Desde John F. Kennedy, todos os presidentes americanos se encontraram com o líder católico. Algumas duplas ficaram famosas pelas suas boas relações, como Ronald Reagan e João Paulo 2º ou Barack Obama e Francisco.
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As relações entre os Estados Unidos e o Vaticano remontam aos tempos de George Washington. Elas foram formalmente interrompidas em 1867, em meio a fortes sentimentos anticatólicos nos Estados Unidos. Relações diplomáticas plenas só foram retomadas em 1984. Antes disso, e a partir dos tempos de Franklin D. Roosevelt, os presidentes mantiveram representantes pessoais no Vaticano.
Mas o primeiro presidente a visitar o Vaticano foi Woodrow Wilson, em 1919. Em janeiro daquele ano, ele estava em meio a uma visita de seis meses à Europa, então recém-saída da Primeira Guerra Mundial. Apesar de não haver a intenção inicial de visitar o então papa Bento 15, Wilson acabou se encontrando com o pontífice por sugestão de um cardeal americano. O gesto, afinal, era importante para agradar o crescente eleitorado católico nos EUA. A visita resultou no primeiro momento constrangedor entre um papa e um presidente americano, quando Wilson, que era presbiteriano, recusou-se a se ajoelhar na hora da benção final.
Passaram-se 40 anos até um papa e um presidente americano voltarem a se encontrar. Em 1959, João 23 recebeu Dwight D. Eisenhower no Vaticano. A demora se explica pelos problemas causados pela Grande Depressão, pela Segunda Guerra Mundial e também por uma certa má-vontade com o catolicismo em amplos setores da sociedade dos Estados Unidos. Porém, a Guerra Fria e um inimigo em comum – a União Soviética comunista – aproximaram os dois lados.
Em 1963, também no Vaticano, aconteceu aquele que é, até hoje, o único encontro entre um presidente católico dos Estados Unidos e um papa, quando Paulo 6º, empossado havia apenas duas semanas, recebeu John F. Kennedy (também o único presidente católico dos EUA). Kennedy cumprimentou o papa, mas não beijou sua mão. O gesto foi entendido como um sinal de distância, pois os sentimentos anticatólicos nos EUA haviam feito Kennedy declarar, ainda durante a campanha eleitoral, que "nenhum prelado católico vai dizer para o presidente, se ele for católico, como agir".
Paulo 6º também se tornou o primeiro papa a visitar os Estados Unidos, onde se encontrou, em Nova York, com o presidente Lyndon Johnson. Desde então, todos os presidentes americanos se encontraram com o líder católico, mas só em 1979 um papa visitou a Casa Branca, quando João Paulo 2º foi recebido por Jimmy Carter. Cinco anos depois, os dois estados retomaram as plenas relações diplomáticas, interrompidas desde 1867.
João Paulo 2º foi também o papa que manteve a relação mais próxima com um presidente dos EUA, no caso Ronald Reagan. O pano de fundo era, ainda, a Guerra Fria, e ambos eram ferrenhos adversários do comunismo. João Paulo 2º, como lembrou Reagan num encontro com ele em 1987, viveu sob o nazismo e o comunismo na Polônia.
João Paulo 2º, que teve um longo papado, encontrou-se ainda com George H. W. Bush, Bill Clinton e George W. Bush. Este também passou por uma situação constrangedora quando, em 2004, o papa, então já num estágio avançado do Mal de Parkinson, leu um discurso em inglês no qual, com a voz trêmula por causa da doença, condenava em termos duros a Guerra do Iraque.
Cordial foi a relação entre Barack Obama e Francisco, que tinham posições comuns em muitos temas. Obama não se cansava de elogiar o papa argentino, que chamou de exemplo moral. A boa relação trouxe também frutos políticos: a reaproximação entre os Estados Unidos e Cuba se deu em grande parte por intermédio do papa. Quando anunciaram o restabelecimento das relações diplomáticas, tanto Obama como o presidente cubano, Raúl Castro, agradeceram a mediação de Francisco.
A coluna Zeitgeist oferece informações de fundo com o objetivo de contextualizar temas da atualidade, permitindo ao leitor uma compreensão mais aprofundada das notícias que ele recebe no dia a dia.
Papa Francisco faz 80 anos
No aniversário do pontífice argentino, a DW relata alguns detalhes de sua trajetória, desde a vida familiar de Jorge Bergoglio, passando pelo arcebispado de Buenos Aires, a suas ideias reformistas para a Igreja Católica.
Foto: Reuters/T. Gentile
Descendente de imigrantes italianos
Jorge Mario Bergoglio (2º da esq.) nasceu em 17 de dezembro de 1936 na capital argentina, Buenos Aires, como o mais velho de cinco irmãos. Depois de trabalhar como técnico em química, aos 22 anos o descendente de imigrantes italianos filiou-se à Ordem dos Jesuítas e começou a estudar teologia e filosofia.
Foto: Reuters
Arcebispo democrático
Em 1998, aos 62 anos, Bergoglio foi nomeado arcebispo de Buenos Aires. O principal representante da Igreja Católica na metrópole argentina era conhecido por gostar de andar de metrô, sobretudo para conversar com os mais pobres.
Foto: picture-alliance/AP
Habemus Papam
Em 2013 o religioso argentino foi eleito pelo conclave no Vaticano, tornando-se o 266º líder da Igreja Católica. Como papa Francisco 1º, ele sucedeu ao alemão Bento 16, que renunciara por se sentir inapto a atender às exigências físicas e mentais do pontificado, devido à saúde frágil.
Foto: Reuters
Papa argentino
Jorge Bergoglio é o primeiro latino-americano a liderar, como bispo de Roma, os cerca de 1,2 bilhão de católicos em todo o mundo. Ele é também o primeiro jesuíta a ocupar o cargo.
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Avesso às formalidades
Ao contrário de seu predecessor, a aparência exterior papal não é tão importante para Francisco. Assim dispensou, por exemplo, os famosos sapatos vermelhos que Bento 16 tanto gostava de usar, como parte da vestimenta oficial do líder da Igreja.
Foto: Getty Images
Humilde
Em apenas três anos como líder da Igreja, Francisco já se destaca em relação aos antecessores por seu engajamento político. Durante as celebrações da Páscoa de 2016, ele lavou e beijou os pés de refugiados. Para o ritual de reconciliação, convidou também três muçulmanos que, no passado, haviam produzido armas para terroristas.
Foto: Reuters
Ponte entre as diferentes religiões
Em 2014 Francisco viajou ao Oriente Médio para reforçar a cooperação com clérigos muçulmanos e mobilizar contra a perseguição de cristãos e outras minorias religiosas na região. Na Turquia, prestou homenagem ao fundador da atual República, com uma visita ao mausoléu de Mustafa Kemal Atatürk.
Foto: Reuters/S. Nenov
Tolerante
Em 2015, Francisco se encontrou com Fidel Castro. O ex-ditador já deveria ter sido excomungado em 1960 por decreto papal, por estatizar todas as propriedades da igreja no país durante a Revolução Cubana. O papa conversou em Havana com o líder revolucionário de formação católica, morto em 25 de novembro de 2016.
Foto: picture-alliance/dpa/A.Castro
Rigoroso
Também em 2015, Francisco visitou os EUA e discursou perante o Congresso reunido no Capitólio, em Washington, como primeiro chefe da Igreja Católica. O argentino fez um apelo aos políticos para se lembrarem de suas raízes como imigrantes ao tratarem das questões dos refugiados, e defendeu a abolição da pena de morte no país.
Foto: Reuters/J. Ernst
Ativo na crise dos refugiados
Francisco visitou alguns campos de refugiados, como o localizado no porto de Mitilene, na ilha grega de Lesbos, em abril de 2016. Após a visita à Grécia, ele ofereceu a várias famílias de migrantes um novo lar no Vaticano.
Foto: Reuters/Press Office/Handout
Visão religiosa realista
Como papa, Jorge Bergoglio mantém o interesse pelas preocupações e necessidades do cotidiano humano. Ele se interessa por pesquisa e progresso científico – como nesta visita à unidade de terapia intensiva para prematuros de um hospital de Roma.
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Abertura da Igreja
Com propostas de reforma e uma visão conciliadora sobre homossexualidade, celibato e restrição do sacerdócio, Francisco inicia uma modernização da Igreja Católica, instituição frequentemente criticada como reacionária e alienada do mundo.
Foto: picture-alliance/dpa/S. Spaziani
Ecumenismo vivo
Assim, em setembro de 2016 o papa convidou representantes internacionais de diferentes religiões para um congresso da paz – também com o fim de reforçar a cooperação entre os líderes espirituais no combate ao terrorismo de fanáticos religiosos.
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Papa da modernidade
Mais de 10 milhões seguem o papa no Twitter, nas enquetes ele é mais popular do que Barack Obama, Angela Merkel e muitos outros políticos internacionais. Em seus três anos como líder dos católicos, Francisco trouxe novos ares para a Igreja sediada em Roma.