Cidade é a mais disputada da guerra civil síria, e uma vitória teria importância militar estratégica tanto para os rebeldes como para o governo. Confira na coluna desta semana.
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Até o início da guerra civil, Aleppo era a maior cidade e também o principal centro econômico e comercial da Síria. Viviam nela 2,1 milhões de pessoas. Com o início da Batalha de Aleppo, em julho de 2012, a população diminuiu constantemente. Estimativas afirmam que cerca de 1,8 milhão de pessoas ainda moram na cidade, das quais 1,5 milhão na área controlada pelo governo e 250 mil nos setores dos rebeldes.
Aleppo era também conhecida pela sua oferta cultural e vida noturna, e seu centro histórico – em boa parte destruído – foi declarado Patrimônio da Humanidade pela Unesco. É uma das cidades mais antigas do mundo, habitada desde o 6º milênio antes de Cristo, e foi a terceira maior cidade do Império Otomano, depois de Constantinopla e Cairo.
Hoje, Aleppo é a cidade mais disputada da guerra civil síria e está dividida entre as facções beligerantes. Os rebeldes controlam a parte oriental, e as forças apoiadoras do regime sírio, a ocidental. As Unidades de Proteção Popular (YPG, no original), a organização armada dos curdos sírios, controlam o bairro de Sheikh Maqsoud, no norte, habitado majoritariamente por curdos.
Tanto a área oriental controlada pelos rebeldes como o bairro de Sheikh Maqsoud são, na prática, enclaves. Em julho de 2016, as tropas leais ao presidente Bashar al-Assad, apoiadas por jatos russos, conseguiram conquistar Castello Road, a última grande via que conectava o enclave rebelde ao mundo externo, na prática isolando-o.
Esse cerco durou cerca de 40 dias. Por esse período, a parte oriental de Aleppo não recebeu suprimentos. No início de agosto, os rebeldes conseguiram abrir o cerco, usando uma rota alternativa, a partir do sul. Porém, no início de setembro, as forças do governo voltaram a controlar todas as vias de acesso à área oriental, restabelecendo o cerco.
Além de grupos moderados, representados principalmente pelo Exército Livre da Síria, as facções rebeldes incluem também milícias islamistas, como a antiga Frente al-Nusra (atual Frente Fateh al-Sham, ou Frente da Conquista do Levante) e a Frente Ansar Dine.
As forças do governo são apoiadas por milícias xiitas, comandadas pelo Irã, e também por combatentes do grupo libanês Hisbolá, aliado de longa data de Assad.
O grupo jihadista "Estado Islâmico" tem uma participação inexpressiva na Batalha de Aleppo.
Para o regime de Assad, a conquista de Aleppo tem valor simbólico, por ser a maior cidade do país, e também estratégico. Aleppo está localizada a cerca de 50 quilômetros da fronteira com a Turquia, e no meio do caminho entre o Mar Mediterrâneo e o rio Eufrates.
Se tiver o completo controle sobre Aleppo, o regime de Assad vai ter dado um passo importante para alcançar seu objetivo de retomar o controle sobre todo o país, pois já domina outras grandes cidades, como Damasco, Homs, Hama e Lataquia. Se os rebeldes perderem Aleppo, os combates vão se restringir ao interior do país, de menor importância estratégica.
Como a mais disputada cidade da guerra civil síria, Aleppo está, em grande parte, destruída. "Em muitos aspectos, Aleppo é para a Síria o que Saraievo foi para a Bósnia ou Guernica para a guerra civil espanhola", disse o embaixador da França na ONU, François Delattre.
A coluna Zeitgeist oferece informações de fundo com o objetivo de contextualizar temas da atualidade, permitindo ao leitor uma compreensão mais aprofundada das notícias que ele recebe no dia a dia.
A guerra civil na Síria antes do EI
O "Estado Islâmico" inflamou o debate sobre como pôr fim à guerra civil síria. Contudo o grupo só emergiu mais tarde no conflito. Confira alguns momentos dessa guerra que abriram espaço para o avanço dos jihadistas.
Foto: AP
Março de 2011
Enquanto regimes ruem por todo o Oriente Médio, dezenas de milhares de sírios vão às ruas para protestar contra a corrupção, o desemprego elevado e a alta dos preços dos alimentos. O governo da Síria responde com armas de fogo. Até maio, cerca de 400 vidas são ceifadas.
Foto: dapd
Maio de 2011
Sob insistência dos países ocidentais, o Conselho de Segurança da ONU condena a repressão violenta. Nos meses seguintes, os Estados Unidos e a União Europeia impõem embargo de armas, recusa de vistos e congelamento de bens. Com apoio da Liga Árabe, aumenta a pressão para a saída do presidente sírio Bashar al-Assad – embora sem o aval de todos os países-membros da ONU.
Foto: picture-alliance/dpa/J. Szenes
Agosto de 2011
Em 1970 um golpe pusera Hafez al-Assad no poder. Após sua morte, em 2000, o filho Bashar (à dir.) assume a liderança. De início tido como reformista, ele perde apoio ao manter o estado de emergência que há décadas restringe as liberdades políticas, permitindo vigilância e interrogatórios. Assad tem respaldo da Rússia, que lhe fornece armas e repetidamente veta as resoluções da ONU sobre a Síria.
Foto: picture-alliance/dpa/Stringer/Ap/Pool
Dezembro de 2011
A ONU e outras organizações têm provas de violação dos direitos humanos na Síria. Civis e militares desertores começam a se organizar lentamente para combater as forças do governo, que vêm atacando os dissidentes. Até o fim de 2011, essa luta causa mais de 5 mil mortes. Mesmo assim, ainda transcorrem seis meses até a ONU reconhecer que o país está em guerra.
Foto: Reuters/Goran Tomasevic
Setembro de 2012
O Irã finalmente confirma que tem combatentes em solo sírio, fato que Damasco negava há tempos. A presença de tropas aliadas acentua a hesitação dos Estados Unidos e de outras potências ocidentais em intervir no conflito. Os EUA, marcados pelas intervenções fracassadas no Afeganistão e no Iraque, propõem o diálogo como única solução sensata.
Foto: AP
Março de 2013
As mortes beiram 100 mil, e o total de refugiados em países vizinhos como a Turquia e a Jordânia atinge 1 milhão – número que duplicaria até setembro. Em dois anos de guerra, o Ocidente e a Liga Árabe veem fracassar todas as tentativas de um governo de transição, enquanto o conflito transborda para a Turquia e o Líbano. O pior temor é de que Assad se mantenha no poder a todo custo.
Foto: Reuters/B. Khabieh
Abril de 2013
Há muito Assad alega estar combatendo terroristas. Mas só no segundo ano de guerra se confirma que o Exército Livre Sírio inclui extremistas radicais. O grupo Frente al-Nusra declara apoio à Al Qaeda, fragmentando ainda mais a oposição.
Foto: Reuters/A. Abdullah
Junho de 2013
A Casa Branca afirma ter provas de que Assad está atacando civis com o gás tóxico sarin. Mais tarde a informação é corroborada pela ONU. A partir da revelação, o presidente dos EUA, Barack Obama, e outros líderes ocidentais passam a considerar uma intervenção militar. No entanto a proposta da Rússia para que se retirem as armas químicas da Síria acaba por se impor.
Foto: Reuters
Janeiro de 2014
Ao fim de 2013 surgem relatos sobre um novo grupo autodenominado Estado Islâmico do Iraque e do Levante – o futuro EI. Ao tomar terras no norte da Síria e também no Iraque, os jihadistas despertam lutas internas na oposição, causando 500 mortes até o início de janeiro. Esse terceiro e inesperado fator levaria os EUA, França, Arábia Saudita e outras nações à intervir na guerra em meados do ano.