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Zelenski diz que está pronto para discutir neutralidade

28 de março de 2022

Presidente afirma que tropas russas precisam deixar território ucraniano antes de assinatura de qualquer documento. Decisão também teria que passar por referendo.

Volodimir Zelenski
Zelenski em entrevista a jornalistas russosFoto: Ukrainian Presidential Press Office/AP/dpa/picture alliance

A Ucrânia está preparada para discutir a adoção de um status de "neutralidade" como parte de um acordo de paz com a Rússia, disse o presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, neste domingo (27/03), acrescentando que tal decisão teria que ser submetida a um referendo do povo ucraniano.

"Garantias de segurança e neutralidade, status não nuclear de nosso Estado. Estamos prontos para isso. Esse é o ponto mais importante", disse Zelenski.

Além disso, o presidente ucraniano confirmou que está disposto a aceitar o status neutro e não nuclear do país, como exige a Rússia, em troca de garantias de segurança.

A declaração foi feita a um grupo de jornalistas independentes russos, numa videochamada que se estendeu por 90 minutos. Os jornalistas haviam sido alertados pelas autoridades russas para não transmitir a entrevista. Zelenski falou em russo o tempo todo.

Condição: saída dos invasores

Por outro lado, Zelenski disse que a Rússia deve retirar suas tropas do país antes que qualquer documento seja assinado sobre a não adesão da Ucrânia à Otan.

Na mesma entrevista, Zelenski destacou que "é impossível" que os líderes do Reino Unido, dos Estados Unidos, da Polônia e da Turquia assinem qualquer documento como possíveis fiadores enquanto a guerra estiver em curso.

"Os fiadores não assinarão nada se houver tropas", garantiu Zelenski.

"Isso está sendo trabalhado profundamente, mas não quero que seja outro documento como o Memorando de Budapeste" de 1994, que concedeu garantias de segurança à Ucrânia em troca da renúncia ao arsenal nuclear herdado da antiga União Soviética e que Zelenski disse que nunca se materializou. "Estamos interessados em que seja um acordo sério", enfatizou.

Vladimir Putin lançou ofensiva contra a Ucrânia em 24 de fevereiro, mas avanço russo enfrentou resistência dos ucranianosFoto: Attila Kisbenedek/AFP

Integridade

Zelenski ressaltou ainda que está disposto a se sentar com Putin "em qualquer lugar do mundo" para chegar a um acordo "com assinaturas, selos e até sangue" no documento. "Isso bastaria para iniciar o processo de retirada. As tropas devem ser retiradas, os fiadores vão assinar tudo e fim", frisou.

No entanto, Zelenski indicou que mesmo assim o trabalho não estará concluído, porque a Ucrânia terá de alterar sua Constituição, uma vez que esta consagra a aspiração do Estado de aderir à Otan e que uma mudança pode demorar até um ano.

Quanto à exigência russa de que a Ucrânia reconheça a península da Crimeia como parte da Rússia e a independência das autoproclamadas repúblicas de Donetsk e Lugansk, Zelenski chegou a declarar de forma vaga que essa é uma questão que "deve ser abordada e resolvida".

No entanto, depois da entrevista, ele refutou a possibilidade de fazer concessões nesse sentido e enfatizou que uma das suas prioridades é assegurar a soberania e integridade territorial da Ucrânia.

Zelenski ainda salientou que outros pontos que estão na mesa de negociações com a Rússia, como a proteção do idioma russo na Ucrânia, estão sendo discutidos, mas explicou que está disposto a aceitar um compromisso.

Invasão russa da Ucrânia devastou cidades e fuga de 10 milhões de pessoasFoto: Alexander Ermochenko/REUTERS

Negociações "difíceis"

Delegações da Rússia e da Ucrânia deverão se encontrar na Turquia entre terça-feira e quarta-feira, numa nova rodada de negociações presenciais, anunciou no domingo David Arakhamia, um dos negociadores ucranianos.

Na semana passada, representantes diplomáticos da Rússia e da Ucrânia reconheceram  que as negociações estão sendo "muito difíceis" e que ainda não há consenso nas questões mais relevantes, mais de um mês após o início da invasão russa.

"As posições estão convergindo em pontos secundários. Mas nas principais questões políticas, continuamos afastados", disse Vladimir Medinsky, negociador-chefe de Moscou.

"O processo de negociação é muito difícil", disse, por sua vez, o ministro das Relações Exteriores da Ucrânia, Dmytro Kuleba, em comunicado, adiantando que não há qualquer "consenso" com Moscou nesta fase das conversações.

Medinsky por sua vez, disse que Moscou deseja um "tratado abrangente", que inclua suas exigências de neutralidade e desmilitarização da Ucrânia, bem como o reconhecimento da soberania russa da Crimeia e da independência das regiões separatistas do Donbass.

Ainda no domingo, o chefe da inteligência militar da Ucrânia, Kyrylo Budanov, disse que Putin pretende dividir a Ucrânia;.

"Na verdade, é uma tentativa de criar as Coreias do Norte e do Sul na Ucrânia", disse ele, referindo-se à divisão da Coreia após Segunda Guerra Mundial.

A Rússia lançou em 24 de fevereiro uma ofensiva militar na Ucrânia que já matou pelo menos 1.119 civis, incluindo 139 crianças, e feriu 1.790, entre os quais 200 crianças, segundo os mais recentes dados da ONU, que alerta para a probabilidade de o número real de vítimas civis ser muito maior.

A guerra provocou a fuga de mais de 10 milhões de pessoas, incluindo quase 3,9 milhões de refugiados para países vizinhos e cerca de 6,5 milhões de deslocados internos. A ONU estima que cerca de 13 milhões de pessoas necessitam de assistência humanitária na Ucrânia.

jps/lf (EFE, Lusa, Reuters)

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