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Zeitgeist: O novo conservadorismo verde na Alemanha

5 de outubro de 2017

O Partido Verde alemão surgiu de movimentos que se opunham ao conservadorismo representado por CDU e CSU. Mas, com o passar dos anos, esses polos antagônicos foram se aproximando.

Katrin Göring-Eckardt e Cem Özdemir
Katrin Göring-Eckardt e Cem Özdemir são nomes de ponta da ala conservadora dos verdesFoto: picture-alliance/dpa/R. Hirschberger

Uma das questões centrais nas negociações para a formação da possível nova coalizão de governo na Alemanha – e acompanhada com o devido interesse pela imprensa e pela opinião pública – é a da compatibilidade em nível federal dos partidos conservadores – a União Democrata Cristã (CDU) e a União Social Cristã (CSU) – com o Partido Verde.

Um exemplo em nível estadual está em andamento: no estado de Baden-Württemberg há desde maio de 2016 um governo comandado pelos verdes com os conservadores como parceiros de coalizão. E há ainda o estado de Schleswig-Holstein, onde os conservadores lideram uma aliança com os verdes e o Partido Liberal desde junho de 2017.

Mas analistas alertam: em nível federal, a questão é bem mais complicada. E um complicador fundamental dessa equação é a relação da ala esquerdista dos verdes com a ala mais à direita dos conservadores, principalmente com a CSU, o partido conservador da Baviera. As divergências em temas como política de refugiados e transportes parecem intransponíveis.

O Partido Verde não se formou de um dissidência de outro partido, mas a partir de diversos movimentos sociais – ambientalistas, pacifistas, feministas e, no caso da Alemanha comunista, pró-democracia. Nos seus primórdios, nos anos 1970, era sobretudo um movimento de protesto contra a energia nuclear, mas também contra o establishment e os partidos associados a ele – aí incluídos os conservadores.

Assim, no imaginário de muitos eleitores alemães, nada mais antagônico ao Partido Verde do que os conservadores CDU e CSU. Mas há alguns aspectos que costumam ser ignorados nessa associação.

Primeiro, o Partido Verde tinha uma ala conservadora já no seu início. Ela girava em torno principalmente do político Herbert Gruhl, que de 1969 a 1978 fora deputado federal pela CDU, a qual deixou por causa de divergências em relação à questão ambiental. No começo dos anos 1980, ele participou da fundação do Partido Verde. Cerca de um ano depois, deixou o partido, junto com outros ambientalistas conservadores.

Segundo, o Partido Verde há décadas passa por um processo de "desradicalização". Este teve início já no final dos anos 1980, com outra separação, a das forças da esquerda radical, o que ajudou a dar um caráter mais moderado à agremiação. Uma questão central daquela época, e que foi decisiva para a divisão, foi a disposição para participar de coalizões com outros partidos para chegar ao poder. O tom cada vez mais moderado acabou se convertendo em votos e, em 1998, os verdes chegaram ao poder federal na coalizão com o Partido Social-Democrata (SPD), no governo do chanceler federal Gerhard Schröder e com o verde Joschka Fischer como ministro do Exterior.

Terceiro, o fim prematuro do governo Schröder, em 2005, forçou os verdes a ampliar seu leque de coalizões para além do clássico parceiro SPD, e a CDU passou desde então a ser considerada. E já em 2008 surgia a primeira aliança com os democrata-cristãos, em Hamburgo, e depois com CDU e Partido Liberal no Sarre, em 2009. Ambas acabaram antes do fim da legislatura, mas mostraram que havia outras opções.

Quarto, há muito que os verdes têm uma ala conservadora, e ela é cada vez mais forte. Dela fazem parte nomes com Cem Özdemir, que, na condição de filho de imigrantes turcos, sempre deu mais importância à integração de estrangeiros na sociedade do que às clássicas questões ambientais, e a luterana Katrin Göring-Eckardt, que fala abertamente num novo conservadorismo verde, que engloba, por exemplo, casais homossexuais que vivem segundo valores religiosos e familiares.

Outro integrante dessa ala é o governador de Baden-Württemberg, Winfried Kretschmann. Este já governa numa aliança com a CDU e, assim como muitos outros verdes, elogiou abertamente as posições adotadas pela chanceler federal Angela Merkel durante a crise dos refugiados de 2015 – bem ao contrário de outros conservadores, os (ao menos em tese) aliados da CSU, que a criticaram de forma aberta e dura.

A coluna Zeitgeist oferece informações de fundo com o objetivo de contextualizar temas da atualidade, permitindo ao leitor uma compreensão mais aprofundada das notícias que recebe no dia a dia.

 

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