Com uma agenda socialista de raiz, veterano de 68 anos consegue empolgar Partido Trabalhista e tem chances reais de chegar ao poder. Mas história da ascensão de Corbyn é também a da divisão dos conservadores.
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A empolgação era grande durante o congresso anual do Partido Trabalhista britânico em Brighton, no sul da Inglaterra, no fim de setembro. Animada, a massa gritava o nome de seu novo ídolo ao ritmo do refrão de Seven Nation Army, da banda White Stripes.
O que se via em Brighton beirava o culto. E, assim como aconteceu com Bernie Sanders e o Partido Democrata nos Estados Unidos, um socialista da velha guarda, com ideias dos tempos em que o socialismo ainda valia o seu nome, era o centro da festa e atraía sobretudo os jovens.
Esse modelo old school se chama Jeremy Corbyn. Ainda uns tempos atrás, ninguém dava nada por ele. Hoje esse veterano de 68 anos tem chances reais de se tornar o próximo primeiro-ministro do Reino Unido. Nas pesquisas, o Partido Trabalhista tem 43% contra 39% dos conservadores. Na liderança dele, o partido saltou de 400 mil para quase 600 mil filiados.
E Corbyn conseguiu isso com uma agenda política que parece saída de 1968 e causa arrepios entre os liberais e conservadores. Ele quer a estatização de bancos, da água e da luz. Mais impostos para os ricos e o fim das mensalidades nas universidades. Ele odeia os EUA e simpatiza com Chávez e Putin. Já defendeu o Reino Unido fora da Otan e sem armas nucleares. "Nós somos o mainstream político e estamos prontos para o governo", bradou, para o delírio do seu público.
A história da ascensão de Corbyn é também a do declínio de Theresa May. Na mesma dimensão em que o Partido Trabalhista está fechado atrás de seu líder, os torys se digladiam entre si e se afastam de May. Desprezada, ironizada e enfraquecida, ela se tornou uma dead woman walking, como definiu o ex-ministro das Finanças George Osborne.
Colaborou para essa situação a decisão de May, extremamente controversa do partido, de convocar as eleições antecipadas de junho. Para Corbyn, elas foram um presente que caiu do céu. O Partido Trabalhista obteve 30 novos mandatos, os conservadores perderam a maioria. Desde então, nada mais dá certo para May.
E essa situação tem profundas consequências para o Reino Unido. O Brexit é o principal evento político do país em décadas. As negociações em Bruxelas são duras e seriam difíceis até mesmo para um governo forte, o que o de May está muito longe de ser.
Corbyn, aliás, mantém um silêncio estratégico sobre o Brexit. O tema tem grande potencial para dividir os trabalhistas, que se firmaram como a principal força contra a saída do Reino Unido. Porém, para um socialista-raiz como Corbyn, a União Europeia é um clube exclusivo de neoliberais ricos que tem por objetivo manter os neoliberais ricos.
O que Corbyn faz, neste momento, é esperar. Ele navega na onda da simpatia pelas suas ideias e do enfraquecimento do governo May. Se novas eleições acontecerem, e isso não é nada improvável, tem boas chances de ser o próximo primeiro-ministro.
A coluna Zeitgeist oferece informações de fundo com o objetivo de contextualizar temas da atualidade, permitindo ao leitor uma compreensão mais aprofundada das notícias que recebe no dia a dia.
Mulheres no poder
A maioria dos 193 países nas Nações Unidas é governada por homens. Mulheres à frente de uma nação são raras. Mas há exceções. Algumas são bem conhecidas; outras, nem tanto.
Foto: Reuters/Y. Herman
Angela Merkel
Eleita chanceler federal da Alemanha em 2005, foi a primeira mulher a chefiar um governo alemão. Com 62 anos de idade, cumpre seu terceiro mandato e concorre ao quarto nas eleições de setembro próximo. Muitos consideram Merkel a mulher mais poderosa do mundo. Em 2015, a revista americana "Time" escolheu a filha de pastor protestante a "Personalidade do Ano".
Foto: picture alliance/dpa/M.Gambarini
Theresa May
É a segunda primeira-ministra britânica, após Margaret Thatcher, que governou o país na década de 1980. A ex-ministra do Interior, de 60 anos, mudou-se para Downing Street pouco depois do referendo pela saída do Reino Unido da União Europeia, em julho de 2016. Agora ela enfrenta a difícil tarefa de negociar a saída de seu país do bloco.
Foto: picture-alliance/dpa/H. Tyagi
Beata Szydlo
A terceira mulher na chefia do governo polonês está há quase um ano no cargo. Em seu primeiro discurso diante do Parlamento, a política do partido conservador Direito e Justiça (PiS) disse ser uma prioridade do governo "garantir a segurança da Polônia e contribuir para a segurança da UE". Beata Szydlo, da 54 anos, é católica devota.
Foto: picture-alliance/W. Dabkowski
Tsai Ing-wen
Tsai Ing-wen é a primeira mulher presidente de Taiwan. Por causa de suas críticas à China, após sua posse, em maio último, Pequim congelou as relações com Taiwan. A China é irredutível na posição de que Taiwan, um estreito aliado dos Estados Unidos, algum dia se tornará independente. Tsai Ing-wen assegura que não vai "ceder a qualquer pressão" na questão da soberania.
Foto: Reuters/T. Siu
Ellen Johnson Sirleaf
A política hoje com 78 anos foi a primeira líder democraticamente eleita, em 2006, não só na Libéria, mas em todo o continente africano. Em 2011, ela e outras duas ativistas da Libéria e do Iêmen receberam o Prêmio Nobel da Paz "por sua luta pacífica pela segurança das mulheres e pelos direitos das mulheres à plena participação no trabalho para garantir a paz".
Foto: Reuters/N. Kharmis
Dalia Grybauskaitė
Dalia Grybauskaitėist é a primeira chefe de governo da Lituânia. Da mesma forma como a ex-premiê Thatcher, Grybauskaitė muitas vezes é chamada "dama de ferro". Antes de ser eleita para o governo da Lituânia em 2009, e ser reeleita em 2014, ela conquistou a faixa preta em caratê, ocupou diversos postos no governo de seu país e foi comissária de Programação Financeira e Orçamento da União Europeia.
Foto: Reuters/E. Vidal
Erna Solberg
A Noruega é governada pela segunda mulher, depois de Gro Harlem Brundtland, nos anos 1980 e 1990. Erna Solberg, que tem 56 anos, tornou-se primeira-ministra em 2013. Por causa de sua rígida posição em relação à política de asilo, ela também é chamada "Erna de ferro".
Foto: picture-alliance/dpa/V. Wivestad Groett
Saara Kuugongelwa-Amadhila
Ao assumir, em 2015, a política hoje com 49 anos foi a primeira mulher na chefia do governo da Namíbia. Ainda jovem, ela havia se exilado em Serra Leoa. Mais tarde, estudou Economia nos Estados Unidos. Em 1994, ela retornou à Namíbia e iniciou a carreira política.
Foto: Imago/X. Afrika
Michelle Bachelet
No atual mandato, Michelle Bachelet é presidente do Chile desde 2014, mas ela também já esteve neste cargo de 2006 a 2010, quando foi a primeira mulher a ocupar a chefia do governo chileno. Durante a ditadura chilena, ela esteve presa e foi torturada. Mais tarde, viveu no exílio na Austrália e na então Alemanha Oriental, onde estudou Medicina.
Foto: Getty Images/AFP/C. Reyes
Hasina Wajed
Em 2016, a primeira-ministra de Bangladesh esteve na lista das 100 mulheres mais poderosas do mundo, segundo a revista "Forbes". Hasina Wajed, de 69 anos, governa o oitavo maior país do mundo em número de população – 162 milhões de habitantes – desde 2009. Ela está na política há várias décadas.
Foto: picture-alliance/dpa/Bildfunk
Kolinda Grabar-Kitarovic
Em 2015, foi eleita presidente da Croácia, tornando-se a primeira mulher neste cargo no país. A política de 49 anos já havia ocupado outros postos no governo de seu país e representou a Croácia como embaixadora em Washington. Grabar-Kitarovic também foi a primeira mulher a ser secretária-geral adjunta para a Diplomacia Pública na Otan.