A política alemã tem uma peculiaridade: a existência, no campo conservador, de dois partidos políticos irmãos, que não concorrem um contra o outro e formam uma bancada única.
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O debate sobre a política de refugiados do governo da Alemanha chama a atenção para uma peculiaridade da política do país: a existência de dois partidos do campo democrata-cristão e conservador muito semelhantes entre si: a União Democrata Cristã (CDU) e União Social Cristã (CSU).
A CDU é presidida pela chanceler federal Angela Merkel, e a CSU é liderada pelo governador da Baviera, Horst Seehofer. Ao lado do Partido Social-Democrata (SPD), elas formam a coalizão que atualmente governa a Alemanha.
A principal diferença entre os dois partidos é que a CSU é ativa apenas na Baviera, um dos estados do sul do país. Já a CDU é ativa em todos os outros 15 estados da federação. Juntas, elas formam o que, no jargão político alemão, chama-se de União. Como não estão em concorrência direta, a lei permite que CDU e CSU se unam no Bundestag (Parlamento), formando uma bancada única.
A existência de dois partidos conservadores remonta aos primeiros anos do pós-Guerra, quando as correntes conservadoras da Baviera se reuniram na CSU, enquanto que, em todos os demais 15 estados, elas formaram a CDU.
A CSU, assim como a Baviera, é predominantemente católica. Já a CDU costuma ter melhor desempenho em regiões católicas do que nas protestantes, apesar de as duas correntes cristãs estarem representadas de forma mais equilibrada no partido.
Os programas partidários de CDU e CSU são muito semelhantes. A CSU é mais conservadora do que a CDU em temas envolvendo a família, como a defesa de uma ajuda financeira do governo para mães que optam por ficar em casa cuidando dos filhos em vez de deixá-los numa creche. A CSU também costuma adotar um tom mais regional e ser mais crítica em relação à União Europeia do que a CDU.
A crise dos refugiados expôs uma nova diferença entre os dois partidos, com a CSU exigindo a criação de centros de registro e retenção de migrantes nas fronteiras e a criação de um teto máximo para o acolhimento. As duas propostas são rejeitadas por Merkel e pela CDU. A questão dos refugiados se tornou um conflito aberto entre Merkel e Seehofer.
Debates sobre uma possível expansão da CSU para toda a Alemanha retornam de tempos em tempos desde os anos 1970, principalmente quando as divergências entre os dois partidos aumentam. No início dos anos 1970, a CSU iniciou esse debate motivada pelo enfraquecimento do bloco conservador, que estava na oposição. A tese corrente era de que os conservadores teriam melhores chances eleitorais se houvesse dois partidos em nível nacional, um de perfil mais liberal e outro conservador.
Já em 1976, a derrota eleitoral do então presidente da CDU, Helmut Kohl, gerou uma luta aberta de poder entre ele e o presidente da CSU, Franz Josef Strauss. Em novembro daquele ano, a CSU se separou oficialmente da CDU e iniciou preparativos para uma expansão em nível nacional. Em resposta, a CDU ameaçou com a sua presença na Baviera, o que fez os líderes da CSU repensarem sua decisão e desistirem da separação poucos dias depois.
A coluna Zeitgeist oferece informações de fundo com o objetivo de contextualizar temas da atualidade, permitindo ao leitor uma compreensão mais aprofundada das notícias que ele recebe no dia a dia.
Dez anos de Merkel como chanceler federal alemã
Angela Merkel chegou a ser vista apenas como líder interina do partido União Democrata Cristã (CDU) depois da saída de Helmut Kohl da chancelaria federal da Alemanha. Dez anos depois, a era Merkel continua.
Foto: picture-alliance/dpa/B. von Jutrczenka
Primeiro juramento
"Eu quero servir a Alemanha". A promessa foi feita por Angela Merkel no dia 22 de novembro de 2005, quando tomou posse como chanceler. Depois da vitória apertada nas eleições gerais, ela se tornou a primeira mulher e a primeira alemã da antiga parte oriental a ocupar o cargo. Merkel se tornou a chefe de governo, comandado pela grande coalizão formada entre os partidos CDU, CSU e SPD.
Foto: picture-alliance/dpa/G. Bergmann
O convidado do Tibet
O início da gestão de Merkel foi marcado por uma forma reservada de governar e por seu estilo de liderança "presidencial". Mas, em 2007, Merkel causou polêmica ao se reunir com Dalai Lama. O encontro gerou descontentamento em Pequim e fragilizou as relações entre Alemanha e China. A chanceler desafiou as preocupações e sinalizou querer se destacar como defensora de direitos humanos.
Foto: picture-alliance/dpa/M. Schreiber
Quem tem medo do cão de Putin?
Merkel é conhecida por sempre ser racional e se manter calma. O presidente da Rússia, Vladimir Putin, quis aparentemente testar os nervos da chanceler quando a recebeu na residência presidencial em Sochi, em 2007. Putin conseguiu revelar o ponto fraco de Merkel: ela tem medo de cães. Isso não impediu que o presidente russo deixasse o labrador Koni farejar os sapatos da chanceler.
Foto: picture-alliance/dpa/D. Astakhov
Resgate financeiro
Em situações de crise, Merkel age com frieza. Quando os mercados financeiros entraram em colapso em 2008 e ameaçaram prejudicar a economia alemã, a chanceler se empenhou na proteção do euro e na criação de fundos de resgate para as economias mais fracas do bloco europeu. Ela se destacou como eficiente gestora de crises, mas não escapou de receber críticas de países como Grécia e Espanha.
Foto: picture-alliance/epa/H. Villalobos
Caminho para o segundo mandato
Apesar do pior desempenho da aliança conservadora na história, Merkel venceu as eleições de 27 de setembro de 2009. Depois de se aliar ao Partido Social-Democrata (SPD), a chanceler estava pronta para iniciar o segundo mandato ao lado de outro parceiro, o Partido Liberal Democrático (FDP).
Foto: Getty Images/A. Rentz
Resposta rápida
Merkel que, como física, é conhecida por pensar de forma objetiva, não previu a catástrofe nuclear de Fukushima, no Japão. Denfensora da política nuclear na Alemanha, Merkel mudou de posição em tempo recorde. A extensão do prazo de funcionamento das usinas foi suspenso e a Alemanha iniciou o processo de colocar fim ao uso da energia nuclear.
Foto: Getty Images/G. Bergmann
O homem ao seu lado
Quem o reconheceria? Quem conhece sua voz? Há dez anos, o marido de Merkel, Joachim Sauer, professor de Química da Universidade Humboldt, em Berlim, se mantém discreto. Eles estão casados desde 1998.
Foto: picture alliance/Infophoto
Amizade em crise
As escutas de comunicações de políticos alemães por parte da Agência de Segurança Nacional (NSA), dos Estados Unidos, abalaram as relações da Alemanha com a Casa Branca. Até o celular de Merkel foi alvo de espionagem. Uma frase da chanceler ficou famosa: "Não é aceitável que países amigos espiem uns aos outros".
Foto: Reuters/F. Bensch
O paciente grego
O clube de fãs de Merkel é extenso, mas na Grécia é provavelmente menor. A hostilidade contra a chanceler alemã nunca foi tão grande como em 2014, no auge da crise da dívida grega. A imagem de velha inimiga ressurgiu, mas Merkel se manteve firme em relação à política de austeridade que previu cortes e reformas a serem cumpridos por Atenas.
Foto: picture-alliance/epa/S. Pantzartzi
Emotiva, às vezes
Tipicamente reservada, Merkel quebrou os protocolos durante a final da Copa do Mundo de 2014 no Rio de Janeiro. A chanceler federal alemã celebrou a vitória da Alemanha sobre a Argentina ao lado do presidente alemão, Joachim Gauck. Ela estava no auge de sua popularidade, assim como a seleção vitoriosa.
Foto: imago/Action Pictures
"Nós podemos fazer isso!"
Para Merkel, o direito de asilo a refugiados não pode ser limitado. "Nós podemos fazer isso" se tornou o credo da chanceler sobre a política alemã de acolhida aos migrantes que fogem de guerras e perseguições. Se o país dará conta da enorme demanda, isso já é uma pergunta ainda em aberto.
Foto: picture-alliance/dpa/S. Hoppe
"E agora, Merkel?"
Sexta-feira 13 – um massacre em novembro. A França está em situação de emergência e Merkel ofereceu "toda a assistência" ao país vizinho. O medo do terrorismo se espalha. Não há dúvidas de que esse é maior desafio de Merkel em dez anos no poder.