Estados Unidos chegaram a cogitar uma ação militar contra o país asiático, afirmam antigos funcionários do Pentágono. Mas a intervenção do ex-presidente Jimmy Carter levou a um acordo com o regime de Kim Il-sung.
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Os Estados Unidos estiveram muito perto de uma guerra com a Coreia do Norte em junho de 1994, por causa do programa nuclear do país asiático. Segundo declarações de antigos funcionários do Pentágono, o governo do presidente Bill Clinton cogitou a hipótese de atacar um pequeno reator nuclear em Yongbyon para impedir o desenvolvimento de armas nucleares.
Apesar de a opção ter sido levantada, ela não era a preferencial. Na avaliação do Pentágono, o ataque resultaria numa nova Guerra da Coreia e na morte de mais de 1 milhão de pessoas.
Robert Gallucci, que era o responsável por Coreia no Pentágono em 1994, contou anos mais tarde que, no momento em que Clinton e seus assessores avaliavam as opções, o telefone tocou. Do outro lado da linha estava o ex-presidente Jimmy Carter, que estava reunido em Pyongyang com o então líder coreano, Kim Il-sung.
Carter relatava que um acerto acabara de ser alcançado. Em seguida, Clinton e assessores viram Carter anunciar na CNN os termos do acordo que ele havia alinhavado com o líder norte-coreano, sem consultar antes o governo americano. Kim Il-sung (que morreria poucas semanas depois) concordava em congelar seu programa nuclear em troca de novos reatores de água leve, que não tinham condições de produzir plutônio altamente enriquecido, e petróleo.
Assim, a viagem de Carter a Pyongyang abriu caminho para a assinatura de um acordo bilateral, em outubro, no qual a Coreia do Norte concordava em abrir mão de produzir armas nucleares em troca de ajuda energética dos EUA, e encerrou uma crise que já durava 18 meses.
A implementação do acordo se mostrou bem mais difícil. Por causa da oposição do Congresso, os Estados Unidos nem sempre forneceram o petróleo prometido dentro do prazo. A construção de um dos dois novos reatores nucleares prometidos à Coreia do Norte só começou em agosto de 2002. O plano inicial previa que ambos estivessem funcionando em 2003.
Estados Unidos e Coreia do Norte logo começaram a trocar acusações, e as relações bilaterais, que deveriam se normalizar pelo plano inicial, foram piorando. Em outubro de 2002, já no governo de George W. Bush, uma delegação americana foi ao país asiático para confrontar os norte-coreanos com a acusação de que eles estariam enriquecendo urânio para a fabricação de bombas.
Em janeiro de 2003, a Coreia voltou a sair do Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares, no qual prometera se manter no acordo firmado por Carter. Em fevereiro de 2005, o país anunciou ter produzido armas nucleares. Em outubro de 2006, realizou seu primeiro teste nuclear.
A coluna Zeitgeist oferece informações de fundo com o objetivo de contextualizar temas da atualidade, permitindo ao leitor uma compreensão mais aprofundada das notícias que ele recebe no dia a dia.
O que o regime mostra na Coreia do Norte
A DW viajou à Coreia do Norte para descobrir o que há por trás da propaganda. Saímos às ruas com o acompanhante disponibilizado pelo governo e registramos o que vimos - ou nos deixaram ver - em Pyongyang.
Foto: DW/A. Foncillas
Árvores floridas
Os prédios da capital norte-coreana estão pintados com cores vivas, dando um ar de alegria à cidade. A época da floração da cerejeira contribui para a variedade cromática. O número crescente de automóveis nas ruas faz concorrência às bicicletas.
Foto: DW/A. Foncillas
Brincando no parque
Os clichês do mundo ocidental em relação à Coreia do Norte nos fazem esquecer que, além da devoção fervorosa aos seus líderes, a população não é muito diferente da de outras latitudes. Na semana de comemorações do Dia do Sol, é comum ver crianças praticando esportes em parques.
Foto: DW/A. Foncillas
Líder aclamado
Performances de todos os tipos oferecidas por crianças são um elemento-chave do lazer no país. A aparição do ditador Kim Jong-un no telão gera aplausos na plateia.
Foto: DW/A. Foncillas
Kimjongília e kimilsúngia
O culto à personalidade atinge o cúmulo com a orquídea batizada kimilsungia e a begônia kimjongilia, nomes que homenageiam o pai e avô do atual ditador. Nesta exposição de flores, trabalhadores de diferentes ministérios e universidades trouxeram flores que cultivam em seu local de trabalho.
Foto: DW/A. Foncillas
"Um dos cortes permitidos, por favor!"
O catálogo de cortes nos salões de cabeleireiros em Pyongyang oferece os 20 penteados recomendados no país. Já a barba é feita de forma convencional, com espuma e lâmina.
Foto: DW/A. Foncillas
Diversão para os ricos
Na capital há um imenso complexo de lazer para a classe rica. Lá há três piscinas e muitos restaurantes, que oferecem cerveja, comidas típicas do país e o típico kimchi, prato similar ao chucrute.
Foto: DW/A. Foncillas
Consumo caro
Modestas reformas econômicas têm permitido a abertura de supermercados, onde se pode encontrar uísque escocês, eletrodomésticos japoneses e roupas americanas de marca. Não é incomum os clientes pagarem com dólares ou cartões de crédito.
Foto: DW/A. Foncillas
Os jovens
Muitos jovens norte-coreanos frequentam cafés de luxo como qualquer outro jovem de uma capital europeia. Isso só se podem permitir os filhos da elite vinculada ao comércio exterior e com acesso a divisas internacionais. A jovem da foto estudou Finanças na Índia e defende que, em Pyongyang, não faltam opções de lazer.
Foto: DW/A. Foncillas
Esporte popular
O vôlei é um dos esportes mais populares do país. Este ginásio oferece instalações de alto nível.
Foto: DW/A. Foncillas
Internet a preço de sorvete
No Centro de Divulgação Científica aberto recentemente em Pyongyang, as pessoas podem jogar videogame e se conectar à internet "pela metade do preço de um sorvete", disse o guia. A internet é limitada a sites norte-coreanos, sem acesso a páginas de fora do país.
Foto: DW/A. Foncillas
Guarda de trânsito
Os uniformes são onipresentes no país. O controle de tráfego é feito principalmente por mulheres jovens vestidas com minissaias e botas.
Foto: DW/A. Foncillas
À espera do desfile
O Exército norte-coreano tem 1,2 milhão de soldados para uma população de 25 milhões de pessoas. A maior parte dos escassos recursos do país é destinada aos militares. Na foto, o desfile militar do Dia do Sol, em homenagem ao fundador do país, Kim Il-sung.
Foto: DW/A. Foncillas
Sempre sorrindo
Meninas aprendendo música em uma academia. Na Coreia do Norte, é comum este tipo de escola, que, segundo o regime, valoriza especialmente talentos em disciplinas artísticas e esportivas.
Foto: DW/A. Foncillas
Luxo subterrâneo
O metrô de Pyongyang é o mais profundo do mundo e serve como refúgio em caso de ataque. O luxo desta estação contrasta com os trens antiquados. Os usuários podem aproveitar o tempo de espera informando-se sobre o mais recente míssil lançado.
Foto: DW/A. Foncillas
Arquitetura e militares
A arquitetura da capital é tanto tradicional quanto moderna. Os novos edifícios são octogonais, ovais ou tem qualquer outra forma ousada. Eles se assemelham a um livro invertido se ali vivem acadêmicos, ou parecem uma tomada, se se destinam a cientistas.
Foto: DW/A. Foncillas
Meninos e futebol
Meninos jogam futebol em uma escola de órfãos na capital. Os responsáveis por eles garantem que as crianças ingerem 3.500 calorias por dia, mais do que necessita um esportista de elite em qualquer país do mundo.
Foto: DW/A. Foncillas
Propaganda por todo lugar
Cartazes de propaganda são comuns nas ruas de Pyongyang. Eles ressaltam a força do Exército, a necessidade de uma pátria unida contra o inimigo externo, dos trabalhadores como a base de um sistema ideológico que só existe aqui: a ideologia Juche.
Foto: DW/A. Foncillas
Passos firmes
Desfiles militares são atividades recorrentes no calendário da Coreia do Norte. O objetivo do governo é mostrar Forças Armadas bem equipadas, que agem com marcialidade.