Presidente concentra poder como nenhum outro líder chinês desde Mao. Culto de personalidade é cada vez mais visível e afasta partido do princípio da "liderança coletiva".
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Xi Jinping, de 64 anos, escolhido pela revista The Economist o homem mais poderoso do mundo, é também o líder chinês que mais concentra poder desde Mao Tsé-tung, acumulando os cargos de chefe de Estado, comandante-em-chefe, secretário-geral do partido e membro principal do Comitê Permanente do Politbüro, para ficar só nos mais importantes.
O poder de Xi é tamanho e tão sem paralelo nos anos recentes que muitos analistas afirmam que, com essa situação, o Partido Comunista está se afastando do princípio da "liderança coletiva", criado por Deng Xiaoping justamente para evitar que uma pessoa concentrasse tanto poder como Mao Tsé-tung – e fizesse mau uso desse poder, como Mao com a Revolução Cultural.
Essa concentração de poder é visível no que muitos analistas chamam de o culto a Xi. A prática não é oficial, mas perfeitamente perceptível. Por exemplo na capa do Diário do Povo, o órgão de imprensa do Partido Comunista chinês. Ao longo dos anos, os novos membros do Comitê Permanente foram apresentados em pé de igualdade, dentro do espírito da liderança coletiva. Este ano, a capa trouxe uma enorme foto de Xi Jinping, e os demais membros, numa foto coletiva abaixo, quase não são visíveis.
A foto oficial do líder foi claramente retocada para que parecesse uma pintura, à semelhança dos antigos retratos de Mao. Ela pôde ser vista também na capa de vários outros jornais e revistas, até mesmo numa chamada China Sports News. E, em outdoors espalhados pela China e em souvenir de todos os tipos, as imagens de Xi e Mao aparecem lado a lado.
E não é só na capa do Diário do Povo e de outras publicações que Xi Jinping ganhou destaque. Durante o recente congresso do partido, o presidente foi oficialmente equiparado a Mao: o "pensamento de Xi Jinping sobre o socialismo com características chinesas para uma nova era" foi incluído nos estatutos do partido, a exemplo das ideias do velho timoneiro.
Às margens do congresso, uma exposição em Pequim lembrava os primeiros cinco anos de Xi Jinping à frente do país. O presidente estava no centro da mostra, com seções dedicadas aos seus feitos nas áreas de política externa, meio ambiente e combate à corrupção. Uma vitrine exibia a camiseta que o presidente Michel Temer entregou a Xi, autografada por Pelé.
Como observou o jornal The New York Times, o culto a Xi também se manifesta na disseminação da imagem do líder, que a propaganda do partido apresenta como paternalista e afetuoso. O presidente também é conhecido pelos chineses como Xi Dada, ou Tio Xi. Ele já fez visitas surpresas a lanchonetes, onde pagou a própria conta, e publicou um livro com suas experiências durante um período no campo, quando era jovem. A esposa de Xi, Peng Lyuan, é chamada de Mama Peng.
Tudo indica que Xi Jinping deverá determinar os rumos da China por muitos anos, bem mais até do que os próximos cinco do seu segundo mandato. Normalmente, a foto com os sete novos membros do Comitê Permanente do Politbüro sinaliza quem poderá ser o próximo presidente. Desta vez, porém, não havia nela nenhum possível sucessor.
A coluna Zeitgeist oferece informações de fundo com o objetivo de contextualizar temas da atualidade, permitindo ao leitor uma compreensão mais aprofundada das notícias que recebe no dia a dia.
Ai Weiwei: um artista e a política
Celebrado no Ocidente, escultor, performer e criador de instalações foi tratado como criminoso na China. Depois de quatro anos, Ai Weiwei recebeu o passaporte de volta. E a primeira viagem programada é para a Alemanha.
Foto: Getty Images
Visto alemão
No dia 24 de julho de 2015, o artista chinês Ai Weiwei divulgou em sua conta no Instagram uma imagem do visto que obteve para viajar à Alemanha. O escultor, performer e criador de instalações irreverente ficou proibido de deixar a China durante quatro anos. O artista quer viajar a Berlim para ver o filho de seis anos, que vive na Alemanha desde 2014.
Foto: https://instagram.com
Passaporte de volta
O artista plástico e ativista social recebeu o passaporte de volta no dia 22 de julho de 2015. Acusado de fraude fiscal pelas autoridades chinesas, Ai Weiwei ficou detido de abril a junho de 2011. Desde então, o documento estava confiscado. "Quando peguei o documento senti que meu coração estava em paz", disse em entrevista ao jornal britânico "The Guardian".
Foto: Instagram/Ai Weiwei
Flores pela liberdade
Ai Weiwei fez uma campanha de 600 dias para recuperar o passaporte. Ele fotografou diferentes ramos de flores na cesta de uma bicicleta em frente ao seu ateliê e divulgou as imagens diariamente em sua conta no Instagram.
Foto: https://instagram.com
"Berlin, eu te amo"
Proibido de deixar a China, Ai Weiwei começou a dirigir um filme via Skype com a ajuda de um produtor alemão. "Berlin, ich liebe dich" ("Berlim, eu te amo") deve ser lançado no Festival Internacional de Cinema de Berlim (Berlinale), em 2016. O filme, que faz parte da série "Cities of love", trata da relação do artista com seu filho, Ai Lao.
Foto: picture-alliance/dpa/L. Schulze
Superstar e provocador
Para muitos chineses, o escultor, performer e criador de instalações Ai Weiwei representa uma espécie de consciência social. Ele se engaja por maior liberdade de opinião em seu país e critica a repressão política de uma forma que alcança o grande público.
Foto: picture-alliance/dpa
Título revelador
A maior exposição de Ai Weiwei – "Evidence" ("prova") foi inaugurada em 2014 no museu Martin-Gropious-Bau, em Berlim. O título é pertinente, pois, em 34 esculturas e instalações, ele reflete sobre a realidade social da China. "Wooden stools", por exemplo, reúne 6 mil bancos de madeira no pátio interno do espaço de exposições, organizados de acordo com um reticulado geométrico.
Foto: Johannes Eisele/AFP/Getty Images
Tradição e modernidade
Os bancos, oriundos da dinastias Ming e Qing, foram coletados no norte da China pelo artista e seus colaboradores ao longo de vários anos. Antigamente eles compunham o inventário padrão das residências chinesas, sendo herdados de geração em geração, dentro das famílias. Desde a Revolução Cultural, contudo, os bancos não são mais peças únicas de madeira, e sim artigos de massa, de matéria plástica.
Foto: Mathias Völzke
81 dias
Sem mandado de prisão, em 2011 o artista foi mantido num presídio secreto fora de Pequim, vigiado 24 horas por dias por câmeras e policiais militares, com a luz acesa dia e noite. Acusado de sonegação de impostos, teve seu passaporte apreendido e só foi libertado após pressão internacional. Ele reproduziu essa cela com precisão em Berlim, intitulando a obra "81" – número de dias de seu cativeiro.
Foto: Johannes Eisele/AFP/Getty Images
Vigilância marmórea
Mesmo depois de libertado, o dissidente, hoje com 57 anos, continuou sob vigilância. Diante de seu ateliê em Pequim estão instaladas 17 câmeras, o Estado sabe sempre quem entra ou sai. Mas, pelo menos artisticamente, Ai Weiwei virou a mesa, esculpindo os aparelhos em mármore, com todos os detalhes: um símbolo da própria repressão política, através do filtro da arte.
Foto: Johannes Eisele/AFP/Getty Images
"Souvenir from Shanghai"
Até algum tempo atrás, o governo de Pequim ainda tentava se beneficiar da popularidade de Ai Weiwei. Ele foi encorajado a montar um estúdio em Xangai, como parte de uma gigantesca aldeia de artistas. Em 2011, como suas críticas desagradavam ao Partido Comunista, o ateliê já pronto foi demolido. Em Berlim, o artista expõe os destroços, dentro de uma cama de madeira tradicional chinesa.
Foto: Getty Images
Crustáceos ambíguos
Em protesto contra a demolição de seu estúdio, Ai Weiwei promoveu uma "festa de caranguejos", irritando Pequim mais uma vez. Pois a palavra chinesa para o crustáceo é foneticamente idêntica a "he xie", a "harmonia" tão exaltada como imagem ideal da sociedade chinesa pela propaganda do regime. Os caranguejos em Berlim são de porcelana.
Foto: Johannes Eisele/AFP/Getty Images
Bicicletas evocativas
Ai Weiwei mandou soldar 150 bicicletas para essa impressionante instalação. Ele não só lembra como esse meio de transporte está sendo extinto na China, em favor dos automóveis, mas também evoca um espetacular processo de fachada. Alguns anos atrás, um jovem foi preso por andar com uma bicicleta não registrada, sofreu maus tratos no cárcere e mais tarde chegou a ser condenado à morte.