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Zuckerberg pede desculpas perante o Senado dos EUA

11 de abril de 2018

Fundador do Facebook volta a se desculpar por escândalo de uso indevido de dados de usuários por consultoria e promete trabalhar para garantir integridade das próximas eleições, incluindo Brasil.

"Foi meu erro, e sinto muito. Eu comecei o Facebook, eu o administro, e sou responsável pelo ocorrido", disse ZuckerbergFoto: Getty Images/AFP/S. Loeb

O fundador e presidente-executivo do Facebook, Mark Zuckerberg, enfrentou nesta terça-feira (10/04) uma série de questionamentos durante um depoimento aos comitês de Justiça e do Comércio, Ciência e Transportes do Senado dos EUA. Ao longo da audiência, os senadores criticaram o modelo da rede social e as medidas tomadas para proteger os dados de usuários.

A rede social está sob intensa pressão por causa de um recente episódio envolvendo o uso indevido de dados de pelo menos 87 milhões de usuários por meio de um aplicativo manipulado pela consultoria política Cambridge Analytica. A audiência foi muito concorrida. Dos cem senadores da Casa, 44 compareceram.

O depoimento de Zuckerberg foi iniciado às 15h15 (horário de Brasília) e se estendeu por quase cinco horas. Ao longo da sessão, o executivo, que demonstrou tensão e desconforto com algumas das perguntas dos senadores, desculpou-se várias vezes pelo uso indevido de dados de usuários e prometeu que a plataforma está trabalhando para proteger melhor as informações.

"Não adotamos uma visão ampla o suficiente de nossa responsabilidade, e foi um erro enorme. Foi meu erro, e sinto muito. Eu comecei o Facebook, eu o administro, e sou responsável pelo ocorrido", disse Zuckerberg.

Esforços

O depoimento não trouxe muita novidade em relação a comunicados anteriores da empresa ou à prévia do depoimento de Zuckerberg que fora divulgada na segunda-feira. O executivo voltou a repetir o que já havia sido dito: que a empresa se responsabiliza pelas violações de dados, que estão sendo realizadas investigações para apurar novas irregularidades e que o Facebook está trabalhando para solucionar os problemas e informar seus usuários sobre a política de privacidade.

O executivo também prometeu trabalhar para garantir a integridade de eleições em países como Brasil e Índia, que têm pleito marcados em 2018, assim como os EUA, que vai passar uma eleição legislativa em novembro. De acordo com o Facebook, dos 87 milhões de usuários afetados pelo uso indevido de dados pela Cambridge Analytica, 443 mil estão no Brasil.

Zuckerberg também confirmou que a empresa está colaborando com o procurador especial Robert Mueller, que investiga suspeitas de interferência da Rússia nas eleições americanas de 2016 e possíveis ligações de membros da campanha do presidente Donald Trump com o Kremlin. A Cambridge Analytica supostamente colaborou com a equipe do atual mandatário durante a corrida eleitoral.

Questionado em audiência no Senado americano, Zuckerberg informou que vários funcionários da empresa foram ouvidos para as investigações, mas evitou dar detalhes para não quebrar a confidencialidade.

Críticas

Na abertura da audiência, o senador Chuck Grassley afirmou que o escândalo dos dados mostrou que os usuários de redes sociais "não entenderam por completo a quantidade de seus dados que são coletados, protegidos, transferidos, usados e abusados".

"A história da empresa que você criou representa o sonho americano, mas você tem a responsabilidade de não transformar a vida dos usuários em um pesadelo de privacidade", afirmou o senador republicano John Thune, presidente do comitê que convocou Zuckerberg.

Durante o depoimento, o senador Dan Sullivan também pareceu enviar uma advertência ao Facebook. "Veja a história desta comissão. Quando uma empresa se torna muito grande e poderosa, a tendência é regular ou dividir", disse.

Em outros momentos, no entanto, alguns senadores demonstraram pouca familiaridade com tecnologia e desconhecer características do Facebook. O senador Ted Cruz sugeriu que a rede social criasse uma ferramenta para que os usuários pudessem baixar todos os seus dados pessoais da rede social. "Já fizemos isso", afirmou Zuckerberg, lembrando que o recurso está em funcionamento desde 2010.

Rússia

Parte do interrogatório a Zuckerberg se concentrou nos esforços do Facebook para evitar a divulgação de informações falsas e a alegada influência da Rússia nas eleições presidenciais de 2016.

"Há pessoas na Rússia cujo trabalho é tentar explorar nossos sistemas, e outros sistemas cibernéticos", disse. "Então, é como uma corrida armamentista. Eles se tornam melhores, e nós temos que nos tornar melhores também."

Zuckerberg também apontou que rede social está reforçando sua equipe. Hoje, são 15 mil pessoas trabalhando na área de segurança. Devem ser 20 mil até o fim de 2018.

Na segunda-feira, Zuckerberg realizou uma visita ao Congresso para reuniões privadas com vários legisladores, que lhe explicaram que as pressões em favor de uma maior regulação das redes sociais estão aumentando.

O senador democrata Bill Nelson disse à imprensa, depois de se reunir em seu gabinete com o criador do Facebook, que o empresário parecia estar levando a questão "muito a sério". "Acredito que ele entendeu que uma maior regulação pode estar próxima", afirmou.

Enquanto Zuckerberg era submetido a interrogatório dentro do Senado, um dos jardins externos do Capitólio era palco de um protesto. Com dezenas de bonecos de papelão com a imagem de Zuckerberg, manifestantes reclamavam da demora da empresa em adotar medidas para proteger os dados de seus usuários.

Recompensa

Antes do depoimento de Zuckerberg, o Facebook anunciou que pagará recompensas a quem denunciar o uso indevido de dados pessoais por aplicações terceiras.

Segundo a empresa, o novo programa 'Data Abuse Bounty' irá "recompensar as pessoas com conhecimento em primeira mão e prova de casos em que um aplicativo na plataforma do Facebook reúne e transfere dados pessoais para outra parte para venda, roubo ou uso para uma finalidade específica, fraude ou para fazer influência política".

Nesta quarta-feira, Zuckerberg enfrentará mais uma audiência no Congresso, desta vez diante de uma comissão da Câmara de Representantes.

JPS/efe/rt/dpa/ap

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