Esquerda ou direita? Mais eleitores se declaram centristas na Alemanha do que em qualquer outra grande economia europeia, o que tem influência decisiva no resultado das urnas e se reflete na composição do atual governo.
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"Eleições são vencidas no centro" é um dos ditados mais conhecidos da política alemã, e a verdade é que em poucos países europeus essa máxima é tão válida quanto na Alemanha.
Se na França, por exemplo, ser de esquerda ou de direita é frequentemente uma questão de identidade pessoal, na Alemanha a ampla maioria dos eleitores prefere se posicionar no centro do espectro político.
Uma recente pesquisa da Fundação Bertelsmann comprovou essa conhecida aversão dos alemães pelos extremos: 80% disseram ser do centro político, com 44% optando pela centro-esquerda, e 36%, pela centro-direita.
Esse percentual é o maior entre as seis principais economias da União Europeia e também está bem acima da média desses países, que é de 66% dos eleitores no centro político. Na França, por exemplo, 24% dos entrevistados disseram ser de esquerda, e 25%, de direita.
Essa preferência dos alemães se reflete na composição do atual governo: os três partidos da chamada grande coalizão, União Democrata Cristã (CDU), União Social Cristã (CSU) e Partido Social-Democrata (SPD), têm exatamente 80% dos mandatos no Bundestag (Parlamento alemão).
Todos os três são de centro, sendo o SPD um partido de centro-esquerda e a CDU e CSU, de centro-direita. Curioso é que, apesar de mais eleitores se declararem de centro-esquerda do que de centro-direita, os três últimos governos foram liderados pela centro-direita, com a chanceler federal Angela Merkel à frente.
Ainda mais curioso, Merkel costuma passar por cima de tradicionais posições de direita da CDU e da CSU e se adonar de bandeiras típicas da esquerda alemã. Foi assim em temas como energia nuclear, serviço militar e casamento gay.
Ao abrir as fronteiras da Alemanha para o ingresso de centenas de milhares de refugiados, ela conseguiu a proeza, para uma chanceler da CDU, de ser elogiada pela esquerda alemã.
De certa forma, o famoso pragmatismo merkeliano – deixar as ideologias políticas de lado e fazer aquilo que a maioria da população pensa – está em linha com essa aversão da maioria dos alemães por ideologias e extremos políticos – o que é uma possível explicação para a popularidade da chanceler federal.
A coluna Zeitgeist oferece informações de fundo com o objetivo de contextualizar temas da atualidade, permitindo ao leitor uma compreensão mais aprofundada das notícias que ele recebe no dia a dia.
Os principais partidos alemães
São eles: Partido Social-Democrata (SPD), União Democrata Cristã (CDU), União Social Cristã (CSU), Partido Liberal Democrático (FDP), Alternativa para a Alemanha (AfD), Aliança 90/Os Verdes e A Esquerda.
Foto: picture-alliance/dpa
União Democrata Cristã (CDU)
Fundada em 1945, a CDU se considera "popular de centro". Seus governos predominaram na política alemã do pós-guerra. O partido soma em sua história cinco chanceleres federais, entre eles Helmut Kohl, que governou por 16 anos e conduziu o país à reunificação em 1990, e Angela Merkel, a primeira mulher a assumir o cargo, em 2005.
Foto: picture-alliance/dpa/A. Dedert
União Social Cristã (CSU)
Igualmente fundada em 1945, a CSU só existe na Baviera, onde a CDU não está organizada. Os dois partidos são considerados irmãos. A CSU tem como objetivo um Estado democrático e com responsabilidade social, fundamentado na visão cristã do mundo e da humanidade. Desde 1949, forma no Bundestag uma bancada única com a CDU.
Foto: Getty Images
Partido Social-Democrata da Alemanha (SPD)
Integrante da Internacional Socialista, o SPD é uma reconstituição da legenda homônima fundada em 1869 e identificada com o proletariado. Na Primeira Guerra, ele se dividiu em dois partidos, ambos proibidos em 1933 pelo regime nazista. Recriado após a Segunda Guerra, o SPD já elegeu quatro chanceleres federais: Willy Brandt, Helmut Schmidt, Gerhard Schröder e Olaf Scholz.
Foto: picture-alliance/dpa/J. Carstensen
Aliança 90 / Os Verdes (Partido Verde)
O partido Os Verdes surgiu em 1980, após três anos participando de eleições como chapa avulsa, defendendo questões ambientais e a paz. Em 1983, conseguiu formar uma bancada no Bundestag. Oito anos depois, o movimento Aliança 90 se fundiu com ele. Em 1998 participou com o SPD pela primeira vez do governo federal.
Foto: REUTERS/T. Schmuelgen
Partido Liberal Democrático (FDP)
O FDP foi criado em 1948, inspirado na tradição do liberalismo e valorizando a "filosofia da liberdade e o movimento pelos direitos individuais". Resgata a herança política de legendas liberais proibidas pelo nazismo.
Foto: picture-alliance/dpa
A Esquerda (Die Linke)
Die Linke surgiu da fusão, em 2007, de duas agremiações esquerdistas: o Partido do Socialismo Democrático (PDS), sucessor do Partido Socialista Unitário (SED) da extinta Alemanha Oriental, e o Alternativa Eleitoral por Trabalho e Justiça Social (WASG, criado em 2005, aglutinando dissidentes do SPD e sindicalistas).
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Alternativa para a Alemanha (AfD)
Fundada em 2013, e atualmente representada no Parlamento Europeu e em legislativos estaduais alemães, a AfD se alinha com outros partidos populistas de direita europeus, como FPÖ, FN ou Ukip. Só em 2016 ela definiu seu programa partidário, que oscila entre visões reacionárias, conservadoras, liberais e libertárias.
Foto: Reuters/W. Rattay
Os pequenos
Há numerosos partidos menores na Alemanha, como Os Republicanos (REP) e o Partido Nacional-Democrata da Alemanha (NPD), ambos de extrema direita, ou o Partido Marxista-Leninista (MLPD), de extrema esquerda. Outros defendem causas específicas, como o Partido dos Aposentados, o das mulheres, dos não eleitores, ou de proteção dos animais. E mesmo o Violeta, que reivindica uma política espiritualista.