Ficar muitos anos no poder é frequente na Alemanha, onde não há limites para a reeleição de um chanceler. Helmut Kohl ficou 16 anos no cargo, e Konrad Adenauer, 14.
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Desde a sua fundação, em 1949, a Alemanha teve oito chanceleres federais: sete homens e uma mulher ocuparam o cargo mais poderoso da república (mas não o primeiro na hierarquia, que é o de chefe de Estado, ou presidente).
Não é nenhuma raridade que um chefe de governo alemão fique muitos anos no cargo, dando a impressão, para as gerações mais jovens, de que ele sempre esteve lá, como é o caso da atual mandatária, Angela Merkel, no poder desde 2005.
Já o primeiro chanceler do pós-Guerra, Konrad Adenauer, foi reeleito três vezes (em 1953, 1957 e 1961) e ficou 14 anos no cargo – dos 73 aos 88 anos. O recordista, porém, é Helmut Kohl, que foi chanceler federal de 1982 a 1998, ou 16 anos. Kohl é também o único a chegar ao cargo por meio de uma moção de desconfiança, que o então chanceler Helmut Schmidt perdeu, em 1982.
Na época, o Partido Liberal Democrático (FDP) trocou de lado, abandonando o Partido Social-Democrata (SPD), com quem governava em coalizão, e apoiando a União Democrata Cristã (CDU), partido de Kohl, Adenauer e Merkel.
A CDU é o partido político que mais cedeu chanceleres à república: são cinco. Além de Adenauer, Kohl e Merkel, completam a lista Ludwig Erhard (1963 a 1966) e Kurt Georg Kiesinger (1966 a 1969).
Os outros três chanceleres são todos do SPD: Willy Brandt (1969 a 1974), Helmut Schmidt (1974 a 1982) e Gerhard Schröder (1998 e 2005). Apesar do número menor, os social-democratas têm, com Helmut Schmidt, o chanceler preferido dos alemães, segundo uma pesquisa da revista Stern de 2013. Dos consultados, 25% disseram que Schmidt foi o chanceler mais importante do pós-Guerra, seguido de Adenauer, destacado por 23%.
Na Alemanha não há limites para a reeleição do chanceler federal. Ele deixa o cargo se desistir de concorrer, perder a eleição ou for derrubado por um voto de desconfiança do Parlamento. Ao anunciar sua intenção de concorrer a um quarto mandato, Merkel se filia à tradição de que nenhum chanceler alemão do pós-Guerra deixou o poder por vontade própria.
A coluna Zeitgeist oferece informações de fundo com o objetivo de contextualizar temas da atualidade, permitindo ao leitor uma compreensão mais aprofundada das notícias que ele recebe no dia a dia.
Dez anos de Merkel como chanceler federal alemã
Angela Merkel chegou a ser vista apenas como líder interina do partido União Democrata Cristã (CDU) depois da saída de Helmut Kohl da chancelaria federal da Alemanha. Dez anos depois, a era Merkel continua.
Foto: picture-alliance/dpa/B. von Jutrczenka
Primeiro juramento
"Eu quero servir a Alemanha". A promessa foi feita por Angela Merkel no dia 22 de novembro de 2005, quando tomou posse como chanceler. Depois da vitória apertada nas eleições gerais, ela se tornou a primeira mulher e a primeira alemã da antiga parte oriental a ocupar o cargo. Merkel se tornou a chefe de governo, comandado pela grande coalizão formada entre os partidos CDU, CSU e SPD.
Foto: picture-alliance/dpa/G. Bergmann
O convidado do Tibet
O início da gestão de Merkel foi marcado por uma forma reservada de governar e por seu estilo de liderança "presidencial". Mas, em 2007, Merkel causou polêmica ao se reunir com Dalai Lama. O encontro gerou descontentamento em Pequim e fragilizou as relações entre Alemanha e China. A chanceler desafiou as preocupações e sinalizou querer se destacar como defensora de direitos humanos.
Foto: picture-alliance/dpa/M. Schreiber
Quem tem medo do cão de Putin?
Merkel é conhecida por sempre ser racional e se manter calma. O presidente da Rússia, Vladimir Putin, quis aparentemente testar os nervos da chanceler quando a recebeu na residência presidencial em Sochi, em 2007. Putin conseguiu revelar o ponto fraco de Merkel: ela tem medo de cães. Isso não impediu que o presidente russo deixasse o labrador Koni farejar os sapatos da chanceler.
Foto: picture-alliance/dpa/D. Astakhov
Resgate financeiro
Em situações de crise, Merkel age com frieza. Quando os mercados financeiros entraram em colapso em 2008 e ameaçaram prejudicar a economia alemã, a chanceler se empenhou na proteção do euro e na criação de fundos de resgate para as economias mais fracas do bloco europeu. Ela se destacou como eficiente gestora de crises, mas não escapou de receber críticas de países como Grécia e Espanha.
Foto: picture-alliance/epa/H. Villalobos
Caminho para o segundo mandato
Apesar do pior desempenho da aliança conservadora na história, Merkel venceu as eleições de 27 de setembro de 2009. Depois de se aliar ao Partido Social-Democrata (SPD), a chanceler estava pronta para iniciar o segundo mandato ao lado de outro parceiro, o Partido Liberal Democrático (FDP).
Foto: Getty Images/A. Rentz
Resposta rápida
Merkel que, como física, é conhecida por pensar de forma objetiva, não previu a catástrofe nuclear de Fukushima, no Japão. Denfensora da política nuclear na Alemanha, Merkel mudou de posição em tempo recorde. A extensão do prazo de funcionamento das usinas foi suspenso e a Alemanha iniciou o processo de colocar fim ao uso da energia nuclear.
Foto: Getty Images/G. Bergmann
O homem ao seu lado
Quem o reconheceria? Quem conhece sua voz? Há dez anos, o marido de Merkel, Joachim Sauer, professor de Química da Universidade Humboldt, em Berlim, se mantém discreto. Eles estão casados desde 1998.
Foto: picture alliance/Infophoto
Amizade em crise
As escutas de comunicações de políticos alemães por parte da Agência de Segurança Nacional (NSA), dos Estados Unidos, abalaram as relações da Alemanha com a Casa Branca. Até o celular de Merkel foi alvo de espionagem. Uma frase da chanceler ficou famosa: "Não é aceitável que países amigos espiem uns aos outros".
Foto: Reuters/F. Bensch
O paciente grego
O clube de fãs de Merkel é extenso, mas na Grécia é provavelmente menor. A hostilidade contra a chanceler alemã nunca foi tão grande como em 2014, no auge da crise da dívida grega. A imagem de velha inimiga ressurgiu, mas Merkel se manteve firme em relação à política de austeridade que previu cortes e reformas a serem cumpridos por Atenas.
Foto: picture-alliance/epa/S. Pantzartzi
Emotiva, às vezes
Tipicamente reservada, Merkel quebrou os protocolos durante a final da Copa do Mundo de 2014 no Rio de Janeiro. A chanceler federal alemã celebrou a vitória da Alemanha sobre a Argentina ao lado do presidente alemão, Joachim Gauck. Ela estava no auge de sua popularidade, assim como a seleção vitoriosa.
Foto: imago/Action Pictures
"Nós podemos fazer isso!"
Para Merkel, o direito de asilo a refugiados não pode ser limitado. "Nós podemos fazer isso" se tornou o credo da chanceler sobre a política alemã de acolhida aos migrantes que fogem de guerras e perseguições. Se o país dará conta da enorme demanda, isso já é uma pergunta ainda em aberto.
Foto: picture-alliance/dpa/S. Hoppe
"E agora, Merkel?"
Sexta-feira 13 – um massacre em novembro. A França está em situação de emergência e Merkel ofereceu "toda a assistência" ao país vizinho. O medo do terrorismo se espalha. Não há dúvidas de que esse é maior desafio de Merkel em dez anos no poder.