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Zika pode tratar câncer cerebral, sugere estudo

27 de abril de 2018

Em testes com camundongos, cientistas da USP conseguiram eliminar tumores no sistema nervoso central em estágio avançado. Pesquisa utilizou dois tipos de câncer comuns em crianças. Próximo passo é testar em humanos.

Grippe
Foto: picture-alliance/dpa/M. Gambarini

O vírus zika, cuja epidemia figurou como emergência sanitária de alcance global até pouco tempo atrás, pode ser eficaz contra o câncer. É o que revelou um estudo brasileiro publicado nesta quinta-feira (26/04) na revista científica Cancer Research, renomada na área oncológica.

Cientistas da Universidade de São Paulo (USP) testaram pela primeira vez em animais a eficácia do vírus no tratamento de tumores cerebrais agressivos que atingem principalmente crianças.

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As cobaias, camundongos de baixa imunidade, receberam células humanas com estágio avançado de tumores. Após injetar pequenas quantidades do zika no encéfalo desses animais, os pesquisadores observaram uma redução significativa da massa tumoral e o aumento da sobrevida dos bichos.

Em 20 de 29 animais tratados com o zika, os tumores regrediram. Em sete deles, o tumor foi eliminado totalmente. Em alguns casos, o vírus também foi efetivo contra metástases (quando o câncer se espalha para o resto do organismo) – ou eliminou o tumor secundário, ou impediu seu desenvolvimento.

A pesquisa utilizou principalmente linhagens celulares humanas derivadas de dois tipos de câncer que afetam o sistema nervoso central: o meduloblastoma e o tumor teratoide rabdoide atípico, conhecido pela sigla AT/RT. Ambos atingem crianças de até cinco anos.

Em 2016, a Organização Mundial de Saúde (OMS), assim como o Ministério da Saúde brasileiro, declarou a epidemia de zika uma emergência sanitária, após um aumento extraordinário de casos de microcefalia em recém-nascidos relacionados com a infecção pelo vírus.

Ao descobrirem que as mesmas células que o zika costuma atacar em fetos – causando a má-formação cerebral – estão presentes também em alguns tumores, os cientistas passaram a testar a eficácia do vírus em terapias de cânceres cerebrais.

"Nossos estudos e de outros grupos mostraram que o vírus zika causa microcefalia porque infecta e destrói as células-tronco neurais do feto, impedindo que novos neurônios sejam formados. Foi então que tivemos a ideia de investigar se o vírus também atacaria as células-tronco tumorais do sistema nervoso central", explica Oswaldo Keith Okamoto, um dos principais autores do estudo.

A pesquisa concluiu que o zika possui "uma afinidade ainda maior pelas células tumorais do sistema nervoso central do que pelas células-tronco neurais sadias", que são os principais alvos do vírus em cérebros de fetos expostos durante a gestação. "E, ao infectar a célula tumoral, ele a destrói rapidamente", acrescenta Okamoto.

Segundo o cientista, os resultados sugerem que vários tipos de tumores agressivos do sistema nervoso central podem vir a ser tratados com algum tipo de abordagem envolvendo o zika, no futuro.

"Antes, porém, precisamos investigar melhor quais tipos de tumores respondem a esse efeito oncolítico [que destrói as células cancerosas], quais os benefícios do tratamento e quais os efeitos colaterais da exposição ao patógeno", afirma Okamoto.

Os cientistas esperam agora testar a terapia não só em animais, mas em pessoas. "Estamos muito animados com a possibilidade de testar o tratamento em pacientes humanos e já estamos conversando com oncologistas", diz Mayana Zatz, professora do Instituto de Biociências da USP.

EK/abr/ots

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