outro lado soltou 13.500 pessoas, entre as quais 8.300 sul-coreanos e 3.700 soldados dos EUA.
Foto: Keystone/Getty Images
Cessar-fogo
Após mais de dois anos, as negociações de cessar-fogo iniciadas em 10 de julho de 1951 culminam no Armistício de Panmunjom. A divisão da península está sedimentada: o 38º paralelo norte é definido com fronteira entre as Coreias do Norte e do Sul. Mas como um tratado de paz nunca foi assinado, do ponto de vista do direito internacional os dois países se encontram até hoje em estado de guerra.
Foto: AFP/Getty Images
Terra de ninguém
O idílio na cidade fronteiriça de Panmunjom é enganoso. Até hoje, a fronteira ao longo do Paralelo 38 é a mais rigorosamente vigiada do mundo. Ao longo da linha estipulada no acordo de armistício de 1953, o Norte e o Sul são separados por uma zona desmilitarizada de cerca de 250 quilômetros de extensão e 4 quilômetros de largura. Aqui, soldados de ambos os lados se defrontam diariamente.