A Grande Mesquita era famosa por seu minarete inclinado, símbolo da segunda maior cidade do Iraque. Ele marcou a paisagem local até a destruição pelo grupo extremista "Estado Islâmico".
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A mesquita Al Nuri, que foi destruída com explosivos em 21 de junho de 2017, era conhecida também como a Grande Mesquita de Mossul e ficava no coração do centro histórico da cidade. Seu minarete de 45 metros de altura, famoso por sua inclinação, era o principal símbolo de Mossul, uma espécie de Torre de Pisa do Iraque.
O minarete era tão simbólico e peculiar devido ao seu formato, com uma inclinação de cerca de 2 metros e meio, que era conhecido pela população local pelo apelido de Hadba, ou corcunda. Ele foi concluído no século 12 e era a última parte remanescente da mesquita original.
Visível a quilômetros de distância, ele marcou a paisagem da segunda maior cidade do Iraque por mais de oito séculos e batizou inúmeros restaurantes e empresas, além de aparecer nas notas de 10 mil dinares.
Aparentemente, a má qualidade do material de construção, os fortes ventos e o sol intenso eram responsáveis pela inclinação do minarete, que para muitos observadores lembrava a imagem de uma pessoa se inclinando em reverência.
Os moradores da cidade gostavam de inventar histórias em torno do Hadba, incluindo explicações para a inclinação. A mais famosa dizia que o minarete se inclinou em reverência quando o profeta Maomé passou por lá, ignorando o fato de que Maomé morrera séculos antes de a mesquita ser construída.
O nome da mesquita homenageava Nur al-Din Mahmud Zangi, um antigo governante turco de Mossul e Aleppo, que ficou famoso por unificar e mobilizar forças muçulmanas para a jihad contra os cruzados. Ele ordenou a construção da mesquita em 1172, pouco antes de sua morte.
No mundo ocidental, a construção ficou conhecida quando os jihadistas do então "Estado Islâmico no Iraque e no Levante" tomaram a cidade de Mossul, em junho de 2014. No dia 12, eles assassinaram o imã da mesquita, Mohammed al-Mansouri, por ele ter se recusado a se unir a eles.
Também naquele mês, o grupo se renomeou "Estado Islâmico" e proclamou um califado nos territórios ocupados. O anúncio foi feito do púlpito da Grande Mesquita pelo líder do grupo, Abu Bakr al-Baghdadi, que se declarou califa e exigiu obediência de muçulmanos de todo o mundo.
Há relatos de que, quando jihadistas do "Estado Islâmico" tentaram explodir a mesquita, ainda em 2014, foram impedidos por uma corrente humana formada pelos moradores.
A destruição chocou e irritou muitas pessoas no Iraque. Nas mídias sociais, usuários afirmaram que era como se Paris perdesse a Torre Eiffel ou se a Torre de Pisa tivesse sido explodida.
A coluna Zeitgeist oferece informações de fundo com o objetivo de contextualizar temas da atualidade, permitindo ao leitor uma compreensão mais aprofundada das notícias que ele recebe no dia a dia.
"Estado Islâmico": de militância sunita a califado
Origens do grupo jihadista remontam à invasão do Iraque, em 2003. Nascido como oposição ao domínio xiita e inicialmente um braço da Al Qaeda, EI passou por mudanças e virou uma ameaça internacional.
Foto: picture-alliance/AP Photo
A origem do "Estado Islâmico"
A trajetória do "Estado Islâmico" (EI) começou em 2003, com a derrubada do ditador iraquiano Saddam Hussein pelos EUA. O grupo sunita surgiu a partir da união de diversas organizações extremistas, leais ao antigo regime, que lutavam contra a ocupação americana e contra a ascensão dos xiitas ao governo iraquiano.
Foto: picture-alliance/AP Photo
Braço da Al Qaeda
A insurreição se tornou cada vez mais radical, à medida que fundamentalistas islâmicos liderados pelo jordaniano Abu Musab al Zarqawi, fundador da Al Qaeda no Iraque (AQI), infiltraram suas alas. Os militantes liderados por Zarqawi eram tão cruéis que tribos sunitas no Iraque ocidental se voltaram contra eles e se aliaram às forças americanas, no que ficou conhecido como "Despertar Sunita".
Foto: AP
Aparente contenção
Em junho de 2006, as Forças Armadas dos EUA mataram Zarqawi numa ofensiva aérea e ele foi sucedido por Abu Ayyub al-Masri e Abu Omar al-Bagdadi. A AQI mudou de nome para Estado Islâmico do Iraque (EII). No ano seguinte, Washington intensificou sua presença militar no país. Masri e Bagdadi foram mortos em 2010.
Foto: AP
Volta dos jihadistas
Após a retirada das tropas dos EUA do Iraque, efetuada entre junho de 2009 e dezembro de 2011, os jihadistas começaram a se reagrupar, tendo como novo líder Abu Bakr al-Bagdadi, que teria convivido e atuado com Zarqawi no Afeganistão. Ele rebatizou o grupo militante sunita como Estado Islâmico do Iraque e do Levante (EIIL).
Foto: picture alliance/dpa
Ruptura com Al Qaeda
Em 2011, quando a Síria mergulhou na guerra civil, o EIIL atravessou a fronteira para participar da luta contra o presidente Bashar al-Assad. Os jihadistas tentaram se fundir com a Frente Al Nusrah, outro grupo da Síria associado à Al Qaeda. Isso provocou uma ruptura entre o EIIL e a central da Al Qaeda no Paquistão, pois o líder desta, Ayman al-Zawahiri, rejeitou a manobra.
Foto: dapd
Ascensão do "Estado Islâmico"
Apesar do racha com a Al Qaeda, o EIIL fez conquistas significativas na Síria, combatendo tanto as forças de Assad quanto rebeldes moderados. Após estabelecer uma base militar no nordeste do país, lançou uma ofensiva contra o Iraque, tomando sua segunda maior cidade, Mossul, em 10 de junho de 2014. Nesse momento o grupo já havia sido novamente rebatizado, desta vez como "Estado Islâmico".
Foto: picture alliance / AP Photo
Importância de Mossul
A tomada da metrópole iraquiana Mossul foi significativa, tanto do ponto de vista econômico quanto estratégico. Ela é uma importante rota de exportação de petróleo e ponto de convergência dos caminhos para a Síria. Mas a conquista da cidade é vista como apenas uma etapa para os extremistas, que pretenderiam avançar a partir dela.
Foto: Getty Images
Atual abrangência do EI
Além das áreas atingidas pela guerra civil na Síria, o EI avançou continuamente pelo norte e oeste iraquianos, enquanto as forças federais de segurança entravam em colapso. No fim de junho, a organização declarou um "Estado Islâmico" que atravessa a fronteira sírio-iraquiana e tem Abu Bakr al-Bagdadi como "califa".
Foto: Reuters
As leis do "califado"
Abu Bakr al-Bagdadi impôs uma forma implacável da charia, a lei tradicional islâmica, com penas que incluem mutilações e execuções públicas. Membros de minorias religiosas, como cristãos e yazidis, deixaram a região do "califado" após serem colocados diante da opção: converter-se ao islã sunita, pagar um imposto ou serem executados. Os xiitas também eram alvo de perseguição.
Foto: Reuters
Guerra contra o patrimônio histórico
O EI destruiu tesouros arqueológicos milenares em cidades como Palmira (foto), na Síria, ou Mossul, Hatra e Nínive, no Iraque. Eles diziam que esculturas antigas entram em contradição com sua interpretação radical dos princípios do Islã. Especialistas afirmam, porém, que o grupo faturou alto no mercado internacional com a venda ilegal de estátuas menores, enquanto as maiores eram destruídas.
Foto: Fotolia/bbbar
Ameaça terrorista
Durante suas ofensivas armadas, o "Estado Islâmico" saqueou centenas de milhões de dólares em dinheiro e ocupou diversos campos petrolíferos no Iraque e na Síria. Seus militantes também se apossaram do armamento militar de fabricação americana das forças governamentais iraquianas, obtendo, assim, poder de fogo adicional.